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Justiça Federal decreta falência da Usina Sapucaia

terça-feira 8 maio 2012 - Filed under Notícias do Rio

Paulo Renato Pinto Porto

Durante algumas décadas, a Usina Sapucaia chegou a ser sinônimo de solidez e potência como a principal referência na produção de açúcar e álcool em Campos e no Estado do Rio. Na última quinta-feira, entretanto, a sentença do juiz Marco Antônio Ribeiro Moura Brito, da 3ª Vara Cível de Campos, decretou o atestado de óbito da unidade industrial após um longo processo de insolvência até chegar ao estado terminal que culminou com a sua falência.

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A decretação da massa falida cabe apelação em segunda instância após a publicação da sentença no Diário Oficial. Caso seja indeferido o recurso, caberá ao recuperador judicial proceder o levantamento do patrimônio e débitos da empresa para depois realizar a sua liquidação.

No decreto de falência, o patrimônio da empresa é usado para pagar as dívidas na liquidação. Se o valor do patrimônio da usina for menor que os débitos, há uma ordem preferencial no pagamento dos credores. Primeiro, devem ser pagos as dívidas trabalhistas, depois as públicas (impostos e multas) e, por último, os credores privados.

Na sentença judicial, contida em 11 páginas, o juiz assinala que os credores trabalhistas recusaram a proposta do pedido de recuperação da usina e existe a previsão do pagamento do crédito integral dos valores devidos aos trabalhadores em até 30 dias depois do processo de alienação da indústria. O conjunto das dívidas da usina é estimado em R$ 70 milhões a serem pagos a cerca de 2 mil trabalhadores, impostos e fornecedores.

As atividades industriais da Sapucaia estão paralisadas desde 2008. Atualmente, só funciona na empresa o setor administrativo com poucos gestores e funcionários, que cuidam das atividades agrícolas (as terras encontram-se arrendadas), a única fonte de geração de renda da unidade, que já manteve cerca de 3 mil empregados, somando-se os que trabalhavam no parque industrial e na lavoura canavieira de propriedade da usina.

Em 2010, teve inicio o agravamento da saúde financeira da usina, quando seus diretores Fernando Carvalho Brito e José Aldael chegaram a se reunir na prefeitura com o então presidente do Fundecam, Eduardo Crespo, e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Orlando Portugal, a fim de encontrar alternativas para a situação da unidade industrial, que já na safra daquele ano dava claros sinais de falta de fôlego e ameaçava a paralisar suas atividades. Não houve êxito nas negociações entre o poder público e os representantes do setor privado.

Em julho do ano passado, ex-empregados da usina que passaram a integrar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) se instalaram em barracas ao redor da unidade industrial, cobrando dívidas e salários em atraso.

Indústria teve longo período de solidez

Fundada em 1884 com o nome de “Engenho Central de Sapucaia”, a Usina Sapucaia S/A recebeu esta denominação em 1945, sob o controle acionário de João Cleofas de Oliveira. O grupo Carvalho Britto adquiriu o controle acionário e administrativo em 1980.

O longo período de solidez econômica da Sapucaia começou a dar sinais de em dificuldades no começo da década passada com o acúmulo de dividas. A empresa já chegou a moer até 1,7 milhão de toneladas de cana por safra e tem como principal ativo suas terras de sua propriedade, uma área de aproximadamente 70 mil hectares. Pelo menos, 50% da cana processada na indústria era de sua propriedade.

As causas do processo de aceleramento da crise envolvem uma sucessão familiar tumultuada que não manteve o mesmo nível de gestão, gerando um processo de descapitalização que implicou em defasagem tecnológica do parque industrial. Por outro lado, uma grande cheia em 2007 reduziu bastante a oferta de cana na região e os atravessadores passaram a adquirir importância elevando os custos.

O melancólico ponto a que chegou hoje a Usina Sapucaia contrasta com a pujança do seu apogeu quando tinha como foco o mercado externo, posição privilegiada adquirida por conta de um parque industrial bem calibrado que lhe permitia produzir açúcar de padrão de elevada qualidade para mercados mais exigentes.

Representantes do setor sucroalcooleiro consideram o estado falimentar da Sapucaia como uma grande perda para Campos e a região. “É a situação pior que poderia acontecer. Não sei se o processo é irreversível, mas se não for cabe a todos nós unirmos forças para a retomada das atividades da usina, já que não se conseguiu se viabilizar através do processo de recuperação judicial”, afirmou o presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), Eduardo Crespo.

Segundo Crespo, o ocaso da Sapucaia resultou de um modelo de gestão que não foi repensado a tempo pelos gestores. “Creio que eles não tenham acordado ou acordado muito tarde, inclusive na questão da relação com os fornecedores”, observou.

 

2012-05-08  »  alantygel

Talkback x 2

  1. Boletim36 | MST Rio
    9 maio 2012 @ 0:22

    […] Justiça Federal decreta falência da Usina Sapucaia […]

  2. Luiz Fernando Barcellos de Azevedo
    2 maio 2013 @ 13:55

    Boa tarde, uma pena ver um parque industrial com podencial incrivel de
    produção e mais saber que muitos funcionários estão sem respostas de seus direitos trabalistas, e esperam uma data ou ao menos ter acesso se quer como andam os trâmites desse processo, gostaria se possivél for obter informações através do e-mail sobre o que realmente esta ocorrendo, desde já agradeço pois sou um desses funcionários e ficarei
    muito grato por esse gesto, fico aguardando.

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Re: Justiça Federal decreta falência da Usina Sapucaia







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