Content

Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

Debate sobre agrotóxicos na UFRJ mobiliza alunos de Saúde Coletiva e Biologia

quarta-feira 31 agosto 2011 - Filed under Campanha Contra os Agrotóxicos

por Alan Tygel, do SOLTEC/UFRJ

Armando Meyer apresenta seus estudos relacionando o câncer em agricultores com o uso de agrotóxicos

Ocorreu nesta terça, 30 de agosto, um debate sobre agrotóxicos promovido por estudantes dos cursos de Saúde Coletiva e Biologia da UFRJ. O evento foi realizado no salão azul do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na ilha do Fundão.

Foram convidados como debatedores os professores André Burigo, da EPSJV/Fiocruz e Armando Meyer, da ENSP/Fiocruz, além do estudante Érico Freitas, do grupo de agroecologia Capim Limão. Cada um dos três proferiu uma breve fala, de onde se seguiu uma animada discussão entre os cerca de 40 presentes.

O professor Armando Meyer abriu o debate colocando os números do mercado de agrotóxicos no mundo, e pontuando que toda discussão deve ser baseada no fato que os venenos movimentam dezenas de bilhões de dólares entre as transnacionais produtoras. Em seguida, apresentou os estudos de seu grupo, que mostram o aumento da mortalidade de agricultores à medida em que cresce o uso de agrotóxicos. O aumento da incidência de alguns tipos de câncer (estômago, esôfago) em agricultores da região serrana não deixam dúvidas sobre os efeitos crônicos dos agrotóxicos na saúde daqueles que os manipulam no dia a dia.

O mapa dos estados brasileiros que mais usam agrotóxicos também coincide com maior mortalidade por câncer. Armando comentou seus estudos acerca dos efeitos neurológicos causados pelos agrotóxicos, particularmente os suicídios. “Os inseticidas atuam no sistema nervoso dos insetos para matá-los; no ser humano, eles não levam diretamente ao óbito, mas podem desregular a função nervosa, levando em muitos casos à depressão e suicídio dos agricultores.”

André Burigo (Deco) mostra prateleiras cheias de venenos

André Burigo, mais conhecido como Deco, seguiu o debate pontuando aspectos das doenças agudas causadas pelos agrotóxicos. Apesar de existirem dois sistemas de informação em saúde que registram intoxicações por agrotóxicos no Brasil – o SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas) e SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), os dados ainda são muito pouco confiáveis. O índice de subnotificação ainda é altíssimo, pois todos os elos da cadeia são frágeis: o agricultor não tem informações sobre o risco dos agrotóxicos, os serviços de saúde pública no meio rural são de difícil acesso, e os profissionais de saúde não estão preparados para diagnosticar as intoxicações. Portanto, ainda que o número oficial dos dois sistemas dê conta de uma média de pouco mais de 15 mil casos por ano no período entre 1999 e 2006, estima-se algo em torno 500 mil casos por ano. Esta estimativa está baseada em trabalhos de campo localizados que aferem uma taxa de 5% dos agricultores intoxicados.

Deco falou ainda sobre os dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da ANVISA. Ele elogiou o crescimento do estudo, que na última edição constatou algumas culturas com até 64% das amostras contaminadas com mais agrotóxicos do que o permitido, ou com substâncias proibidas para aquela cultura. Por fim, o professor mostrou duas recentes campanhas que tentam limpar a imagem dos agrotóxicos: a SouAgro, e a campanha da Andef. Ambas, não por acaso, são patrocinadas por quem ganha com a destruição da saúde do planeta: Basf, Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont, Dow, entre outras.

Érico Freitas apresenta uma definição de agroecologia

Por fim, o integrante do grupo Capim Limão, Érico Freitas, deu o tom da alternativa agroecológica ao uso dos venenos. Érico justificou o alto número de substâncias utilizadas – mais de 700 – pela resistência que foi sendo criado ao longo do tempo, na chamada espiral dos agrotóxicos: o problema das pragas, o uso de agrotóxicos, a resistências das pragas, que acarreta em mais agrotóxicos, e assim por diante.

Érico mostrou como os agrotóxicos atuam na  monocultura contra a biodiversidade, tentando matar tudo que seja diferente da cultura desejada. No sentido inverso, a própria biodiversidade atua no controle dos insetos, já que eles não encontram ambiente para proliferação fora de controle. “Num ambiente equilibrado, posso até ter um caruncho comendo as sementes, mas serão poucos. Esta suposta praga vai alimentar outros insetos, fechando um ciclo de cooperação, muito mais complexo do que o ciclo da predação”.

Debate com o público

O debate que se seguiu girou em torno das possibilidades de interação entre academia e a sociedade em geral. Como fazer com que estudos tão impactantes quanto os do professor Armando Meyer pulem os muros da universidade e cheguem a população em geral? Foi muito questionada também a ausência de outros cursos da área da saúde, sobretudo medicina e enfermagem.

Foi consenso que a Campanha Contra os Agrotóxicos é uma grande oportunidade tanto para promover a divulgação de estudos científicos quanto para fazer dialogar as diversas áreas. O tema dos agrotóxicos é abrangente, e interessa diretamente áreas tão diversas quanto medicina, biologia, nutrição, geografia, engenharia e agronomia, entre várias outras.

Diversos estudantes se comprometeram a divulgar a Campanha e articular novas parcerias para promover debates e palestras em outros cursos. Com isso, esperamos um crescimento da conscientização que sustente as futuras ações concretas da Campanha Contra os Agrotóxicos.

2011-08-31  »  alantygel

Talkback x 6

  1. Natalia Sant'anna
    31 agosto 2011 @ 14:11

    Olá!
    Eu sou estudante de biologia, e faço parte do grupo capim limão. Quero deixar aqui a minha satisfação de ter esse tipo de discussão dentro da faculdade. E dizer que estamos todos juntos nessa luta.
    Abraço a todos.

  2. Boletim27 | MST Rio
    2 setembro 2011 @ 17:59

    […] Debate sobre agrotóxicos na UFRJ mobiliza alunos de Saúde Coletiva e Biologia […]

  3. Rbens Reis Freitas
    6 setembro 2011 @ 14:27

    Não participei diretamente neste debate na UFRJ,mas indiretamente sou testemunha da coleta de alguns dados significativos que Érico coletou incansávelmente aqui no Rio Grande do Sul durante suas férias. Parabéns ,assim podemos ter esperança no futuro desse Paìs.

  4. Maria Egidia Freitas
    6 setembro 2011 @ 21:18

    Parabéns Érico pelo trabalho realizado na UFRJ. Precisamos que os agricultóres fiquem sabendo que não é colocando agrotoxicos nas plantações que vão conseguir uma coleta otima e linda ,mas que pensem mais na sua saúde e do planeta.Sou da região do Fumo, onde agricultores morrem com cancer pulmonar por inalar agrotoxico, garantindo uma safra boa.

  5. francisco antonio hernández
    7 setembro 2011 @ 10:18

    Oi Érico, não sei se está lembrado de mim, sou Francisco, colombiano, o amigo do Frei Carlos. Tenho alguns estudantes de Biologia que estão no processo de experimentar mais com os rumos que tem a Biologia no Brasil; encaminharei a eles este link para que fiquem sabendo do que você e seus colegas estão fazendo. Parabens

  6. Postura Correta
    8 janeiro 2015 @ 22:15

    Olá, amigos do MST.
    Passei aqui somente para compartilhar com vocês um artigo que escrevemos sobre Agrotóxicos.

    Talvez seja útil a seus leitores e vocês queiram compartilhar o link no blog de vocês.
    Um abraço,
    Liz.

Share your thoughts

Re: Debate sobre agrotóxicos na UFRJ mobiliza alunos de Saúde Coletiva e Biologia







Tags you can use (optional):
<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>