quarta-feira 19 agosto 2020
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MST Sudeste
Por Redação da Região Sudeste/ MST Da Página do MST
Após 56 horas de resistência, acompanhada de numerosas manifestações de apoio e solidariedade nacional e internacional, na sexta-feira (15) a Polícia Militar de Minas Gerais despejou uma das áreas do acampamento Quilombo Campo Grande, demolindo as casas de 14 famílias camponesas, lavouras e a Escola Popular Eduardo Galeano.
Conhecido pela produção do café Guaií, o acampamento Quilombo Campo Grande, situado em Campo do Meio (MG), é formado por 450 famílias, que há mais de 20 anos produzem alimentos sem veneno. As famílias Sem Terra exigem da justiça a garantia do direito à Reforma Agrária nas terras da antiga usina de cana Ariadnópolis, que faliu deixando dívidas com o Estado e os trabalhadores.
Em nota, a direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou que a área de 26 hectares inicialmente constatadas no processo judicial, que já estavam desocupados, foi ampliada para 52 hectares no último despacho da Vara Agrária e a operação policial foi além da determinada pela liminar, se colocando contra os interesses do povo e promovendo a escalada de violência no campo, agravada pela crise sanitária e econômica de Covid-19.
Segundo o Movimento, com a ação iniciada da última quarta-feira (12), Romeu Zema (Novo-MG) e demais autoridades judiciárias descumpriram o acordo firmado em mesa de diálogo sobre conflitos de terra, para que as famílias permaneçam no local ao menos enquanto houvesse necessidade de isolamento social pela pandemia. Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte, denunciou que “é inadmissível despejar durante a pandemia, não há argumento que justifique essa violação dos direitos humanos fundamentais. O respeito à dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição brasileira”, disse o bispo.
Diante das aglomerações provocadas pela truculenta ação policial, as famílias do acampamento Quilombo Campo Grande protocolaram na Prefeitura de Campo do Meio um pedido de testagem em massa e atendimento mínimo de assistência social. Entretanto, nenhum das famílias teve resposta do poder público até o fechamento desta reportagem.
Para Michelle Capuchinho, da direção estadual do MST, “desde o início da operação criminosa, a gente tentou diálogo com o governo do Estado, denunciando que era um crime realizar um despejo em meio a pandemia. Nós entendemos que esse governo é criminoso, e a prefeitura municipal que está sob gestão de Robson de Sá é omisso e coautor dessa atrocidade, colocando em perigo todo Campo do Meio e o Sul de Minas”.
Rio de Janeiro
O caso do Quilombo Campo Grande não é isolado e revela um cenário mais amplo de reiteradas tentativas de remoção forçada na região sudeste do Brasil. Além do risco para milhares de famílias camponesas, visto que muitos despejos recorrem à violência policial, esse contexto é ainda mais grave diante da crise de saúde pública no país.
O uso da força policial foi autorizado pelo Tribunal Federal do Rio de Janeiro em agosto de 2019 para execução do despejo no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PSD) Osvaldo de Oliveira, na região serrana de Macaé (RJ). É o primeiro desta modalidade no estado, localizado em área de recuperação da Mata Atlântica. Feijão, milho, abóbora, melancia, jiló, banana, coco, graviola, aipim e hortaliças são alguns dos produtos cultivados.
Com a pandemia, o prazo inicialmente estipulado em 90 dias para a remoção foi suspenso. “É um quadro completamente controverso porque o assentamento é consolidado. São 63 famílias produzindo alimentos agroecológicos, temos participação em feiras e no Programa de Alimentação Escolar (PNAE)”, aponta Nelson Bernardes, da direção nacional do MST no Rio de Janeiro, explicando que a permanência das famílias tem relevância comprovada na conservação ambiental da área.
“As famílias do PDS passaram por um processo muito extensivo de formação na agroecologia, assimilando uma matriz fundamental para a produção e preservação ambiental. O desembargador relator tem um olhar tendencioso porque fundamenta a decisão apenas da leitura dos pareceres do proprietário”, relata a advogada do setor de direitos humanos do MST-RJ, Fernanda Vieira.
Conhecido anteriormente como Fazenda Bom Jardim, o assentamento Osvaldo de Oliveira está localizado no distrito Córrego do Ouro, região norte fluminense. A propriedade foi considerada improdutiva pelo Incra em 2010, sendo decretada para fins de reforma agrária. No mesmo ano, cerca de 300 famílias do MST ocuparam as terras da fazenda no dia 7 de setembro, com o objetivo de pressionar a desapropriação que até hoje não foi completamente concluída.
São Paulo
Recentemente, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) condenou as reintegrações de posse que estão curso em todo o estado de São Paulo em plena pandemia de Covid-19. Em ofício publicado no dia 16 de junho, o Condepe cita 24 casos ocorridos ou em andamento em todo estado.
No estado de São Paulo, três áreas em luta pela Reforma Agrária estão com despejo suspenso por tempo indeterminado. Eles são o acampamento Marielle Vive!, situado em Valinhos, o acampamento Paulo Botelho, no município de Jardinópolis, e o assentamento Luiz Beltrame, em Gália, que recebeu a suspensão no dia 29 de julho por ordem do Tribunal Regional Federal de São Paulo (TRF).
Localizado a 60 km de Bauru, no interior do estado, o assentamento Luiz Beltrame existe há cerca de seis anos enquanto território reconhecido judicialmente. Em 2014, as fazendas Portal Paraíso e Santa Fé foram desapropriadas do empresário Jorge Ivan Cassaro por crime ambiental e improdutividade, em favor das 77 famílias Sem Terra que, em 2009, iniciaram sua luta pela terra.
Lá são produzidas mandioca, batata doce, milho, feijão, maracujá, entre outros grãos, frutas e folhagens, além da produção animal e de derivados, como leite e queijo. Toda semana, são comercializadas mais de 100 cestas agroecológicas em Bauru, Marília e região.
No acampamento Paulo Botelho, as famílias ocupam uma área da antiga Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) administrada pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), antes utilizada ilegalmente por empresas para a produção de cana-de-açúcar e como lixão de rejeitos agroindustriais. Ao risco de despejo, se somam ações criminosas e intimidações provocadas por terceiros.
Em ofício publicado em 16 de junho, o Condepe denunciou o incêndio criminoso ocorrido no último dia 28 de abril no assentamento Luiz Beltrame, fato que abre suspeitas sobre possível intencionalidade no incêndio acontecido na tarde da quinta-feira (13) no acampamento Paulo Botelho, que atingiu alguns dos barracos das famílias acampadas.
Despejo Zero
Segundo o Condepe, a pandemia de Covid-19 demonstra de forma dramática as profundas desigualdades sociais na sociedade brasileira. Contrário às reintegrações, o órgão ressalta a existência de apontamentos na Constituição que protegem a dignidade da pessoa humana e que justifica a não remoção das famílias “enquanto perdurarem as necessárias medidas de isolamento social e de enfrentamento da doença”.
Diante da falta de responsabilidade de alguns setores do poder público com a garantia dos direitos humanos mais fundamentais em relação aos despejos e remoções durante a pandemia, mais de 40 organizações sociais e movimentos populares lançaram a campanha “Despejo Zero – Pela Vida no Campo e na Cidade”.
A iniciativa, composta por mais de 100 movimentos populares, entidades e organizações sociais, denunciou na Organização das Nações Unidas (ONU) a destruição da escola e a retirada das famílias do Quilombo Campo Grande (MG).
Nas redes sociais, a campanha contra a remoção mobilizou as hashtags #SalveQuilombo #DespejoZero e #ZemaCovarde. Após a operação que contou com cerca de 200 policiais armados, viaturas e helicópteros, o movimento busca apoio na solidariedade da população para reconstruir coletivamente a estrutura da escola e das moradias afetadas.
O episódio #2 do podcast da Reforma Agrária Terra Crioula conta sobre a luta do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PSD) Osvaldo de Oliveira em Macaé (RJ). Com participações de Silvano Leite, coordenador regional do MST-RJ, Dona Jorjinha, assentada no PSD, e Nelson Bernardes, da direção nacional do movimento Sem-Terra. O podcast Terra Crioula é uma parceria dos estudantes do curso anual de Comunicação Popular do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e o Setor de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra do Rio de Janeiro (MST-RJ).
Mulheres Sem Terra contra os Vírus e as Violências! Exibição do curta “Mulheres da Enxada”, realizado no dia 7 de agosto de 2020, seguido de debate mediado por Lucineia Freitas, do Setor de Gênero do MST, e participações de Jovem e Jorgina, entrevistadas no filme e assentadas no PSD Osvaldo de Oliveira e Bia Siqueira, produção e marketing do curta. Sinopse: O curta “Mulheres da Enxada” traz um pouco a história de mulheres Sem-Terra assentadas do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, localizado na região serrana de Macaé/RJ, que dedicam sua vida a luta pela Reforma Agrária Popular!
Estamos chegando na trágica marca das 100 mil vidas perdidas por conta da política genocida do governo! Em homenagem às vítimas da pandemia, um ato simbólico aconteceu nesta sexta (7) no Aterro do Flamengo. Cruzes e velas representam as mortes por COVID-19 no país. Não podemos permitir que essa tragédia continue em marcha. Enquanto Bolsonaro incita a morte, nós promovemos e reivindicamos uma vida digna no campo e na cidade! Confira o Video da Telesur de Venezuela
Movimentos populares e centrais sindicais realizam 5ª edição da marmita com campanha “Fora Bolsonaro”
Por Coletivo de Comunicação MST-RJ Clivia Mesquita / Pablo Vergara Do Boletim Estadual MST-RJ
Nesta sexta-feira (7) acontece mais edição da Marmita Solidária no Rio de Janeiro como parte das atividades em torno do Dia Nacional de Lutas Fora Bolsonaro. A campanha, que envolve diversas frentes do campo progressista, busca denunciar a responsabilidade do atual governo sobre o descontrole da pandemia de coronavírus no Brasil.
A ação acontece a partir das 11h no Armazém do Campo RJ, localizado na Avenida Mem de Sá, 135, no bairro da Lapa. Serão preparadas 300 refeições com alimentos agroecológicos produzidos pela agricultura familiar nos assentamentos organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Rio de Janeiro.
A expectativa do movimento, que conta com cerca de 30 voluntários na organização desta 5ª edição, é atender locais na região central da cidade que concentram um grande contingente de pessoas em situação de rua como a Rua do Passeio, Arcos da Lapa e Cruz Vermelha.
Para Luana Carvalho, dirigente nacional do MST no Rio, defender melhores condições de vida e sobrevivência na pandemia passa pelo entendimento de que o atual governo promove a morte.
“Nossa ideia com a Marmita Solidária sempre foi casar a solidariedade, produzindo refeições que possam alimentar a população mais vulnerável, com a nossa luta política sobre o que de fato provoca esse descontrole da pandemia, o desemprego e a fome, que são as ações do governo Bolsonaro.”
“Precisamos dizer que esse governo é genocida e a falta de políticas públicas e o desinvestimento em saúde é o que está gerando essa atrocidade. As mortes fazem parte de decisões políticas do governo diante da pandemia”, completa Luana.
Além do MST, também constroem a iniciativa “Marmita Solidária” o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Levante Popular da Juventude, Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), União da Juventude Socialista (UJS), Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, Sindicato dos Trabalhadores do Comércio do Rio de Janeiro e a Frente Brasil Popular (FBP).
Do luta à luta
Prestes a atingir a triste marca de 100 mil mortes, a pandemia atinge de forma ainda mais violenta a classe trabalhadora, agravando, inclusive, a letalidade entre a população mais vulnerável. Além da produção das marmitas, a ideia do Dia Nacional de Lutas Fora Bolsonaro no Rio de Janeiro é realizar ações descentralizadas e sem aglomerações para evitar a disseminação do vírus.
Com o lema “Do Luto à Luta! Fora Bolsonaro!”, a próxima sexta-feira (7) também será marcada por um ato simbólico, às 16h, no Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, com cruzes e velas representando as mortes por covid-19 no país. O objetivo da ação é prestar homenagem às vítimas.
A feira no Largo da Carioca é considerada patrimônio de interesse social e cultural da população, protegida por Leis municipais do Rio de Janeiro
Por Coletivo de Comunicação MST-RJ Da Página do MST
Os feirantes e consumidores da décima primeira Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes comemoram com satisfação os resultados com a comercialização dos produtos e a ampliação do diálogo com a sociedade carioca.
A feira, que neste ano aconteceu entre os dias 9 e 11 de dezembro no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro, é considerada patrimônio de interesse social e cultural da população, protegida por Leis Municipais.
Cícero Guedes foi homenageado com o nome da feira devido a sua importância na construção coletiva do espaço e na luta pela terra. O produtor Fábio, do assentamento Osvaldo de Oliveira, faz questão de lembrar a persistência e o papel de Cícero para o sucesso da feira. “Essa feira é o que o Cícero fez ao iniciar uma coisa que poderia ser feita por muitas pessoas e a ideia foi abraçada. A gente não esperava perder um companheiro tombado na estrada, mas o legado dele ficou aqui”, lembra Fábio.
A professora Léia Coelho, 61 anos, já participou de outras Feira da Reforma Agrária e também adquire a cada 15 dias a cesta de produtos saudáveis dos assentamentos do MST no espaço do Terra Criola, localizado na rua da Lapa, nº 107, no RJ. Ela comemora a iniciativa dos assentados cariocas e acredita que as feiras deveriam ocorrer com maior frequência.
“A gente procura um alimento, que seja realmente alimento e não um veneno, por conta disso tenho por hábito adquirir produtos na feirinha e também no Terra Criola, pois traz para o Rio produtos de qualidade, que vão preservar a nossa saúde e de nossos filhos”, argumenta a professora.
Funcionário público, Benedito da Silva soube da feira quando passava pelo local. Ele parou para comprar queijo da roça e também recomendou que as famílias assentadas poderiam realizar mais feiras durante o ano para interagir com a população urbana. “Vim ao médico. A feira me chamou atenção porque é uma coisa muito difícil de ver. Poderiam ter mais desses encontros dos agricultores com os grandes centros e apresentação dos seus produtos”, comenta.
Já a mineira Carla é feirante e acampada na região metropolitana de Minas Gerais. Ela explica como conheceu o Movimento e destaca o papel da feira para dar voz às lutas dos trabalhadores do campo. “Eu entrei no acampamento na minha cidade pra ir conhecendo e acabei ficando. A feira é importante para o MST, por ser uma forma de divulgação e de protesto nesse mundo de hoje. Uma forma de resistência”, ensina.
Participando da Feira Cícero Guedes desde 2000, o produtor de Campos dos Goytacazes João vive no assentamento Zumbi dos Palmares e conta com alegria sua relação com o MST e a tarefa do movimento em incluir todos na luta pela terra, por soberania e na popularização dos conhecimentos.
“O Movimento somos nós, todos os assentados que temos o conhecimento popular e fazemos parte do MST. Este é um movimento social de trabalho, de inclusão e não de exclusão”, finaliza o feirante de 62 anos.
Por Coletivo de Comunicação do MST/RJ Da Página do MST
Buscando ampliar o diálogo com a sociedade a partir da produção e comercialização de alimentos saudáveis com a população do Rio de Janeiro, a partir desta segunda-feira (9) teve início a décima primeira Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro.
A feira vai até a próxima quarta (11) e conta com mais de 150 produtores da Reforma Agrária, que se deslocaram de vários assentamentos das regiões Norte fluminense, Sul, baixada e Lagos, além dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santos, para oferecer produtos saudáveis aos moradores da capital carioca.
Para a coordenadora nacional do MST no Rio de Janeiro, Luana de Carvalho, a feira é importante pois vem criando uma relação direta com a sociedade local. “A feira criou uma cultura de produzir, se organizar e se preparar desde o início do ano. Também é uma forma de ter uma geração renda extra, com produtos numa perspectiva de alimentação saudável a um preço justo para os trabalhadores urbanos”, argumenta.
A estrutura da feira conta com quase mil metros quadrados e cerca de 150 toneladas de alimentos, além de livros da editora Expressão Popular e uma diversidade de produtos, grande parte agroecológicos.
Andando pela feira, encontramos a educadora Maria das Dores comprando alguns produtos para levar para sua casa, como couve-flor, tomate, melado, folhas verdes, entre outros. Ela conta que consome produtos da Reforma Agrária porque são orgânicos e cultivados sem o uso de venenos.
Para Maria das Dores, a Feira da Reforma Agrária representa a semente de uma forma de consumir e se relacionar, diferente na sociedade. “É uma semente, porque o pessoal aos poucos vai olhando, vai percebendo, vai comprando. Agora mesmo, no curso, estavam me perguntaram porque atrasei e expliquei que passei dentro da feira do MST e comprei um bombom de aipim com coco”, comemora ela.
Estão sendo comercializados produtos in natura, como abóbora, milho, hortaliças, legumes, além de produtos beneficiados: pães, doces, compotas e produtos agroindustrializados, como arroz, feijão e café. Os assentados também estão expondo produtos fitoterápicos, fitocosméticos e materiais como camisetas, bonés, cervejas e cachaças artesanais.
Com uma banquinha de produtos onde vende milho, feijão, abóbora, aipim, melancia, banana e jaca, Maria do Socorro vive no assentamento PDS Osvaldo de Oliveira, em Macaé, e explica que, para ela, a feira é muito importante para as famílias assentadas do estado comercializarem as mercadorias que produzem e melhorar a renda da família.
A Feira estabelece uma relação direta entre consumidor e o produtor de alimentos lá no campo, possibilitando a troca de saberes e conhecimentos populares. Diferente da relação de compra que ocorre entre os supermercados e consumidores, onde há uma ausência de relações pessoais na troca, na feira é possível conversar diretamente com os produtores. “Aquela pessoa que está produzindo o alface vai te explicar como se produz, quais são as dificuldades, os desafios, o que tem de bom”, pontua Luana.
Para Luana, estabelecer essa relação direta contribui para que o MST desperte a sociedade para a defesa da luta pela terra no Brasil. “É importante porque ajuda a desconstruir essa ideia da criminalização da Reforma Agrária e da luta do MST e traz a sociedade para nos apoiar.”
Outras atividades
Além dos produtos, a feira tem uma vasta programação cultural, com atividades no horário do almoço e no final do dia. Também ocorrem atividades de formação, com rodas de conversas, ciranda infantil, lançamento de livro e dezenas de títulos dos mais variados temas.
MST constrói campanha de solidariedade para financiar Feira da Reforma Agrária, no Rio de Janeiro
Por Coletivo de Comunicação MST-RJ Da Página do MST
A 11ª Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, que ocorre entre os dias 09, 10 e 11 de dezembro de 2019, no Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, necessita do apoio de toda a população para pagar os custos da sua realização.
Mesmo com a previsão de recursos, liberado por meio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a feira não obteve o apoio e suporte do governo federal, do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro, que se negaram a colaborar na estrutura com os trabalhadores assentados do MST, para expor seus produtos no centro da capital carioca.
O assentado Mário Besteti vive no assentamento Roseli Nunes, município de Pirai, na região Sul do Estado. Ele conta que a feira foi montada pelas famílias assentadas do Rio de Janeiro, que resistem realizando a atividade até hoje. “Esse espaço é importante para o desenvolvimento dos assentamentos, porque as famílias dependem desse espaço para mostrar os produtos que nós produzimos e trazer também, qualidade de vida para a mesa dos trabalhadores urbanos,” ensina.
Como a realização da feira envolve custos elevados no transporte de produtos e deslocamento de pessoas os povos em luta, por terra, água e florestas, foi organizada uma arrecadação online no site Catarse para contribuição solidária de apoiadores da Reforma Agrária.
Você também pode contribuir com a Feira Estadual da Reforma Agrária visitando as barracas no Largo da Carioca e levando para casa produtos saudáveis e sem agrotóxicos ou deixando sua contribuição nas caixinhas espalhadas pelas bancas da feira.
Na feira estão sendo expostos cerca de 150 toneladas de alimentos de mais de 150 produtores dos assentamentos da Reforma Agrária. Ao passar pelo local as pessoas encontram produtos in natura, como abóbora, milho, hortaliças, legumes; agroindustrializados e beneficiados como, feijão, café, pães, doces, compotas e alimentos de exportação, como arroz agroecológico. Além de fitoterápicos, fitocosméticos e materiais como camisetas, bonés, cervejas e cachaças artesanais.
Em 2015, a Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes foi reconhecida pela Lei 5999/15, como evento de Patrimônio Cultural e Social do município do Rio de Janeiro, reforçando a importância da produção e comercialização de alimentos agroecológicos. Dois anos depois, em 2017, a Lei 6218/17, também incluiu a feira no calendário da cidade.
Ao contribuir com a feira você valoriza a produção saudável de alimentos, o patrimônio cultural e apóia a Reforma Agrária Popular!
MST divulga nota sobre decisão do Juri Popular e reafirma que luta pela memória e pelo legado de Cícero continua
Da Página do MST
Nesta quinta-feira (7), o Tribunal do Júri inocentou o principal suspeito de ser o mandante do assassinato de Cícero Guedes, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). José Renato Gomes de Abreu por 4 votos a 2.
Em nota, o MST ressalta que Cícero, morto em Campos dos Goytacazes (RJ) há seis anos. Apesar de lamentar a decisão do júri, o MST afirmou categoricamente que continuará lutando pela memória de Cícero Guedes e ressaltando o seu legado.
Confira abaixo a nota na íntegra:
Nota do MST-RJ sobre o julgamento do assassinato do militante Cícero Guedes
O MST vem a público manifestar sua indignação e lamentar a decisão do Júri Popular pela absolvição de José Renato, denunciado como mandante do assassinato de Cicero.
Esse resultado reforça o quanto trabalhadores e trabalhadoras rurais não conseguem ter o reconhecimento de seus direitos diante do sistema de justiça brasileiro, marcado pela oligarquia rural e empresarial, em um sistema baseado em dois pesos e duas medidas, mantendo as cercas desse poder inacessível à classe trabalhadora.
A luta por justiça para Cicero Guedes envolveu uma série de organizações, parceiros, acadêmicos, sindicatos e movimentos sociais, que reconheceram a capacidade de Cícero em aglutinar e mobilizar as pessoas.
Por isso, podemos afirmar que nossa caminhada não se encerrará com esse resultado, porque entendemos que justiça vai para além deste sistema burguês. Acreditamos que é preciso pensar a justiça na amplitude da vida e da luta e, sendo assim, continuaremos nas trincheiras carregando o legado que Cícero nos deixa.
A cada companheiro tombado, nenhum minuto de silêncio, mais toda uma vida de luta!
Morto em 2013, em Campos (RJ), Cícero dedicou a vida a família e a luta popular; assassinato será julgado em novembro
Por Clívia Mesquita Do Brasil de Fato
Natural do interior de Alagoas, Cícero Guedes foi submetido ao trabalho análogo à escravidão ainda criança em monoculturas de cana de açúcar. Como milhares de trabalhadores pobres da região, foi para o sudeste tentar a vida com a esposa e os filhos. Em Campos dos Goytacazes (RJ), foi atraído pela cadeia produtiva da cana em 1990 e anos depois se juntou a ocupação da reforma agrária Zumbi dos Palmares, nas terras da falida Usina São João.
O trabalhador rural que chegou analfabeto no Rio de Janeiro aprendeu a ler e escrever na Escola Municipal Carlos Chagas, em Campos, aos 40 anos, quando já integrava o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Pela dificuldade que teve no acesso à educação, foi um pai rigoroso para os estudos dos filhos, incentivando também outros militantes a estudar.
Seu empenho pela educação pública e de qualidade da base até o ensino superior é reconhecido pela comunidade acadêmica que conviveu com o militante em projetos de pesquisa e extensão agrária na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Instituto Federal Fluminense (IFF) e na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) em Campos. Cícero estava presente nas principais lutas do movimento estudantil, contra o fechamento de escolas do campo e pela construção do restaurante universitário na Uenf.
“Como pai ele ensinou a se manter unido, organizado, humilde e fazer o bem. Ele sempre foi muito rígido quanto a nossa educação, a importância do estudo, porque ele não teve acesso. Então por conta disso ele sempre encarou o estudo como prioridade”, relata Mateus Santos, de 23 anos, técnico em administração de cooperativas formado pela primeira escola nacional do MST, o Instituto de Educação Josué de Castro no Rio Grande do Sul.
“Como militante, sempre tive noção das lutas que meu pai fazia no movimento, do trabalho dele nas universidades sobre a agroecologia. Ele era um defensor nato da agroecologia e comprovou na prática que era possível produzir alimentos de qualidade livres de agrotóxicos”, completa o filho.
O sítio de Cícero no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos, é referência em produção de matriz agroecológica. O trato com o lote da família e as técnicas sustentáveis de cultivo sem veneno foram passadas desde cedo para os filhos . Após o assassinato de Cícero Guedes, em 2013, Mateus passou a atuar no setor de produção do MST no estado e hoje trabalha no Armazém do Campo no Rio de Janeiro. O espaço localizado no centro da cidade é uma importante conquista para comercializar a produção da reforma agrária.
“A gente enquanto filho também contribuía com o trabalho no lote. Meu pai sempre conseguiu equilibrar bem a militância ativa com o trabalho e o convívio com a família. Sempre foi um pai presente, conseguiu educar os filhos junto com a minha mãe”, completa.
Em uma das últimas entrevistas de Cícero antes de ser morto, ele ressaltou a importância da união entre campo e cidade pela reforma agrária e uma alimentação livre de agrotóxicos. Na defesa em torno da agroecologia, foi um dos idealizadores e maiores entusiastas das feiras regionais por acreditar no diálogo permanente com a sociedade.
“É muito importante vir para a cidade e conversar, falar o que significa a reforma agrária. O grande recado que a gente trouxe é que veneno mata”, disse em 2012 durante a Feira Estadual da Reforma Agrária no Rio de Janeiro.
Ano passado, mais de 150 toneladas de alimentos agroecológicos foram comercializados no Largo da Carioca. Além de patrimônio cultural da cidade, a feira que foi batizada com o nome de Cícero, após sua morte, se consolidou entre o público por oferecer uma variedade de alimentos produzidos pelos assentamentos do MST a preço justo, além de atrações culturais e espaços de debates.
Legado
Para fugir do trabalho análogo à escravidão, Cícero pegou carona em caminhões com a família até o sudeste. Tinha visto companheiros adoecendo por exaustão no corte de cana. Novamente, a experiência dolorosa de vida serviu de combustível para sua luta incansável pela causa popular. Foi membro fundador do Comitê Popular de Combate e Erradicação do Trabalho Escravo em Campos, região onde mais de 200 trabalhadores em condição degradante foram libertados.
“A busca por uma sociedade mais humana e justa foi o percurso da vida do Cícero. Não sei o conhecimento que ele tinha de categorias teóricas que a gente discute tanto, como a luta de classes. Mas sei que ele nos ensinava como essas questões se realizam na prática. A luta constituiu a vida do Cícero e de todos nós que aprendemos com ele. Perdê-lo foi muito difícil, ainda mais da forma que foi”, diz Ana Costa, professora da UFF e amiga de Cícero.
Apesar da trajetória marcada pela escravidão e o analfabetismo, Cícero nunca deixou se abater. A presença imponente e a voz firme também eram características de um homem que cultivava alegria e solidariedade. Como legado, deixa o exemplo de uma vida dedicada à luta contra todas as injustiças.
“Sempre tivemos a preocupação de manter viva essa memória, que nos estimula, encoraja, fortalece e nos faz ter certeza que estamos do lado certo da história”, finaliza Ana.