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Assentamento Osvaldo de Oliveira: 4 anos de lutas e uma grande conquista

segunda-feira 15 setembro 2014 - Filed under Notícias do MST Rio

por Diego Rangel Fraga, com fotos de Maria Amarela

Assentamento Osvaldo de Oliveira - 4 anos. Foto: Maria Amarela Há 4 anos atrás, nesta mesma data, 7 de setembro de 2010, cerca de 300 famílias se organizaram e ocuparam um latifúndio improdutivo e com várias denúncias de desmatamento. A Fazenda Bom Jardim na época era de propriedade da Rádio Difusora, pertencente de Barbosa Lemos, ex-deputado estadual e ex-prefeito de São Francisco de Itabapoana-RJ.

Quatro anos se passaram desde este emblemático, o 7 de setembro. Todos vão para as ruas nessa data. Uns comemorar a tal da “Independência”, outros, como nós, tomamos as ruas para reivindicar nossos direitos, essa tal “Independência” que tanto nos é negada, no Grito dos Excluídos.

Como já se é de esperar, esses 4 anos foram marcados por muitas lutas, sofrimento e resistências das famílias do MST, e a luta e o sofrimento não tardaram a chegar. O despejo do Acampamento Osvaldo de Oliveira se realizou no dia 17 de novembro, e as famílias passaram por um dia tenso e de desrespeito aos direitos humanos por parte do poder público. Eram mais de 250 agentes da PF e da PM: “Era mais polícia do que gente, companheiro!”, é uma fala corriqueira que se costuma ouvir das famílias que estavam naquele fatídico dia. O despejo passou, mas a luta continuou.

As famílias começaram então uma peregrinação para encontrar um pouso para poder descansar e se organizar para os próximos passos da luta. De baixo de chuva foram jogados de um lado para o outro pelo poder público e seus agentes repressores, até que conseguiram com a Igreja um lugar para descansar e se reorganizar para os embates que viriam. Com a ajuda do Padre Mauro, conseguiram ficar em Virgem Santa, área da Igreja ainda em Macaé.

Assentamento Osvaldo de Oliveira - 4 anos. Foto: Maria AmarelaA luta não acabou e corajosos como somos, trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, fomos para uma área pública à beira da linha férrea, no bairro de Califórnia em Rio das Ostras. Área fica no limite com o município de Macaé. As famílias começaram a se preparar para voltar a ocupar a fazenda. Foram muitas lutas no INCRA, no Fórum e mais onde fosse necessário estar.

Nessa época começaram a discutir uma ocupação diferenciada da área, já que tinha inúmeras denúncias de desmatamento na fazenda e desrespeito ao meio ambiente. Com trabalho intenso de formação avançamos na proposta do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável). O PDS é uma modalidade de assentamento em alternativa ao modelo convencional, com uma proposta diferenciada de matriz de produção, agroecológica, e ocupação em harmonia com o meio ambiente, apropriação coletiva da terra e proteção da mata.

Com a ação em conjunto da UFF – Rio das Ostras, parceira do MST e do Osvaldo de Oliveira desde sua ocupação, e dos Setores de Formação e Produção, as famílias começaram um importante processo de formação em agroecologia e organização coletiva.

Nessa relação firmamos parcerias concretas e solidárias com os companheiros da UFF-RO, do SindiPetro-NF, Marcel, Danilo, Pe. Mauro, André… Tantos em tanta caminhada, por que sozinhos sabemos que não damos conta. “A luta dos companheiros do recentemente conquistado Assentamento Osvaldo de Oliveira tem sido pedagógica para a Universidade Pública”, são palavras da professora da UFF-RO Katia Marro, grande companheira e formadora nesses 4 anos de lutas.

Mas toda luta gera fruto, e depois de tanta, dor, sofrimento e resistência veio a tão sonhada conquista.

VITÓRIA!!!

Assentamento Osvaldo de Oliveira - 4 anos. Foto: Maria AmarelaNo dia 28 de Fevereiro de 2014, em frente ao Fórum de Macaé, cerca de 30 famílias esperavam ansiosas a decisão do juiz. Esperamos e esperamos lá do lado de fora, Ana Tavares, a Aninha para nós Sem Terra, advogada popular, já estava lá dentro há muito tempo. Todos estavam preocupados com a demora. Alguns companheiros diziam “A gente tem que ter fé que é hoje que sai essa terra!”, outros diziam “Nós só vamos sair daqui com uma decisão a nosso favor!” Era muita fé e coragem em jogo. E quando a Aninha chegou com a noticia foi àquela explosão de alegria, muitas bandeiras vermelhas tremularam, muitas lagrimas de felicidades rolaram aquele dia também. Eram muitos gritos e palavras de ordem, tantos que emocionavam.

“MST! A LUTA É PRA VALER!!!”

“REFORMA AGRÁRIA QUANDO? JÁ!!!”

“OUSADIA NECESSÁRIA, PRA FAZER REFORMA AGRÁRIA!!!”

Finalmente na terra, na tão sonhada terra! Fazenda Bom Jardim… Fazenda Bom Jardim que nada, agora é PDS Osvaldo de Oliveira!!! Primeira experiência dessas no estado do Rio de Janeiro. Que grandiosa vitória para todas essas famílias! Logo no dia seguinte já estavam todos de mudança, um corre-corre danado, mas todos com sorrisos largos estampados na face.

Passaram-se pouco mais de 6 meses desde que as famílias voltaram para a terra, de onde nunca deveriam ter saído. Mas a luta ainda não acabou, isso não, ainda falta muita coisa para conquistar. E foi assim que os companheiros e companheiras do Osvaldo de Oliveira aprenderam, só se conquista com luta. E é desse jeito que esta sendo até hoje.

“Precisamos de transporte escolar para as nossas crianças.” “A gente se organiza e vamos todos juntos a Secretaria de Educação.”, “Precisamos de coleta seletiva de lixo, atendimento médico e melhorias na estrada.” “Vamos arrumar um ônibus e passar o dia lá em frente da Prefeitura.”

Lutas e conquistas, todas elas, assim como o trator para arar a terra, as sementes, tudo. Tamanha coragem e ousadia para a luta cotidiana chegam a ser inspirador, “Talvez eles não o saibam, mas essa teimosia impregnou nossas agendas de trabalho e pesquisa, nossas preocupações cotidianas como sujeitos universitários”, é o que relata Katia Marro.

2014, 4 anos depois, no mesmo dia, naquela mesma data. 7 de setembro, Grito dos Excluídos, mais uma vez nos movemos, nos mobilizamos. Lá estava novamente o povo do Osvaldo, organizados e mobilizados. Dessa vez era comemoração. Aniversário de 4 anos do Osvaldo de Oliveira, de muita luta, mas também muitas conquistas. E foi para celebrar essas conquistas que nos mobilizamos, que festejamos.

Assentamento Osvaldo de Oliveira - 4 anos. Foto: Maria AmarelaComemoramos por estar na terra, ter ganhado do latifundiário, por estarmos produzindo sem nenhum veneno em respeito à vida, por estarmos fazendo feira. Por estarmos exercitando a sociedade do futuro. Mas também não celebramos sozinhos, por que não conquistamos sozinhos. Nessa festa do povo, de todo o MST, de toda a classe trabalhadora, de todas as famílias do Osvaldo de Oliveira, celebramos com todos. Estavam na celebração os companheiros do SindiPetro-NF, os companheiros e companheiras da UFF-RO, o atualmente Vereador Marcel Silvano, a Secretaria de Agroeconomia, e a família do Companheiro Osvaldo de Oliveira, que cede nome ao Assentamento.

Nessa comemoração todos eram protagonistas dessa história. Todos mesmo. Cada qual com sua contribuição em algum momento, ou em alguns. E quão bonito ficou todos juntos, se enxergando. Mas nessa história uma parte destoou. Quando olhávamos para o lado e víamos a família do Osvaldo, o tal Osvaldo que virou o nome do assentamento, ficávamos cheios de felicidade e orgulho.

Osvaldo foi um grande lutador, desses que não desistem fácil de uma boa briga. Sempre ao lado do povo. Tinha um lado bem definido. Ocupava terra, fazia atos, se mobilizava. Ocupou os espaços do sindicato rural e de lá continuou tendo um lado. E esse lado sempre era o lado do povo. Um companheiro assim a gente costuma não deixar morrer, não damos descanso. A luta não para.

Assentamento Osvaldo de Oliveira - 4 anos. Foto: Maria AmarelaE quando o Companheiro Osvaldo de Oliveira se foi, partiu dessa trincheira de luta, nos recusamos a deixa-lo. Precisávamos de sua coragem, de sua ousadia, de sua animação. Foi assim que o companheiro virou um assentamento inteiro. Precisávamos dele, as famílias Sem Terra precisavam dele. Virou nome de um lugar onde a luta é viva. E quão importante foi a sua família estar lá, junto com sua nova família, famílias sem terra do MST. Júlia, sua filha, agora estuda para ser assistente social na UFF. Carregando a história de seu Pai ela agora é chamada para retomar essa luta. “Bem vinda a sua nova família.”, ouvi algumas vezes essa frase sendo dita por inúmeros companheiros a todas da família do Osvaldo.

Nessa importante festa comemoramos nossas vitórias, vitórias que nos dão folego novo para continuar nessa caminhada. Caminhada em busca de uma reforma agrária popular, onde todos e todas são partes indispensáveis nessa construção. É com muito orgulho que as famílias do Osvaldo de Oliveira e o MST-RJ chegam a esse ponto do processo da história, cientes de que a luta esta apenas no começo e que o caminho é longo. Agradecemos a todos que lutaram e ainda lutam pela emancipação do povo, e deixamos o convite para continuar nessas trincheiras de luta.

“OSVALDO DE OLIVEIRA,

SEU SONHO AINDA VIVE,

LUTAMOS TODOS JUNTOS POR UMA PATRIA LIVRE!!!”

2014-09-15  »  alantygel

Talkback x 2

  1. Boletim 59 | Boletim do MST Rio
    15 setembro 2014 @ 12:10

    […] Assentamento Osvaldo de Oliveira: 4 anos de lutas e uma grande conquista […]

  2. Assentamento Osvaldo de Oliveira, em Macaé (RJ), é ameaçado de despejo | Boletim do MST Rio
    20 novembro 2015 @ 13:33

    […] Assentamento Osvaldo de Oliveira: 4 anos de lutas e uma grande conquista […]

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Re: Assentamento Osvaldo de Oliveira: 4 anos de lutas e uma grande conquista







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