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Acampamento São Roque: Uma História de Luta e de Produção

terça-feira 25 janeiro 2011 - Filed under Notícias do MST Rio

por Nivia Regina e Andrea Matheus

OCUPAR, RESISTIR, PRODUZIR !!!!!!

O acampamento São Roque localiza-se no município de Bom Jesus de Itabapoana na região Noroeste Fluminense. A maioria das famílias eram trabalhadores rurais da própria região ou já viveram de outros estados como o Espírito Santo. Os que vieram da roça, de cidades vizinhas trabalhavam em usinas no corte da cana, e em sua maioria não tinham carteira assinada e por vezes não recebiam pagamento. O fechamento de usinas de cana-de-açúcar tradicionais na região gerou impactos profundos na principal atividade empregadora das famílias, e milhares de cortadores de cana ficaram desempregados.

Devido à ociosidade e total falência e abandono da usina Santa Maria localizada em Bom Jesus do Itabapoana, pertencente a um complexo formado por inúmeras fazendas de latifundiários da região, que trabalhadores (as) organizados no MST, em busca de uma alternativa ao desemprego e da necessidade de sobrevivência, ocuparam uma área na beira da estrada, próximo à antiga e desativada usina.Acampamento São Roque

Após dois meses de luta e resistência nessa área, em 01 junho de 2002, as famílias de trabalhadores (as) ocuparam a Fazenda Providência que faz parte do complexo de fazendas, dando origem ao acampamento São Roque. A fazenda possui aproximadamente 490 ha e por muitos anos sofreu com a monocultura da cana-de-açúcar utilizada para usinas da região.

No dia da ocupação eram aproximadamente 200 famílias. Como já era de se esperar, o latifúndio não ficou calado e começou a agir para desmobilizar mais uma ação vitoriosa do Movimento dos Trabalhadores. Houve desistências ficando por um período com apenas 15 famílias, mas essas com força se juntaram e deram os passos iniciais até a consolidação do acampamento e volta dos acampados ao mesmo tempo em que outros trabalhadores (as) foram se agregando a luta pela terra.

O São Roque em 2004 estava com 57 famílias, organizadas em 3 núcleos, possibilitando melhores condições de vida para essas famílias. Neste período, mesmo em situação de acampamento, as famílias se destacavam não só por suas lutas, mas pela grande quantidade de produção diversificada.

Por isso foi realizado neste período um Diagnóstico Rápido e Participativo (DRP) da biodiversidade, pela potencialidade das famílias na produção agroecológica e pela própria organização dos acampados como estratégia de sobrevivência, bem como a realidade sócio-cultural das famílias.

O acampamento produzia de forma diversificada com base nos princípios agroecológicos, e na grande maioria eram para autoconsumo, com estratégia de abastecimento das famílias e das criações, sendo a comercialização uma prática quando havia sobra na produção.

Entretanto, é fato as dificuldades enfrentadas pelas famílias para produzir devido à falta de recursos, contudo através das práticas agroecológicos conseguiram sobreviver em meio a uma região marcada pelas grandes concentrações de terra, monocultura da cana-de-açúcar e desigualdade social. Mesmo com tais dificuldades o Diagnóstico Rápido Participativo da Biodiversidade nos mostrou que riqueza da produção que eram:

Sistemas produtivos:
Criações: galinhas, porcos, cavalos, coelhos, carneiros, cabras, gado de leite e animais para tração.
Cultivos: arroz, feijão, milho, mandioca, batata, batata-doce, quiabo, jiló, abóbora, abobrinha, banana, fava, alho, mamão, taioba, algodão, cana, almeirão, tomate, maracujá, beterraba, alface, couve, salsa, cebolinha, cheiro-verde, rúcula, terramicina, boldo, saião, alecrim, capim-cidreira.
Variedades:
– Milho: cubano, palha roxa.
– Arroz: paga dívida
– Mandioca: cacau
– Feijão: Espanha, preto.

Origem das Sementes:
– As sementes eram adquiridas de parentes e amigos, alguns compram.
– Sementes próprias (milho, feijão, fava e abóbora)

Armazenamento de sementes:
– Terra de formigueiro
– Na própria palha
– Cinza
– Folhas de eucalipto
– Sal
– Assa peixe

Foi também sendo realizado com as famílias espaços de formação onde foi trabalhada a Campanha: “Sementes: patrimônio dos povos a serviço da humanidade”, contextualizando e enfatizando a importância do resgate das Sementes e da biodiversidade; Além de trabalhar questões como: uso das áreas; educação; saúde; relação com entidades/instituições; agroecossistemas; problemas da comunidade entre outras.

O Acampamento São Roque na sua história nos trouxe e ainda nos traz ensinamentos importantes como: a ocupação do território, que anteriormente era latifúndio improdutivo é agora um acampamento que tem como principio a Agroecologia, trazendo qualidade de vida para as famílias, geração de renda e segurança alimentar; com diversificação e consórcio dos cultivos, rompendo com a lógica de monocultura da produção. A Organização das famílias acampadas permite o plantio antecipado como estratégia de abastecimento das famílias e criações; Formas de cooperação como: mutirão esporádico e grupos de trabalho.

Com passar do tempo as famílias foram sentindo novamente as dificuldades em resolver os problemas de obtenção daquela área, ocorrendo novamente uma diminuição no número de famílias.

Desde o início as famílias apostavam na aquisição da área pelo INCRA devido às dívidas do proprietário do complexo das fazendas da usina Santa Maria. Entretanto no decorrer dos anos não houve adjudicação da área pela união e o proprietário conseguiu muitos anos depois uma liminar de reintegração de posse no judiciário, que foi suspensa posteriormente no Tribunal Regional Federal.

Isto foi trazendo desgaste para famílias e muitas delas foram desistindo, algumas indo embora do acampamento e outras indo para outro acampamento da região organizado pelo MST conhecido como Eldorado, já que vinham neste uma possibilidade maior da realização do assentamento.

Atualmente há uma disputa com setores dominantes da região que estão conseguindo partes da área por leilões que são realizados pelo Judiciário em decorrência das dívidas pelos proprietários com união.

No entanto as famílias que ainda permanecem na área cobram do INCRA uma posição no sentido de requerer a terra e assentar as famílias e seguem resistindo e produzindo.

2011-01-25  »  alantygel

Talkback x 3

  1. Rui fontoura dos Santos
    1 abril 2011 @ 20:06

    Como a internet tem nos ajudado com informações desse tipo!!
    Moro a mais de trinta anos fora. Nasci e me criei nos arredores deste complexo latifundiário, mas nunca tive acesso a essas informações e hoje fico feliz por saber que algumas pessoas estão lutando para que a justiça seja feita.
    Parabéns e este povo que resistiu a falta de escrúpulo dessa gente covarde e luta como podem para ver seus direitos respeitados.
    Este é uma causa mais que justa.
    Este povo não merecem, eles tem é DIREITO de receber este espaço com reparação pelo dano causado pelos irrespnsáveis que o causaram.
    continuem lutando meus conterraneos. essa luta é justa.

    Rui fontoura

  2. INCRA se omite e famílias são despejadas em Bom Jesus do Itabapoana | MST Rio
    12 julho 2011 @ 16:50

    […] no judiciário. Em abril deste ano, o Boletim do MST Rio publicou uma matéria sobre a área: confira aqui. Veja também matéria sobre o reocupação do acampamento 17 de abril, em 2008. Tag: acampamento […]

  3. | MST Rio
    12 julho 2011 @ 18:55

    […] No último dia 7 de julho, o Tribunal de Justiça Estadual despejou as 12 famílias do pré-assentamento São Roque, na Fazenda Providência, em Bom Jesus do Itabapoana, extremo norte do estado do Rio de Janeiro. A área possuía uma produção agroecológica bastante diversificada, como pode ser visto nesta matéria. […]

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Re: Acampamento São Roque: Uma História de Luta e de Produção







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