UENF homenageia Cícero Guedes
terça-feira 20 agosto 2013 - Filed under Notícias do MST Rio
Espaço que abriga a feira agroecológica da universidade vai receber o nome do militante morto em janeiro deste ano.
por Hermes de Oliveira (Mineiro)
No dia 13 de agosto ocorreu a inauguração do espaço agroecológico Cicero Guedes dos Santos, na Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF. Este espaço é o reconhecimento do papel desempenhado pelo militante do movimento dos trabalhadores rurais sem terra na universidade.
Há seis anos no pátio do CCTA é realizada a feira agroecológica que tinha como seu expoente principal o militante Cicero Guedes. Lá ele vendia seus produtos, os frutos de muito trabalho dedicado a produção de alimentos saudáveis, em uma luta que teve inicio com a ocupação da Usina São João, em 1997, e nunca mais parou.
A inauguração deste espaço é uma confirmação disso, pois a feira que se iniciou em 2005 em uma praça pública e em 2007 foi levada para dentro da universidade a convite de professores para fazer parte dos trabalhos de extensão da mesma continua no mesmo espaço. Entretanto, a feira é apenas um dos trabalhos que eram desenvolvidos por Cicero em parceria com a universidade.
Relação de Cícero com a universidade ia além da feira
O Sítio Brava Gente, nome dado por ele ao seu lote no PA Zumbi dos Palmares, abriga experimentos de professores da área de agrárias da universidade, e é um lugar agradável onde alunos da universidade têm ido para fazer mutirão como forma de apoiar a família do companheiro e como forma de aprender técnicas agroecológicas.
A relação do militante não era apenas na condição de produtor agroecológico, em todas as lutas dos estudantes que teve oportunidade ele estava, por isso o reconhecimento da sua importância vem dos estudantes, dos professores da universidade e dos trabalhadores. Cicero não via distinção entre um e outro, via apenas a injustiça contra a qual deveria lutar.
Em 2005, partindo de uma proposta de disputa do sindicato dos trabalhadores rurais, 35 agricultores dos assentamentos Zumbi dos Palmares, Che Guevara, Ilha Grande e Antonio de Farias, e alguns trabalhadores do corte de cana, iniciaram um processo de reuniões quinzenais para discutir as possibilidades de atuação. Todos os participantes tinham algum nível de atuação militante nas respectivas comunidades.
No entanto era um momento inédito na região, pois aquele grupo nunca tinha se reunido para discutir seus problemas. Sua atuação era dispersa e só se juntavam nos momentos de luta. No processo de discussão sobre o sindicato apresentou-se um momento oportuno para se discutir os problemas comuns aos assentamentos da região e consequentemente a busca de soluções.
Esse processo de discussão identificou na comercialização o principal problema/ou o problema comum, sendo assim acordado que iriam buscar resolver este problema independente de eleição de sindicato. As reuniões e busca de solução duraram os meses de janeiro, fevereiro, março e abril, neste meio tempo uma equipe foi conhecer a loja da agricultura familiar em Muriaé-MG, a Feira da Agricultura Familiar e Reforma Agrária em São Mateus-ES.
Mesmo com dúvidas, a feira é criada
A saída viável encontrada naquele momento foi a criação de uma feira. Muitas dúvidas e discordâncias perpassaram as discussões e uma delas era de que não daria certo porque não faz parte da cultura dos povo de Campos dos Goytacazes comprar em feira tendo em vista que tem poucas feiras na cidade.
Mesmo com as dúvidas, no dia 29 de abril de 2005 foi criada a feira na praça do parque Tamandaré. No primeiro momento ficou estabelecido que ficariam naquele lugar de forma experimental por três meses, prazo que logo foi estendido ficando a feira em funcionamento no mesmo local por dois anos, demonstrando a sua viabilidade.
No entanto a feira mudou de local devido às investidas da prefeitura de forma sutil para retirá-la de lá. Toda semana era uma luta para que se colocasse banheiro químico no local, quando isso se mostrou insuficiente a prefeitura se colocou a disposição para fazer o transporte dos produtos para a feira. Os feirantes tinham um custo semanal de 120,00 com frete para a feira e uma arrecadação média de 1500,00 bruto, quando a prefeitura passou a fazer o transporte ela faltava pelo menos uma vez por mês transformando o custo médio por mês de 500,00 em um prejuízo de pelo menos R$1500,00 pois a prefeitura não avisava quando não iria fazer o transporte.
Outro problema do local eram os meses de férias escolares, em que o movimento diminuía muito. Esses problemas fizeram com que amigos e defensores da reforma agrária na UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense – abrissem a possibilidade de a feira ser realizada dentro da universidade como projeto de extensão.
Hoje a feira acontece já há 8 anos, dentre eles dois no parque Tamandaré e 6 na UENF, sem perspectiva de acabar. Outras duas feiras acontecem atualmente em espaços universitários sendo no IFF – Instituto Federal Fluminense campus centro e campus Guarus.
Em 2011 a APRUMAB – Associação de Produtores Rurais de Marrecas e Babosa, começou a operar dois projetos de comercialização dos produtos dos assentados em Campos através dos Programas de Aquisição de Alimentos, o PAA, e do Programa Nacional de Alimentação Escolar.
2013-08-20 » alantygel