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Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

Escola Politécnica de Saúde da Fiocruz comemora 25 anos

terça-feira 19 outubro 2010 - Filed under Sem categoria

Quatro dias de palestras, debates e homenagens marcaram a comemoração do 25º aniversário da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz). O Seminário ‘Trabalho, Educação e Saúde – 25 anos de Formação Politécnica no SUS’ começou em 16 de agosto com uma mesa-redonda sobre o movimento estudantil no país, conduzida pela diretora Isabel Brasil e por representantes do grêmio da Escola, e se estendeu até o dia 19/08, quando João Pedro Stedile, da Coordenação Nacional do MST, e o professor Gaudêncio Frigotto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), falaram sobre ‘A formação humana contra a educação do capital’.

João Pedro situou o surgimento do MST no mesmo período em que nasceu a Escola Politécnica, no processo de luta pela redemocratização do país, na década de 1980. Ele explicou que, no início do movimento, os militantes acreditavam que para conseguir esta sociedade bastava lutar pela terra, mas depois compreenderam que também era preciso lutar contra o capital e pelo conhecimento. “Na luta contra a ignorância e pelo conhecimento, percebemos que há dois caminhos complementares: a educação formal e a formação política”, afirmou, contando que, por isso, o movimento tem como bandeira de luta a educação do campo desde o ensino fundamental até a universidade. Para garantir o acesso dos militantes a esta última etapa do ensino, o MST mantém convênio com 42 instituições formadoras em todo o país — inclusive a EPSJV —, com diversos cursos voltados para a população camponesa, formando inclusive educadores para atuarem no campo.

Frigotto, que fez parte do nascimento da EPSJV, elogiou as escolas do MST, que considerou “germens de dentro da contradição de uma sociedade que não é esta, mas que se faz nesta”. Para Gaudêncio, a formação do capital é aquela que tem uma visão unidimensional do ser humano, pautada pelo lucro e pelo mercado, particularista e fragmentária, na qual a “política é coisa de especialista e a ciência de academia”. Na contramão desta proposta, de acordo com ele, as escolas devem formar pessoas que leem, viajam, sabem admirar teatro, e que ajudem a ler o mundo. “A politécnica e as escolas do MST são expressões desta tentativa de desenvolver todas as dimensões do humano”, afirmou.

A Escola contou também com a presença de pesquisadores que fizeram, em suas palestras, um balanço da educação, da saúde e do trabalho nos últimos 25 anos no Brasil. O professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), propôs reflexões sobre a luta pela escola pública e sobre as razões que vedaram a expansão de instituições como a EPSJV, inspirada em um modelo de escola unitária, que rejeita a disjunção entre o trabalho intelectual e o trabalho de execução. Segundo Leher, apesar de importante, a luta pela escola pública no Brasil é historicamente uma luta de educadores, e não dos trabalhadores como um todo.

O sociólogo Ricardo Antunes, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre as transformações no mundo do trabalho e se opôs à tese defendida por muitos sociólogos que defendem que estamos presenciando o ‘fim do trabalho’. Em vez disso, ele diz que há hoje, num tempo de informatização, capital financeiro e descolamento entre capital e produção, uma nova “morfologia do trabalho”. “O que temos é uma era de informatização do trabalho, que caminha com a informalização do trabalho, o que vai contra a ideia da tecnologia emancipadora. Temos não o fim do proletariado, mas a geração de um proletariado do setor informacional, que não tem necessariamente lugar e hora certa para trabalhar, mas tem metas a cumprir”, disse.

As conquistas e desafios no campo da saúde foram objeto da fala de Ligia Bahia, professora da UFRJ, que afirmou que, apesar de estar na Constituição, o Sistema Único de Saúde (SUS) nunca chegou a ser implementado da forma como foi pensado, e citou os resultados de uma pesquisa recente realizada no Brasil em que 41% dos entrevistados apontam a saúde como o maior problema do país. A professora também se mostrou preocupada com a privatização do SUS, que, de acordo com ela, vem aumentando muito. Ela lembrou que uma parte dos sindicalistas adeririu aos planos privados de saúde como reivindicação. Com isso, destacou, é preciso refletir sobre o que a população almejará daqui em diante, sobretudo as parcelas que de alguma forma tiveram acesso a programas sociais, como o Bolsa família. “Essas pessoas quererão o SUS ou um sistema barato de saúde?”, provocou.

A semana de comemorações teve ainda atividades culturais dos alunos da Escola e três lançamentos editoriais da EPSJV: os livros ‘O Brasil e o capital-imperialismo – teoria e história’, de Virgínia Fontes, ‘Trabalho, educação e correntes pedagógicas no Brasil: um estudo a partir da formação dos trabalhadores técnicos da saúde’, de Marise Ramos, e ‘Educação e trabalho em disputa no SUS: a política de formação dos Agentes Comunitários de Saúde’, de Márcia Valéria Morosini. Uma mesa-redonda com os autores discutiu a produção e a difusão do conhecimento e foi coordenada por Carlos Nelson Coutinho, professor da Escola de Serviço Social e diretor da Editora UFRJ.

A cobertura completa do evento, com as principais discussões de cada mesa, está disponível no site da EPSJV (http://www.epsjv.fiocruz.br/).

2010-10-19  »  alantygel

Talkback

  1. | MST Rio
    19 outubro 2010 @ 14:32

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Re: Escola Politécnica de Saúde da Fiocruz comemora 25 anos







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