Feira reafirma necessidade da reforma agrária no Rio de Janeiro
quarta-feira 11 dezembro 2013 - Filed under Notícias do MST Rio
por Alan Tygel, do Boletim do MST RJ
Durante dois dias, assentados e assentadas da reforma agrária expuseram os produtos de seu trabalho no Largo da Carioca, centro do Rio. Objetivo foi dialogar com a população e mostrar a importância de uma reforma agrária popular no contexto atual.
Foi apenas a quarta edição da feira, mas os números dão o tom de um evento que já se consolidou no Rio de Janeiro: 30 toneladas de alimentos, sendo 11t industrializados e 19t frescos, 110 agricultores e agricultoras, 2 cooperativas do RJ, 6 cooperativas de outros estados, e uma estimativa de 50 mil visitantes em dois dias.
Esses foram os números da IV Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, realizada nos dias 9 e 10 de dezembro, no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro. Mas para Andrea Matheus, umas das coordenadoras da feira, isso não foi o mais importante:
“A feira cumpriu seu objetivo fundamental, de seguir pautando a reforma agrária e a necessidade de se olhar para os assentamentos. Mostramos para os cariocas que as áreas de reforma agrária do nosso estado são capazes de produzir alimentos diversificados e saudáveis. Para além da questão financeira, das vendas, o importante é a oportunidade de dialogar com a população sobre o sentido da luta pela terra.”
Produtos industrializados foram novidade
A novidade deste ano foi a vinda dos alimentos industrializados – arroz, feijão, laticínios, sucos – de 6 cooperativas ligadas ao MST no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. “Assim podemos mostrar que a capacidade do MST vai além da produção in natura, e ao mesmo tempo apontamos que o nosso estado precisa de investimentos para a construção de agroindústrias. Se não olharem para os nossos assentamentos, vai sempre precisar vir de fora.”, explica ela.
Andrea conta que o movimento já aprovou a construção de uma agroindústria para beneficiamento da cana na região Norte, e já tem pronto o projeto para outra na Baixada Fluminense, dedicada à cadeia da mandioca. “É necessário avançar na construção de agroindústrias no nosso estado”, complementou.
Para participar do evento, agricultores dos cerca de 30 de assentamentos do MST em todo o estado vieram para a capital com sua produção. A eles, se juntaram camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores e da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro. Andrea explicou a importância deste momento para os camponeses:
“A feira tem um aspecto interessante, que é o de colocar os assentados em contato com o povo da cidade grande. Por um lado, sentem as exigências e curiosidades dos consumidores; por outro, têm a oportunidade de dialogar e de contar da realidade do campo. Tem gente que anda dizendo que a reforma agrária não é mais necessária. Mas isso não se sustenta, porque a realidade do campo e da cidade mostra isso. No Rio de Janeiro, a necessidade da reforma agrária é muito clara, e a feira reafirma isso.”
Contra Reforma Agrária
A avaliação do MST, tanto a nível nacional quanto no Rio de Janeiro, é de que a situação da reforma agrária é péssima. “Temos poucas perspectivas de saírem novos assentamentos, e temos muita gente acampada produzindo como se fosse assentada. Mas sem a posse da terra, a pessoa fica sem perspectiva de vida.”, disse a coordenadora. Para Marcelo Durão, da coordenação nacional do MST, o momento é de “contra reforma agrária, pois estamos com dificuldades de conquistar novas áreas, e perdendo outras já conquistadas.” No Rio de Janeiro, o último assentamento em áreas do movimento foi concedido em 2007.”
Este ano, a feira recebeu o nome do militante Cícero Guedes. Ele coordenava o acampamento Luis Maranhão, em Campos, e foi assassinado em janeiro deste ano. “A feira mantém viva a memória do Cícero. Ele sempre pautou isso com as famílias, sempre falava da importância das feiras. O trabalho dele foi essencial pra chegarmos a uma feira desse tamanho hoje.”, conta Andrea.
Cícero gostava de mobilizar as famílias antes das feiras, ajudando na preparação da produção. Para ele, além da reforma agrária e do direito à alimentação saudável, a questão da agroecologia era fundamental. “Homenagear o Cícero hoje é reafirmar a feira como instrumento para pautarmos os direitos humanos, alimentação saudável, reforma agrária, e sobretudo a vida. Ele sempre falava da importância de doar os alimentos, para que mais pessoas tenham acesso aos frutos da reforma agrária.”, lembra Andrea. Segundo ela, quando o MST iniciou seu trabalho no Rio de Janeiro, em Campos, no ano de 1997, as feiras eram só de doação de alimentos. “O importante era dialogar com a população. Depois é que começaram a vender, pois a produção precisava dar sustento às famílias.”
Elisângela Carvalho, do Setor do Educação, também lembrou a importância de Cícero para feira: “Ele está presente nesta feira, não vamos deixar que sua memória se apague. Cícero nos ensinou a todos os dias nos indignarmos com as injustiças, com o uso de agrotóxicos envenenando nosso povo. Ele, que tanto alegrava esta feira com seus gritos de ordem, sempre nos dizia que o mais importante aqui não era vender os produtos, mas dialogar com a população, e dizer que o capital nos mata todos os dias e que é possível fazer uma mudança.”
A feira foi encerrada por uma mística celebrada pelo Pe. Geraldo, da Comissão Pastoral da Terra de Nova Iguaçu. A todo momento, ele reforçou que “a terra não é coisa, a terra é mãe”. E evocou os regimes da Bolívia e Equador, que incluíram em suas constituições o conceito do Bem-Viver. O padre declarou apoio à reforma constitucional no Brasil: “Essa que está aí já foi estragada por muita gente.”
Geraldo finalizou a mística lembrando o legado dos militantes do MST assassinados na luta pela terra: “Nós, com Cícero e Regina, e todos que semearam a terra com seu sangue, temos o dever de seguir sua luta.” E entoou: “Põe a semente na terra / não será em vão / não te preocupe a colheita / plantas para o irmão.”
A feira acontece sempre em torno do dia 10 de dezembro, em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Marina dos Santos, do MST, explica que a luta pela reforma agrária é em si uma luta por direitos humanos: “Queremos repartir a terra para que todos tenham direito ao trabalho, direto a produzir e consumir alimentos saudáveis. Isso está na nossa constituição como direito humano.”
Ainda por conta da data, familiares de Cícero Guedes receberam no dia 9 o Prêmio João Canuto para defensores dos direitos humanos, concedido pelo Movimento Humanos Direitos (MHuD).
2013-12-11 » alantygel
12 dezembro 2013 @ 17:13
Parabéns a todo os companheiros do MST pela realização de mais uma Feira da Reforma Agrária! Comprei alguns produtos que meus familiares gostaram. Seria importante realizar todo mês uma feira deste porte. Os cariocas precisam de produtos sem agrotóxicos e os agricultores merecem ter espaço para comercialização.
A terra deve pertencer para quem nela trabalha!
12 dezembro 2013 @ 17:14
Parabéns para todos os companheiros do MST pela realização de mais uma Feira da Reforma Agrária! Comprei alguns produtos que meus familiares gostaram. Seria importante realizar todo mês uma feira deste porte. Os cariocas precisam de produtos sem agrotóxicos e os agricultores merecem ter espaço para comercialização.
A terra deve pertencer para quem nela trabalha!
12 dezembro 2013 @ 20:02
[…] Feira reafirma necessidade da reforma agrária no Rio de Janeiro […]
12 dezembro 2013 @ 21:39
Quando vcs terão um espaço fixo? Uma lojinha, ou uma barraca numa feira, ou ao menos uma feirinha mensal? Os produtos são ótimos… adorei o Terrinha, a muçarela, a cachaça Socialista, o licor de mel do seu Carlos…
13 dezembro 2013 @ 9:45
Que alegria ver os frutos da terra e da coragem dos trabalhadores e trabalhadoras do MST.
Viva a Reforma Agrária,
abraços,
Sueli Bellato