Cumbre dos Povos*
terça-feira 5 julho 2011 - Filed under Notícias do Brasil
por Marcelo Durão
Pela não privatização e mercantilização da vida e em defesa dos bens comuns
Sete bilhões de seres humanos vivem hoje as seqüelas da maior crise capitalista desde a de 1929. Vivem o aumento gigantesco da desigualdade social e da pobreza extrema, com a fome afligindo diretamente um bilhão de pessoas. Presenciam guerras e situações de violência endêmica e o crescimento do racismo e da xenofobia.
O sistema de produção e consumo capitalista, representado pelas grandes corporações, mercados financeiros e os governos que asseguram a sua manutenção, produz e aprofunda o aquecimento global e as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a escassez de água potável, o aumento da desertificação dos solos e da acidificação dos mares, em suma, a mercantilização de todas as dimensões da vida.
Enquanto estamos vivenciando uma crise civilizatória inédita, governos, instituições internacionais, corporações e amplos setores das sociedades nacionais, presos ao imediato e cegos ao futuro, agarram-se a um modelo de economia, governança e valores ultrapassado e paralisante. A economia capitalista, guiada pelo mercado financeiro global, continua apoiada na busca sem limites do lucro, na superexploração do trabalho – em especial o trabalho das mulheres e dos setores mais vulneráveis – na queima dos combustíveis fósseis, na predação dos ecossistemas, no desenvolvimento igualado ao crescimento, na produção pela produção – baseada na descartabilidade e no desperdício e sem consideração pela qualidade da existência vivida.
Diante de tal conjuntura, o momento político propiciado pela Rio+20 constitui uma oportunidade única para “reinventar o mundo”, apontando saídas para o perigoso caminho que estamos trilhando. Mas, julgando pela ação dos atores hegemônicos do sistema internacional e pela mediocridade dos acordos internacionais negociados nos últimos anos, suas falsas soluções e a negligência de princípios já acordados na Rio92, entendemos que se não devemos deixar de buscar influenciar sua atuação, tampouco devemos ter ilusões que isso possa relançar um ciclo virtuoso de negociações e compromissos significantes para enfrentar os graves problemas com que se defronta a humanidade e a vida no planeta.
Entendemos que a agenda necessária para uma governança global democrática pressupõe um fim da condição atual de captura corporativa dos espaços multilaterais. Uma mudança somente virá da ação dos mais variados atores sociais: diferentes redes e organizações não-governamentais e movimentos sociais de distintas áreas de atuação, incluindo ambientalistas, trabalhadores/as rurais e urbanos, mulheres, juventude, movimentos populares, povos originários, etnias discriminadas, empreendedores da economia solidária, etc. Necessitamos construir um novo paradigma de organização social, econômica e política que – partindo das experiências de lutas reais destes setores e da constatação de que já existem condições materiais e tecnológicas para que novas formas de produção, consumo e organização política sejam estabelecidas – potencializem sua atuação.
A Rio+20 será um importante ponto na trajetória das lutas globais por justiça social e ambiental. Ela se soma ao processo que estamos construindo desde a Rio-92 e, em especial, a partir de Seattle, FSM, Cochabamba e que inclui as lutas por justiça climática para a COP 17 e frente ao G20. Este momento contribuirá para acumularmos forças na resistência e disputa por novos paradigmas baseados na defesa da vida e dos bens comuns. Assim, convidamos todos e todas para um primeiro seminário preparatório desta Cúpula dos Povos, no dia 2 de julho de 2011, na cidade do Rio de Janeiro para – juntos e juntas – construirmos um processo que culminará em nosso encontro em junho de 2012 e se desdobrará em novas dinâmicas.
Visando estruturar seu plano de ação e fortalecer a articulação da sociedade civil nacional e internacional rumo à Rio+20, o Comitê Facilitador da Sociedade Civil – CFSC reuniu em um evento nos dias 30 de junho e 1 de julho aproximadamente 200 pessoas representando cerca 150 organizações entre Ong´s, Fóruns, Grupos Ambientais e Movimentos Sociais de 27 países diferentes.
Na manhã do primeiro dia após a mesa de abertura, foi dado o espaço para diversas organizações nacionais e internacionais darem seu recado sobre a Rio+20 e como estavam enxergando a questão da Economia Verde.
O objetivo deste momento era preparar nossa percepção e entendimento sobre a Rio+20 e daí iniciar a construção do evento paralelo ao da ONU. O debate foi fomentado a partir de 3 questões que foram elaboradas anteriormente no CFSC:
1- O que queremos com a Rio+20?
2-Que processo/metodologia para a Rio+20 queremos construir coletivamente?
3- Quais são as agendas de lutas de sua organização e como podem se inserir no processo rumo à Rio+20 e além?
As conversas nos grupos em sua maioria afinaram para a realização de um evento que trouxesse o debate sobre a questão da Economia Verde e as formas que ela vem atuando nos territórios (campo e cidade). Nesta questão há organizações que acreditam que o termo Economia Verde ainda esta em disputa e nesta disputa podemos reorientar os impactos se utilizando dessas formas de atuação para podermos trazer benefícios para as comunidades, organizações etc.
Existe, entretanto outro grupo que acredita que o tema da Economia Verde não é um termo em disputa e sim um sinônimo de Capitalismo Verde. E todas as formas que vem ele vem atuando e que atuará no campo e na cidade trará malefício para a classe trabalhadora e favorecerá ao acúmulo e centralização de riquezas, só que agora direcionadas mais fortemente para a questão da “conservação” da natureza e controle da biodiversidade.
A proposição da maioria das pessoas e entidades presentes (percebido pelos debates nos grupos e em plenária) é que não podemos entender a Rio+20 (o evento paralelo) como mais um grande fórum e sim como um momento dentro do processo de debate sobre a relação do ser humano com a natureza. Contudo a Rio+20 deveria ser construída de forma a não criar mais um mega evento que rode pelo mundo afora e sim um evento que proporcione debates concretos sobre os reais problemas para com a natureza na atualidade.
Fragmentos do texto extraído da carta convocatória, ver no site (CFSC – www.rio2012.org.br)
*não é o nome – ainda não foi fechado o nome do evento.
2011-07-05 » marcelodurao
13 julho 2011 @ 15:16
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