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Natal Com Teto reúne militantes em protesto pela moradia

terça-feira 28 dezembro 2010 - Filed under Notícias do Rio

Por Alan Tygel, do SOLTEC/UFRJ

O começa do ato, em frente ao emblemático 234 da Mem de Sá. O prédio foi palco de uma ocupação seguida de violenta ação da polícia no dia 13 de dezembro.

O começa do ato, em frente ao emblemático 234 da Mem de Sá. O prédio foi palco de uma ocupação seguida de violenta ação da polícia no dia 13 de dezembro

Na luta pela moradia no Rio de Janeiro, o Natal deste ano foi celebrado mais cedo. No dia 21 de dezembro, o ato Natal Com Teto lembrou que, numa época em que todos estão em suas casas trocando presentes com a família, milhares de pessoas na cidade maravilhosa não têm uma moradia digna para fazer o mesmo. Abandonados nas ruas, estes cidadãos sofrem ainda com maus tratos e truculência dos governos que deveriam protegê-los e oferecer-lhes uma moradia, respeitando o artigo 6o da Constituição Federal.

“Eu já falei, vou repetir, sou um sem-teto e daqui não vou sair!”

A concentração para o ato começou às 16h, em frente ao número 234 da Av. Mem de Sá, no centro do Rio. O local havia sido palco de um violento despejo uma semana antes, no dia 13 de dezembro, quando 7 militantes foram presos, muitos levaram tiros de bala de borracha e a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo dentro do prédio, onde se encontravam famílias com crianças e mulheres grávidas. O ato, portanto, era também um protesto contra todas as arbitrariedades e irregularidades cometidas pelos policiais nesse dia. Veja o depoimento de Pedro Guilherme sobre o ato.

“Na 1a não deu, na 2a também não, agora na 3a vai vencer a ocupação!”

Às 17h, as cerca de 70 pessoas que estavam em frente ao prédio atravessaram a rua, com tambores e instrumentos musicais, e cantaram ao lado da porta – hoje cimentada – do imóvel abandonado. Participavam da manifestação moradores de ocupações, militantes da luta pela moradia e de outros movimentos, e simpatizantes em geral.

Manifestantes e seus instrumentos, mostrando o caráter pacífico do ato

Manifestantes e seus instrumentos, mostrando o caráter pacífico do ato

Seguido de perto por dois carros da polícia, o movimento seguiu pela rua Henrique Valadares, entrando à direta na rua Gomes Freire. Lá, um segundo marco da luta pela moradia: um prédio em que famílias foram desalojadas depois de vários anos, e hoje serve de garagem ao Hotel Granada.

“Temos direito, a essa ocupação, prédio abandonado, 20 anos sem função!”

O cozinheiro Zulu, que trabalha num bar em frente ao hotel, comenta: “Acho certíssimo. Milhares de prédios abandonados, e de madrugada aqui no Centro vemos cada vez mais moradores de rua. Na Presidente Vargas então, nem se fala. E os poderosos, cada vez mais poderosos.”

“Morar é um direito, lutar é um dever.”

Por volta da 18h, o ato chega à terceira ocupação removida: a Carlos Marighela, no número 48 da rua do Riachuelo. O prédio foi desocupado este ano, na esteira da “revitalização da lapa” e do choque de ordem, e pertence ao mesmo dono da Mem de Sá 234: o INSS, maior latifundiário urbano do Rio.

“INSS, a culpa é sua, o povo vai dormir na rua!”

Logo em seguida, o momento mais tenso da manifestação. O militante Telvan, que ia atrás da marcha em sua bicicleta, foi tocado pela viatura que vinha logo atrás e caiu no chão. Um princípio de confusão se armou, mas rapidamente a situação se acalmou e marcha seguiu em frente.

Manifestante de bicicleta cai ao ser tocado pela viatura que seguia o ato

Manifestante de bicicleta cai ao ser tocado pela viatura que seguia o ato

Na praça dos arcos da Lapa, o transeunte Sílvio comentou: “Vemos tantos prédios abandonados, e tantas pessoas na rua. Esses prédios têm de ser ocupados, mas com condições decentes de moradia, não adianta o imóvel caindo aos pedaços.”

“Um despejo, outra ocupação!”

Ao chegar na calçada em frente à sala Cecília Meirelles, um morador de rua contou ter sido expulso por policiais de sua casa na Grota, no complexo do Alemão. Teve que vir para a rua, na lapa. Neste local, mais um prédio abandonado. Uma ocupação de 40 anos de existência foi removida e o prédio, na rua da Lapa, ao lado da sala Cecília Meirelles, hoje serve de moradia a ratos e baratas.

Às 18:10h, o ato chega à rua do Passeio, e para em frente ao quinto prédio abandonado, ao lado do número 70. A manifestante Ibi, da UFRRJ, comenta: “Sair pra rua, colocar o pé no chão é importante. Acho que deveria haver mais articulação nesse momento, mas a manifestação é muito importante para a tomada de consciência. Agora é ver como vamos além.”

Manifestantes com os Arcos da Lapa ao fundo. O monumento está sendo reformado, mas só no trajeto da passeata pudemos ver 5 prédios abandonados.

Manifestantes com os Arcos da Lapa ao fundo. O monumento está sendo reformado, mas só no trajeto da passeata pudemos ver 5 prédios abandonados.

O manifestante Madureira, da associação de moradores do Morro do Estado, e do comitê de favelas lembra a situação crítica de 400 famílias de Niterói, ainda desabrigadas 7 meses após a tragédia da chuva de abril. “A luta deve ser unificada, também com movimentos maiores como MST e MTD”. Veja o depoimento de Isabel Lessa sobre a relação entre as lutas do campo e da cidade.

Já na calçada da Av. Rio Branco, Telvan, que foi derrubado da bicicleta por uma viatura, reclama da irregularidade cometida pelo policial que andava de moto na calçada. “Fica quieto, faz o que eu to mandando!”, respondeu o responsável pela segurança dos manifestantes.

“INSS sem vergonha!”

Pouco depois das 18:30h, a manifestação chega ao prédio do INSS, o destino final. Neste momento, 9 policiais, em 4 carros e uma moto acompanham os manifestantes. Sirenes ligadas, o barulho era insuportável e provocava os manifestantes, que não conseguiam se ouvir. “Estamos aqui para proteger vocês”, repetiam os policiais. Mas pra que a sirene? “Estamos aqui para proteger vocês.” Comandante Yuri, do 13 BPM, perguntado sobre o que achava ser o motivo da manifestação, se disse imparcial: “Sou neutro, imparcial. O protesto é válido, mas tem que ser dentro lei. Se eles acham que algo está errado, têm que procurar a Justiça.”

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O comandante Yuri pode até achar que é neutro. Mas não é, assim como a tal Justiça que ele recomendou que procurássemos. Ao escolher defender o direito à propriedade do INSS em detrimento do direito de moradia dos sem-teto, o comandante Yuri e a Justiça escolheram seu lado.

Cabe a nós, movimentos sociais, continuar lutando pelo nosso lado, que é o lado da grande maioria. E no dia em que triunfarmos, a Justiça e os policiais dirão com orgulho que não são neutros: estamos do lado do trabalhador.

“Guerreiros Urbanos, na luta ocupando!”

Pouco antes das 19h, a ato seguiu para a Cinelândia, onde se formou uma roda cultural. A manifestação, totalmente pacífica, era acompanhada por vários curiosos e agora por 10 policiais, ao lado de 5 viaturas e uma moto. As grossas gotas de chuva ajudam a finalizar o ato, sem antes um aviso importante: a próxima reunião do Comitê de Solidariedade às Ocupações Urbanas será no dia 18/01/2011, no pátio central do IFCS. Todos lá!

Veja entrevistas com participantes do ato feitas pelo Boletim MST Rio.

Veja mais fotos do ato.

Acompanhe o blog pelamoradia.wordpress.com e veja matérias sobre o ato, as ocupações e muito mais.

2010-12-28  »  alantygel

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