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Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

Agricultura familiar traz renda para assentados do Zumbi dos Palmares

quinta-feira 17 outubro 2013 - Filed under Notícias do MST Rio

do Portal Urural

CIDADES E REGIÃO – ECONOMIA RURAL

Agricultores juntaram forças para aumentar produtividade e vender produtos

 Mauro de Souza

Agricultores juntaram forças para aumentar produtividade e vender produtos

Em terra que tudo planta, tudo dá. É dessa forma que assentados do Zumbi dos Palmares estão tirando o sustento de suas famílias. Eles utilizam técnicas ensinadas por seus ancestrais. Os alimentos totalmente orgânicos já são comercializados em algumas partes do país. Planos para o futuro não faltam a esses agricultores.

A equipe do Site Ururau foi até o maior e primeiro assentamento de Campos, o Zumbi dos Palmares, onde vivem 507 famílias. Todas sobrevivem da agricultura. A área é grande, se estende de Campos até São Francisco de Itabapoana e é dividida em cinco núcleos.

Os primeiros moradores começaram a ocupar as terras da antiga Usina São João em 1997, dois anos depois as propriedades de dez a onze hectares começaram a ser divididas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As áreas são distribuídas para que sejam cultivadas pelos novos donos, sendo que 20% delas devem ser destinadas a plantação de árvores nativas.

“Em 2000 nós pudemos pegar um empréstimo de nove mil e 500 reais para cultivo e outros dois mil e 500 para habitação. Mas esse dinheiro disponibilizado pelo governo poderia ser usado apenas para plantar alguns tipos de frutas, como a goiaba, a laranja e o coco, que não se adaptaram aqui por dois motivos. Um deles é que era uma propriedade de cana-de-açúcar então a terra estava muito cansada, sem falar que a cana prejudica muito o terreno, principalmente com as queimadas. Além disso, esta área tem o clima seco, chove muito pouco”, disse o assentado Francisco Fortunato.

Na esperança de conseguir lucro e sustento familiar, os assentados criaram uma cooperativa, a Coopscamp, que atende a produtores dos 10 assentamentos que existem na região. Segundo o presidente, Josiel da Cruz, ao final de dois anos os agricultores tiveram que pagar pelos empréstimos.

“Foi muito difícil a nossa adaptação aqui, achar o que poderia ser produzido a não ser a cana, ainda mais sendo uma área com pouca água. Por causa da baixa produção muitos não conseguiram quitar a dívida. E os que pagaram, fizeram com muito custo”, informou.

Durante a estada da nossa equipe de reportagem no Zumbi dos Palmares, representantes do Incra estiveram no local fazendo um levantamento da quantidade de assentados e propriedades que existem na área. Já que existe uma denúncia de que alguns lotes estariam sendo comercializadas ilegalmente.

JUNTANDO FORÇAS

Sem investimentos, os agricultores tiveram que se adaptarem às dificuldades. A experiência do homem do campo e a maneira de cultivar dos avôs fizeram com que os assentados desenvolvessem outros tipos de culturas. Hoje eles cuidam de lavouras de mandioca, feijão, abóbora, cana e abacaxi.

Além de alguns produtos terem sido cultivados em um mesmo espaço, os agricultores também utilizam a técnica do revezamento de terra. Todos os alimentos são tratados sem o uso de agrotóxico.

Uma técnica ensinada pelo avô de “seu” Francisco faz com que ele consiga usar a água da mandioca no combate as pragas, além de adubação e alimento. O líquido é retirado da raiz através de uma prensa – estrutura de madeira e engrenagens feitas pelos agricultores.

“A água de mandioca é ‘venenosa’, assim que tiramos da prensa armazenamos em uma caixa d’água para que ela fermente. Depois de 48 horas já pode ser usada. Aqui nós ‘lavamos’ os pés de limão, damos o soro para as vacas para aumentar a produção de leite e adubamos os pés de abacaxi, pinha e laranja”, falou Francisco.

COMÉRCIO

Os produtos colhidos no assentamento são vendidos em feiras da roça na região, mas também são comercializados no Ceasa do Rio de Janeiro. Já os abacaxis, por exemplo, seguem para o Rio Grande do Sul.

Da mandioca são feitos a farinha, o carolo e o polvilho. Todos os objetos foram adaptados. O processo é todo artesanal e higiene não falta na hora de manusear os alimentos. Os saquinhos de farinha são vendidos a R$5. Do polvilho são fabricados os biscoitinhos e a tapioca.

“Nossa família produz os produtos da mandioca há mais de dois anos, mas nos juntamos para produzir mais. Dependendo do dia conseguimos tirar cerca de 180 quilos de farinha. Nós vimos que com a união temos condições de mudar e produzir cada vez mais. Juntamos nosso potencial com recursos próprios, todo o lucro é dividido, e o que ganhamos investimos para cultivar mais áreas”, comentou o agricultor.

MELHORIAS E FUTURO

E os assentados sonham cada vez mais alto. Agora eles têm um ano para desenvolver o projeto de uma Agroindústria. “Esse projeto da agroindústria é do Governo Federal, vai ajudar a formalizar nosso trabalho, vamos poder processar frutas e fazer o açúcar mascavo. Vai criar mais valor nos nossos produtos no mercado”, explicou o responsável pela cooperativa acrescentando que os assentados também se inscreveram para enviar os alimentos para a merenda escolar de colégios municipais e estaduais. “As exigências são muitas, tanto para a produção como para a entrega”, declarou.

Josiel da Cruz ressaltou ainda a importância de dar continuidade ao trabalho com as novas gerações. “Devemos educar nossos filhos para que continuem a trabalhar na lavoura. Sem deixar de dar estudo a eles, aqui nós já temos uma professora formada e um agrônomo. Nossos filhos vão poder nos ajudar a administrar melhor os projetos que temos pela frente”, ressaltou Josiel.

Os assentados salientaram que existe uma grande dificuldade para conseguirem empréstimos destinados à agricultura. “O banco só liberava dinheiro para o que estava na lista para ser produzido, mas às vezes aquelas frutas e hortaliças não se adaptam a nossa realidade, e atualmente ainda continua assim. É muito difícil o pequeno produtor conseguir crédito. Até para conseguir assistência técnica do governo é difícil”, reclamou Francisco.

“A luta do Movimento dos Sem Terra, o MST, é de lutar e tirar o sustento da terra, hoje é o que nós estamos tentando desenvolver”, completou o presidente da cooperativa.

“O que nós queremos é aperfeiçoar o plantio. A agricultura é uma escola, a cada dia aprendemos lições para vivermos de maneira adequada, organizada e com bom humor, para poder trabalhar e tirar o sustento da nossa família, direto da terra que lutamos para ter e manter”, finalizou Francisco.

2013-10-17  »  alantygel

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