Bloco “Se Benze Que Dá” agita a Maré no Carnaval
sexta-feira 11 março 2011 - Filed under Notícias do Rio
Por Alan Tygel, do SOLTEC/UFRJ, com colaboração de Gizele Martins
Pelo direito de ir e vir. Esse é o lema do bloco Se Benze Que Dá, que há 7 anos desfila pela conjunto de favelas das Maré. Segundo os membros do bloco, “a meta principal é conseguir desfilar por todas as comunidades da Maré, derrubando os muros e barreiras visíveis e invisíveis impostos pela violência. Loucos? Se benze que dá!”.
A concentração para o desfile começou às 15h, no museu da Maré. Por volta da 17h, os tamborins começaram a esquentar e a sair pelas ruas. Nas ruas, os carros passavam e a curiosidade era nítida. À medida em que as ruas iam se apertando, ficava mais complicado controlar os vai-e-vem de carros e motos. Alguns motoristas passavam de cara amarrada e acelarando, outros mais amáveis, acenando. Com cartazes dizendo “Vem pra rua morador”, “Muro não”, “Muro é o caralho, “Exigimos respeito às favelas” e “Se benze que dá”, o bloco foi aos poucos ganhando as ruas da Maré e também seus moradores.
Outro lema do grupo é: “Vem pra rua morador”. Com isso, mais do que um simples bloco de carnaval entre os cerca 400 que desfilaram no Rio este ano, o Se Benze Que Dá se constitui como instrumeto de luta política. Chamar os moradores para a rua tem um significado especial dentro do conjunto de favelas da Maré. A ideia é “questionar as dificuldades de circulação interna de seus moradores entre as diferentes comunidades que constituem a Maré”, além de “interferir e transformar a sua realidade”.
A letra do samba coletivo deste ano (confira a letra completa) exalta os sete anos do bloco e lembra eventos ocorridos recentemente. Um deles foi a invasão de uma feira por um caveirão, cujo saldo foram barracas destruídas e mercadorias perdidas. O muro construído em torno da Maré também foi alvo do samba. Chamado pelo governo eufemisticamente de proteção acústica, o samba afirma: “Proteção Acústica Nossa voz não vai calar / Esse muro pra que serve? / Esconder e Maquiar”. Desta forma, juntando protesto e carnaval, o bloco afirma: “A Maré é a avenida do bloco Se Benze que Dá.”
Crianças e idosos eram os mais animados com a passagem do bloco. Alguns casais ficavam nas janelas, alguns se arriscavam a descer. Outros até se juntavam ao bloco por alguns metros. Saindo da Baixa do Sapateiro, o bloco cruzou as fronteiras do Parque Maré e Nova Maré, para terminar na Nova Holanda. Ao final, já com a noite caindo, dezenas de moradores se juntaram ao bloco, ao lado daqueles que haviam seguido desde o início. Para os moradores, mais uma batalha na luta por respeito às favelas e pelo direito de ir e vir; para quem veio de fora, um passeio por um mundo que vive sob a cortina midiática da violência, em que nada além dela é mostrada. A Maré é feita de gente disposta a transformar o lugar que vive, é isso que se vê estando lá.
Mas… quem disse que o carnaval acabou? Neste sábado (12/03/2011), tem o segundo desfile do Se Benze Que Dá. A concentração é às 16h no Museu da Maré (Av. Guilherme Maxwell, número 26, em frente ao antigo SESI). É só saltar na passarela 7 e entrar à direita de quem vem do Centro. O trajeto deste sábado começa no Museu (Baixa do Sapateiro), e segue passando pelo Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Vila dos Pinheiros, Salsa e Merengue, Vila do João e Conjunto Esperança.
Se benze que dá!
Maiores informações em http://www.blocosebenzequeda.com. Mais fotos do bloco, em outras manifestações: http://picasaweb.google.com/sebenzequeda .
2011-03-11 » alantygel
17 março 2011 @ 16:47
Caros companheiros do MST,
sou Kleber, militante e ritmista do bloco “Se Benze que Dá” e queria registrar minha gratidão pela ótima mátéria que vocês fizeram sobre o bloco. Estamos de braços abertos pra vocês!
Forte abraço e a luta continua…
17 março 2011 @ 19:14
Ótima matéria!
Se Benze que Dá!
Abs, Leonardo Melo