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Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

Universidade e Movimento Social: formando militantes e construindo uma nova universidade

quinta-feira 25 novembro 2010 - Filed under Notícias do Rio

mab4O Boletim do MST-RJ entrevistou a pesquisadora Juliana Romeiro, do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza – ETTERN/IPPUR/UFRJ -, sobre o curso construído pelo ETTERN em pareceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens. Hoje em sua segunda turma, o curso busca formar militantes do MAB e de outros movimentos sociais, transmitindo “conhecimentos científicos e técnicos para que estes militantes e suas organizações possam ser instrumentalizados na defesa de seus diretos econômicos, sociais, culturais e ambientais.”

Juliana destaca ainda o grande beneficio da iniciativa para a universidade. Segundo ela, o curso “oferece à comunidade acadêmica uma experiência única de troca de conhecimento e saberes com os movimentos sociais que participam da turma, o que acreditamos ser fundamental também para a formação de nossos estudantes. ”

Na primeira turma, se formaram-se 59 estudantes, sendo 4 deles militantes do MST. A segunda turma, ainda em andamento, tem 75 estudantes, onde além de militantes do MAB e MST, participam CPT, MMC, MTD, MPA, entre outros.

Confira a entrevista do Boletim MST-RJ com Juliana Romeiro:

Boletim do MST-RJ: Como surgiu a ideia do curso? Foi uma demanda do movimento? Como surgiu a parceria com o IPPUR?

Juliana Romeiro: A parceria do MAB com o ETTERN (Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza – IPPUR/UFRJ) surgiu há cerca de 20 anos, quando o professor Carlos Vainer e sua então equipe realizaram diversos estudos com as populações atingidas pelas barragens na região Sul (neste momento o MAB ainda não era constituído como um movimento nacional). Ao longo do tempo consolidou-se uma relação de parceria com o movimento e estabeleceu-se uma linha de pesquisa e extensão voltada a estas atividades- a ATEMAB (Assessoria Técnica e Educacional Meio Ambiente e Barragens). A ATEMAB passou a auxiliar o movimento em pareceres técnicos, elaboração de material didático, reuniões, palestras e cursos.

Este curso surgiu sim a partir de uma demanda do Movimento dos Atingidos por Barragem. Neste caso, o que nós e a coordenação do MAB acreditamos é que a qualificação dos militantes pode levar ao movimento instrumentos técnicos e científicos na defesa de seus direitos. Para elaborar o curso foi realizada o que chamamos de pré-etapa, que aconteceu um ano antes do início da primeira turma, em 2008. Nesta pré-etapa construiu-se em conjunto com a equipe da ATEMAB/ETTERN e lideranças do MAB o formato do curso, disciplinas, metodologia e etc.

B: Qual é o estado atual do curso? Quantas turmas e alunos já foram formados?mab3

J: Estamos hoje na segunda turma, que possui 75 estudantes ao todo. Na primeira turma, que recebeu o nome de Haydée Santamaría e concluiu o curso em fevereiro de 2010, formaram-se 59 estudantes ao todo. Nesta turma foram 25 alunos que fizeram o curso como especialização Lato Sensu e os 34 demais fizeram o curso como extensão universitária. Este é na verdade um ponto interessante neste curso: para aqueles militantes que já possuem graduação o curso pode ser feito como uma especialização; para os demais, independente do grau de escolaridade, o curso pode ser realizado como extensão universitária.
Nas duas modalidades os alunos possuem as mesmas disciplinas, tarefas e devem apresentar um trabalho de conclusão de curso ao final da última etapa. Todos os alunos são orientados na construção de seus TCCs por uma equipe constituída de 16 professores orientadores. Estes professores são alunos de pós-graduação e professores universitários que possuem relações próximas com o MAB e demais movimentos sociais envolvidos no curso.

A segunda turma iniciou o curso em julho de 2010, e estará cursando a segunda etapa em fevereiro de 2011. A previsão de formatura é em fevereiro de 2012.

B: Qual é a metodologia utilizada? E o formato do curso?

J: O curso é composto por quatro eixos temáticos e quatro etapas. As etapas acontecem a cada seis meses, durante um período de 15 dias na Escola de Educação Física da UFRJ, que fica localizada na Cidade Universitária da UFRJ. No intervalo entre as etapas, no tempo com a comunidade, os alunos recebem diversas tarefas em relação as disciplinas que foram cursadas e em relação ao TCC.

Cada eixo temático possui quatro disciplinas e em cada etapa é ministrada uma disciplina de cada eixo. Cada etapa possui um caráter diferente: a primeira, por exemplo, possui um caráter teórico-conceitual, a segunda e a terceira possuem caráter históricos e a quarta político – a tabela abaixo mostra melhor como se organizam as etapas:

Etapas/ Eixos

1ª Etapa

Teórico-conceitual

2ª Etapa

Histórica 1

3ª Etapa

Histórica 2

4ª Etapa

Política

EixoTemático1:
Elementos de Economia Política

Princípios básicos da economia política

Imperialismo e outras teorias sobre o capitalismo mundial

Social democracia e o “Estado de Bem-estar”

Globalização, neoliberalismo e o Estado contemporâneo

Eixo Temático 2:
Economia Política do Meio Ambiente

Sociedade e Natureza

A produção capitalista da natureza e da escassez

Tecnologia e natureza nas relações sociais

Movimentos populares e justiça ambiental

Eixo Temático 3:
Economia Política da Energia

O que é energia?

História da energia

Energia e Setor Elétrico no Brasil

O Setor Elétrico hoje – modelo e alternativas

Eixo Temático 4:
Estado e Classes Sociais

Estado e classes na sociedade moderna

Estado e Revoluções I

Estado e Revoluções II

Estado e classes na sociedade contemporânea

mab2B: Na sua opinião, qual é o principal benefício do curso para as lutas do movimento?

J: Para nós, o papel fundamental deste curso é a qualificação da militância, não só do MAB, mas também dos demais movimentos sociais envolvidos no curso. O que queremos é transmitir conhecimentos científicos e técnicos para que estes militantes e suas organizações possam ser instrumentalizados na defesa de seus diretos econômicos, sociais, culturais e ambientais. É importante lembrar entretanto, que este curso também oferece a comunidade acadêmica uma experiência única de troca de conhecimento e saberes com os movimentos sociais que participam da turma, o que acreditamos ser fundamental também para a formação de nossos estudantes.


Portanto, vida longa a esta e todas as demais parcerias entre universidade e movimentos sociais. O Brasil certamente tem muito a ganhar com isso.mab1

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2010-11-25  »  alantygel

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  1. | MST Rio
    25 novembro 2010 @ 8:45

    […] Confira a entrevista do Boletim MST-RJ com Juliana Romeiro […]

  2. | MST Rio
    11 janeiro 2011 @ 21:12

    […] notícias: Feiras de Reforma Agrária (Campos e Rio), Campanha pelo Limite de Propriedade da Terra, parceria com universidades em cursos de graduação e projetos de extensão, a cooperação internacional com Haiti e Palestina, novas ocupações, a cultura nos […]

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