O Canecão (e o bingo) são da UFRJ!
terça-feira 9 novembro 2010 - Filed under Notícias do Rio
Segmentos universitários defendem a criação, no local, de um espaço cultural público e democrático. A luta de mais de 40 anos para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) reaver o terreno onde irregularmente funcionava a casa de espetáculos Canecão, em Botafogo, finalmente acabou. Depois de idas e vindas na justiça, os ocupantes entregaram as chaves do imóvel, em 20 de outubro. Uma surpresa agradável foi que, no dia seguinte, 21, ainda foi conquistada pela universidade a reintegração de posse do espaço vizinho ao Canecão onde chegou a operar, também de forma irregular, um bingo. Por conta disso, transformou-se em comemoração, no próprio dia 21, uma passeata antes prevista como parte da campanha de retomada do Canecão. Organizada pela Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind) em conjunto com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a manifestação, que tinha caráter reivindicatório, ganhou ares de festa.
No dia 9 de julho, com a unidade dos segmentos universitários, foi realizado um grande ato-show pela retomada do espaço da universidade. Diversos grupos e artistas apresentaram-se para uma plateia que chegou a quase mil pessoas circulando pelo campo da Educação Física, na Praia Vermelha. O ato-show foi encerrado com a apresentação da Velha Guarda da Portela. Com um público ainda maior, um segundo ato-show, no dia 15 de outubro, tendo como grande atração a sambista Teresa Cristina, reforçou a campanha.
Por fim, os ocupantes do Canecão receberam da Justiça o prazo final de 18 de outubro para entregar o prédio às autoridades da UFRJ (o que se concretizou no dia 20). Com esta retomada, finaliza-se um ciclo de lutas e inicia-se outro pautado pela defesa da gestão pública e democrática deste espaço em benefício de uma cultura sem interesses comerciais.
Anderson Tavares, estudante de História e integrante do DCE Mário Prata, afirmou que o movimento tinha por objetivo chamar a atenção da comunidade e da população para que os espaços restabelecidos pela UFRJ sejam utilizados para a produção de cultura popular. “É importante que o Canecão seja acessível a todos”, frisou. Ele também criticou a reitoria: “A reitoria vem dizendo que quer fazer um novo contrato para a locação desse espaço com outra empresa privada. Esse modelo de gestão nós não queremos”, afirmou.
De parar o trânsito
Ao som da bateria do bloco carnavalesco “Simpatia é quase amor”, e usando palavras de ordem, a comunidade iniciou a caminhada que começou na Av. Pasteur, seguindo pelas ruas Dr. Xavier Sigaud e Lauro Müller. Nas ruas, populares ajudavam a dar o tom de comemoração à manifestação. Das sacadas de alguns apartamentos era possível notar moradores aplaudindo o movimento e dançando ao som do bloco. Em frente à casa de espetáculos, os estudantes e professores prenderam um grande cartaz que diz: “Adufrj e Centros Acadêmicos na Praia Vermelha: Por um espaço cultural, público e democrático. O Canecão é nosso”.
No instante em que colocavam a faixa, o estudante de Comunicação Social, Kenzo Soares, afirmou que aquele se tratava de um momento histórico: “Estamos mostrando para toda a população que o Canecão é de quem?”. Ao que todos responderam sonoramente: “É nosso!”. Nesse momento, o movimento fechou por completo a Rua Lauro Müller. Em menos de cinco minutos a polícia chegou para liberar parte do trânsito.
Centro cultural
O diretor da Adufrj-SSind, Eduardo Granja tomou a palavra: “Neste momento está nascendo o futuro Centro Cultural da UFRJ”. Alertou, porém, para a dificuldade da implementação do plano: “Esse é um projeto lindo, mas difícil, porque há aqueles que pensam esse espaço como lugar de cultura mercantilizada. Mas há nós, que defendemos um espaço de cultura democrática, que coloque a cultura a serviço do povo”. Ele chamou a comunidade a participar desse momento de disputa por modelos de gestão dos espaços. “Encontraremos dificuldades inclusive dentro da universidade. Mas, a partir de agora, o Canecão é nosso!”.
Representante da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (Anel), Malu Ribeiro falou sobre o esvaziamento de espaços culturais na cidade voltados para jovens: “A juventude, de modo geral, tem seus espaços de cultura limitados. Essa conquista histórica, resultado de anos de luta, é também da população do Rio de Janeiro, da população brasileira. É por isso que encampamos essa luta”.
Espaço de formação
Numa última intervenção, o estudante Kenzo afirmou que hoje a UFRJ não possui espaços para a formação cultural de seus alunos, como palco para apresentações de música e teatro e que o objetivo é de que o Canecão se torne esse espaço: “É por isso que estamos aqui hoje, para fazer desses espaços de cultura, de extensão da universidade”, finalizou. Antes de retornarem ao campus da Praia Vermelha, o movimento voltou à frente do antigo bingo no qual escreveram palavras de ordem e pintaram o símbolo da campanha “O Canecão tem que ser nosso”. Depois, voltaram para a rua e, sendo acompanhados pela polícia seguiram até o campus onde encerraram a caminhada.
Planos futuros
O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UFRJ, Carlos Levi, disse em entrevista ao Jornal da Adufrj que a proposta da reitoria é criar uma comissão de artistas e professores de todo o estado do Rio para que ouvir os anseios da sociedade sobre o espaço do Canecão, especificamente. “A expectativa é montar um Centro de Cultura da UFRJ e adequar os espaços para essa prática, já que as atuais instalações não são apropriadas para esse fim”, afirmou.
O pró-reitor falou que para isso, a ideia é realizar parcerias com os governos estadual e federal. A curto prazo, no entanto, o objetivo é realizar uma verificação técnica das instalações junto à Defesa Civil, para que se tenha um laudo confiável sobre as reais condições de estrutura elétrica, hidráulica e física do prédio. Já com relação ao espaço onde funcionava o bingo, Levi disse que a UFRJ vai avaliar “o que pode ser remanejado da Praia Vermelha para aquele espaço”, mas ainda não tem um plano específico. “Aquele local está muito degradado. Antes de tudo, será preciso realizar uma grande reforma”, finalizou.
Fonte: Comunicação da Adufrj-SSind
2010-11-09 » alantygel
10 novembro 2010 @ 1:39
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