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Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

17 de Abril marcado com debate sobre a violência no campo e na cidade

quarta-feira 20 abril 2011 - Filed under Notícias do MST Rio

por Alan Tygel, com colaboração e fotos de Luiza Chuva

Na data em que comemoramos o Dia Internacional da Luta Camponesa (17/04), foi retomado no Odeon o projeto Domingo é Dia de Cinema. A histórica sala de exibições do centro do Rio foi palco de um programa especial neste dia de lembranças tão intensas. Sob o tema A VIOLÊNCIA NO CAMPO E NA CIDADE: DUAS FACES DA MESMA MOEDA, foi exibido o filme “Tropa de Elite II”, seguido de um debate entre Marcelo Freixo, MC Leonardo e Marina dos Santos (MST), além de Sandro Rocha, ator do filme.

Domingo é dia de Cinema 1

Domingo é dia de cinema é um projeto que existe há 11 anos, organizado por professores de pré-vestibulares populares, em parceria com o cinema Odeon. O público foi formado em sua maioria por estudantes destes cursos, mas contou ainda com militantes de movimentos sociais do campo e da cidade.

Além da programação divulgada, o evento contou ainda com algumas surpresas. Antes da exibição do filme, foi feita uma homenagem aos mortos e desaparecidos da ditadura militar, já que em 1o de abril completaram-se 47 anos do Golpe 1964. Foram homenageados também os lutadores Sem Terra que deram sua vida na luta pela terra em Eldorado dos Carajás, há exatos 15 anos, em 17 de abril de 1996. As homenagens foram conduzidas por atores da Cia. Ensaio Aberto.

Domingo é dia de Cinema 6

Em seguida, foi homenageado o grande JJ, professor de literatura nos pré-vestibulares comunitários da Mangueira e da Maré, que faleceu em dezembro passado. E encerrando as homenagens, duas músicas de Gonzaguinha foram tocadas por Isadora Medella, Marina Chuva e Flavia Belchior: Dias de Santos e Silvas e Sorriso nos Lábios.

À exibição do filme, seguiram-se as falas dos debatedores. Marcelo Freixo, deputado estadual (PSOL-RJ), é caricaturado no filme com o personagem Diogo Fraga. Começou abordando a questão das milícias, tema principal do filme: “Com a recente prisão do vereador Deco (PR-RJ), todos os políticos milicianos citados na CPI das Milícias (presidida por Freixo) já foram presos. No entanto, a estrutura continua intacta: Vans, gato-nets e venda de gás ainda são controlados pelas milícias. A milícia não é mais dita como mal menor, mas ainda é tratada como tal”.

Domingo é dia de Cinema 4

Freixo classificou ainda a luta contra as milícias como parte de uma luta maior, a disputa pelo modelo de cidade e de país: “As milícias, a instalação da usina TKCSA em Santa Cruz e o latifúndio representam um modelo excludente de cidade e de país. E não é este modelo que queremos.” Freixo falou ainda sobre as Unidades de Polícia Pacificadora, que segundo ele não devem ser analisadas sob a ótica da segurança pública. Mais uma vez, ele a coloca como opção do modelo de cidade que queremos: “A UPP representa a gestão militar dos lugares pobres, o policiamento da vida comunitária, e não o policiamento comunitário.”

E finaliza denunciando o prefeito Eduardo Paes, que já afirmou que as milícias seriam um modelo interessante de segurança comunitária: “Não existe crime organizado fora do estado. A SEOP (Secretaria de Ordem Pública) é a prova disso. As milícias representam a Ordem, assim como é a política da prefeitura”.

Sandro Rocha, que representa o policial miliciano no filme, se disse envergonhado pela classe artística. “Em outras épocas, este salão estaria lotado de artistas para um dia tão especial. Hoje, não vejo nenhum artista famoso.” Sandro criticou ainda a tentativa de censura da novela Amor e Revolução, que retrata as barbáries cometidas pela ditadura militar no Brasil: “Mostrar bunda pode, tortura não. A única coisa proibida na televisão brasileira é fazer pensar”.

Domingo é dia de Cinema 5

Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST, trouxe para a reflexão do Dia Internacional da Luta Camponesa uma série de dados sobre a violência no campo. “Estamos lembrando hoje 15 anos de impunidade do massacre de Eldorado. Mas os massacres de Corumbiara, Felizburgo, e os assassinatos de Dorothy Stang, Elton Brum, e tantos outros também seguem impunes.” Marina trouxe dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT): quase 1600 mortes em conflitos agrários nos últimos 30 anos, e apenas 88 pessoas levadas à julgamento, com condenação de 20 mandantes.

Ainda citando os dados da CPT, Marina disse que, em média, por ano 2709 famílias são expulsas de suas terras, 63 pessoas são assassinadas por jangunços e milícias, 13813 pessoas são desepejadas pelo estado, seja no campo ou na cidade, 422 pessoas são presas por lutarem pela terra, em 765 conflitos relacionados à luta pela terra. Além disso o Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo libertou mais de 30000 trabalhadores em situação análoga à escravidão entre 2003 e 2009, a grande maioria em Campos do Goytacazes (RJ). E finalmente, o dado mais impressionante: hoje no Brasil, vivem 5 milhões de famílias sem-terra.

Marina finalizou lembrando Oziel Alves, executado de joelhos, gritando “Viva a Reforma Agrária, Viva o MST”. E citou Dom Pedro Casaldáliga: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar!”

Domingo é dia de Cinema 2

MC Leonardo finalizou a mesa, colocando a questão da criminalização da favela. “Qual a importância de um cara que vende droga na favela? A vida dele vale menos do que o fuzil que ele carrega.” Leonardo lembrou a gravação das cenas de Tropa de Elite, quando a filmagem de uma simulação de baile funk terminou em sequestro da equipe. A cena surreal misturou armas de mentira e de verdade, traficantes de mentira e de verdade, e policiais de mentira e de verdade, num ambiente onde não era mais possível diferenciar uns dos outros.

E terminou com uma sugestão à presidenta Dilma: “O PAC deveria era fazer a Universidade Federal da Rocinha, Universidade Federal do Alemão e Universidade Federal da Maré!”

2011-04-20  »  alantygel

Talkback

  1. MST Rio – Boletim de Notícias
    22 abril 2011 @ 21:05

    […] 17 de Abril marcado com debate sobre a violência no campo e na cidade […]

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Re: 17 de Abril marcado com debate sobre a violência no campo e na cidade







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