Boletim do III ENA – N.3 – 18 de maio de 2014
domingo 18 maio 2014 - Filed under Boletins
Boletim do III ENA – 18 de maio de 2014
Acompanhe a transmissão ao vivo da plenária final, nesta segunda (19) no site do ENA.
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Mulheres à frente da agroecologia
Em vez de sino, um batuque em galões de plástico e latas deu o primeiro chamado. O coro forte seguiu. No lugar de água benta, banho de cheiro da Amazônia. Nada de filas, a hora era de roda. Assim começou a plenária de Mulheres no III Encontro Nacional de Agroecologia, na tarde deste sábado (17/5). Em pauta a desigualdade de gênero e o machismo que está entranhado em cada relação, dentro e fora de casa, uma das principais lutas da agroecologia, que conta com centenas de grupos de mulheres em todo o Brasil.
Uma a uma, participantes de diferentes delegações falaram para uma plateia de cerca de 700 pessoas – mais de 80% de mulheres – em declarações que conectaram os conflitos vividos, trazendo à tona desde a dificuldade de acesso às políticas públicas até as relações com maridos e filhos. Por outro lado, as falas trouxeram a força da luta feminista dentro do movimento de agroecologia.
Instalação pedagógica do Território Bico de Papagaio discute conflitos no campo
Na manhã do segundo dia do III ENA (Encontro Nacional de Agroecologia), 17 de maio, diálogos em instalações pedagógicas expuseram a realidade e os desafios da agroecologia nos diferentes territórios do Brasil. O Território Bico de Papagaio, Tocantins, conduziu o debate em um desses espaços e teve como protagonistas as mulheres quebradeiras de coco organizadas e organizadoras de espaços, associações, cooperativas e movimentos de resistência ao avanço predatório de grandes empresas sobre a natureza e a vida de suas populações.
No início, os participantes foram convidados a lançar o olhar para a sociobiodiversidade da região através de produtos típicos colocados no centro da sala e, em seguida, perceber, por meio de encenações e falas, a realidade de mulheres que sobrevivem da quebra e beneficiamento do coco babaçu.
A agroecologia brasileira avança e faz história
É muito difícil reproduzir os fatos e informações de um encontro nacional, com representantes de praticamente todos os estados brasileiros. Hoje, por exemplo, os territórios visitados pelas caravanas agroecológicas, com seus representantes, discutiram as situações locais, os problemas e as práticas vencedoras. O detalhe é que são 13 tendas. E todas funcionam ao mesmo tempo.
À tarde, pelo menos 800 mulheres – e alguns homens – se reuniram na plenária do Grupo de Trabalho de Mulheres, da Articulação Nacional de Agroecologia – o lema é: Sem Feminismo não há agroecologia. Para quem conhece a realidade do campo e das agricultoras familiares sabe que não se trata de uma metáfora. Algumas representantes viajaram longas distâncias, deixaram suas casas, os filhos, o cuidado da casa, da roça, do trabalho cotidiano.
Dossiê mostra que perímetros irrigados violam direitos de comunidades rurais
A segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê vultosos recursos – R$ 6,9 bilhões – para a expansão dos perímetros irrigados no semiárido. A princípio, a notícia foi muito comemorada, já que significa dobrar a área existente hoje. Atualmente, são 193.137 hectares irrigados no semiárido e, com os novos projetos, novos 200 mil hectares estão previstos. Uma pesquisa inédita coordenada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) mostra, porém, que as expectativas para o futuro não são nada animadoras. Em outras regiões brasileiras, as extensas áreas irrigadas artificialmente são responsáveis por violações de direitos humanos e expansão do agronegócio. As consequências mais graves são a expulsão dos pequenos agricultores e contaminação por agrotóxicos.
Exames médicos feitos em 545 trabalhadores de regiões próximas a cinco perímetros – dois no Rio Grande do Norte e três no Ceará -, realizados ao longo de um ano e meio, apontam que 30,3% apresentavam intoxicação aguda. Mais: a prevalência de câncer é 38% maior entre os agricultores que moram em perímetros irrigados, em decorrência da chegada de grandes empresas do agronegócio, com uso intensivo de agrotóxicos.
Seminário temático do III ENA cria coletivo nacional de agricultura urbana
Com a presença de representantes de diversas regiões do país, o seminário temático sobre agricultura urbana decidiu criar um coletivo nacional para articular as iniciativas da sociedade civil e debater a construção da política pública federal sobre o tema. O encontro aconteceu na manhã deste domingo no III Encontro Nacional de Agroecologia, que discutiu também as especificidades e a importância da produção agroecológica nas cidades.
“A agricultura urbana não é uma simples transposição da realidade rural para cidade. No contexto urbano é reinventada, é transformada e cumpre outras funções”, disse Daniela Almeida, do Grupo de Estudo de Agricultura Urbana da UFMG – AUÊ! e da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de Belo Horizonte.
Este boletim é de autoria da equipe de comunicação popular do III ENA.
2014-05-18 » alantygel