Crimes no PA são frutos da impunidade, afirma Dom Pedro Casaldáliga
quarta-feira 1 junho 2011 - Filed under Notícias do Brasil
Mais um episódio da guerra no campo. Assim Dom Pedro Casaldáliga define o assassinato dos líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido na semana passada no Pará.
A entrevista é de Eleonora de Lucena e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 31-05-2011.
Fundador da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário, o bispo ganhou notoriedade internacional ao denunciar brutalidades de madeireiros, policiais e grandes proprietários rurais no período da ditadura militar.
Agora, aos 83 anos, o bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT) segue fazendo o seu diagnóstico do país.
Eis a entrevista.
Folha de São Paulo: Qual o significado do duplo assassinato no Pará?
Dom Pedro Casaldáliga: A morte de José Claudio e da Maria do Espírito Santo não é um fato isolado. É mais um episódio da guerra no campo. É fruto da impunidade e da corrupção marcantes sobretudo no Pará, campeão em violência no campo, em desmatamento e queimadas.
FSP: Qual é a situação dos conflitos agrários?
DPC: Simplificando, com uns traços panorâmicos, poderíamos dividir o nosso Brasil em três. Primeiro, o Brasil hegemônico, que está a serviço do agronegócio, depredador, monocultural, latifundista, excluidor dos povos indígenas e do povo camponês. Fiel à cartilha do capitalismo neoliberal. Uma oligarquia política tradicionalmente dona do poder e da terra.
FSP: Quem fica do outro lado?
DPC: O povo da terra indígenas, camponeses da agricultura familiar, ribeirinhos, extrativistas, sem terra consciente de seus direitos e organizado em diferentes instâncias de sindicato, de associação e respaldado por grupos militantes solidários do movimento popular, das pastorais sociais, de intelectuais e artistas, de universitários, de certas ONGs.
FSP: Quem é o terceiro grupo?
DPC: É uma maioria média desinformada ou mal informada, que não vincula as lutas do campo com as lutas da cidade, no dia a dia da sobrevivência. Que não percebe ainda que a reforma agrária é uma luta de todos.
FSP: Qual é o papel do Estado?
DPC: O Estado continua omisso frente a três grandes dívidas: a reforma agrária, a política indigenista, a política doméstica e ecológica do consumo interno.
FSP: Como é o movimento dos trabalhadores rurais hoje em comparação com o período da ditadura militar?
DPC: Hoje, evidentemente, o Brasil está numa democracia, pelo menos formal. As organizações do povo da terra têm uma relativa liberdade de ação. O MST é um caso emblemático. Os governos do PT pelo menos não satanizam essa luta.
FSP: Qual é o papel da Igreja Católica nesse movimento? Como a orientação mais conservadora do Vaticano interfere?
DPC: A Igreja já não deve assumir, como nos tempos da ditadura, uma atuação de suplência abrangente. A Igreja deve continuar sendo -e talvez mais do que nunca, pela ambiguidade oficial e internacional- uma Igreja servidora e profética. Que não se omita nunca ante o clamor dos pobres.
2011-06-01 » alantygel
1 junho 2011 @ 2:33
[…] Crimes no PA são frutos da impunidade, afirma Dom Pedro Casaldáliga […]
17 junho 2011 @ 16:01
[…] uma Igreja servidora e profética. Que não se omita nunca ante o clamor dos pobres. Fonte: http://boletimmstrj.mst.org.br/crimes-no-pa-sao-frutos-da-impunidade-afirma-dom-pedro-casaldaliga/ […]