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Site do boletim do MST do Rio de Janeiro

Via Campesina divulga sua plataforma para na Cúpula dos Povos

quinta-feira 14 junho 2012 - Filed under Notíciais Internacionais e da Via Campesina

AS FALSAS SOLUÇÕES DA ECONOMIA VERDE

Após a crise econômica de 2008, o sistema hegemônico tem procurado novas possibilidades de acumulação que mantenham sua lógica. É nesse contexto que governos, empresários e organismos das Nações Unidas passaram a construir o mito da “economia verde” e do “enverdecimento da tecnologia”, apresentando como solução à crise ambiental coincidir o cuidado da Terra com a economia capitalista. Mas, na realidade, é mais uma estratégia para o avanço do capital.

Este capitalismo verde tem como alvo os espaços camponeses: já sofremos seus efeitos na forma de concentração de terra, privatização da água e dos oceanos, dos territórios indígenas, dos parques nacionais e das reservas naturais.

Vejam como as falsas soluções são apresentadas:

1. Créditos de carbono e bônus de biodiversidade: seguem o princípio de que quem tem dinheiro pode continuar poluindo e desmatando. Ou seja, os países ricos e as grandes empresas poderão poluir e destruir ecossistemas, desde que paguem alguém para que, supostamente, conserve a biodiversidade em algum outro canto do planeta.

2. REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação): anunciam que é um sistema para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, produto do desmatamento e degradação das florestas. Mas impõem, por um pagamento irrisório, planos de manejo que negam às famílias e comunidades rurais o acesso a suas próprias terras, florestas e fontes de água. Além disso, garantem o acesso irrestrito das empresas às áreas de florestas coletivas, potencializando a biopirataria.

3. Energia através da “biomassa”: a conversão de plantas, algas e detritos orgânicos em fonte de energia para substituir o petróleo, com os agrocombustíveis, significa milhões de hectares utilizados para alimentar máquinas, que deveriam estar cobertos de florestas ou produzindo alimentos. São os agrocombustíveis, que já conhecemos, mas também com novas formas e novas tecnologias.

4. “Agricultura climaticamente inteligente”: com o pretexto de desenvolver uma agricultura adaptável aos diferentes climas, querem nos impor o uso de
transgênicos “adaptados” à seca e a novos agrotóxicos. Poderemos perder o controle sobre nossos territórios, nossos ecossistemas e nossa água, além de produzir alimentos com veneno, colocando a população em risco.

5. Restrição ao uso da água: sob o pretexto de que água de irrigação é escassa, propõem que a água se concentre em “cultivos de alto valor”, ou seja, que se irriguem os cultivos de exportação, os agrocombustíveis e outros cultivos industriais, e que se deixe de irrigar os cultivos para a própria alimentação.

6. Saídas “tecnológicas”: propoêm as opções perigosas, como a geoengenharia e o cultivo de transgênicos. Nenhuma das soluções propostas
pela geoindústria demonstra ter capacidade real de solucionar os problemas do clima. Pelo contrário, algumas das formas de geoengenharia (como a fertilização dos mares) são tão perigosas que, internacionalmente, tem-se declarado uma moratória para elas.

7. Economia dos Ecossistemas e a Biodiversidade (TEEB): colocam preço em todos os bens naturais (como a água, a biodiversidade, a paisagem, a vida silvestre, as sementes, a chuva) para logo privatizá-los e cobrar por seu uso. É o assalto final à natureza e à vida, mas também aos meios de trabalho e de vida dos povos que vivem da agricultura, da caça e da pesca. É, em última instância, o domínio dos nossos territórios, já que esses pagamentos são feitos por meio de contrato entre as comunidades e as empresas.

8. Energias renováveis: há um grande interesse do capital em estabelecer um novo mercado de energias supostamente sustentáveis, como a eólica, solar e outras. Transnacionais como Siemens e outras estão investindo muito nesse ramo. No entanto, não há uma crítica ao uso da gigantesca produção de energia que já existe, destinada em sua maioria para a indústria extrativa.

A VERDADEIRA SOLUÇÃO ESTÁ NA AGRICULTURA CAMPONESA!

A agricultura camponesa e indígena é, de fato, a solução que pode esfriar o planeta, pois tem a capacidade de absorver ou evitar até 2/3 dos gases de efeito estufa que são emitidos a cada ano. Além disso, com impactos ambientais mínimos, as famílias camponesas e os povos indígenas produzem a metade da alimentação mundial, ainda que ocupem somente 20% de toda terra agrícola/agricultável em nível global.

Nosso desafio é restituir outra maneira de nos relacionar com a natureza e entre os povos. Esse é nosso dever e nosso direito e, por isso, seguiremos em luta chamando todos e todas para contribuir com a construção da soberania alimentar, da reforma agrária integral e com a recuperação dos territórios indígenas. Queremos acabar com a violência social e ambiental do capitalismo e restabelecer os sistemas camponeses e indígenas de produção que têm por base
a agroecologia.

Nossas propostas estão no coração das mudanças necessárias e é o caminho real para tornar possível produzir alimentos saudáveis para toda a humanidade e reduzir os impactos das mudanças do clima.

1. Soberania alimentar: permite acabar com os monocultivos, fomentando os sistemas camponeses de produção agroecológica que se caracterizam por sua maior intensidade e produtividade, sua capacidade para gerar trabalho, cuidar do solo, produzir alimentos sadios e diversificados. Respeita-se a terra como sustentadora da vida, focando a produção, comercialização e processamento locais.

2. Reforma agrária: é necessário que a agricultura volte a ser uma tarefa dos camponeses e indígenas. Para isso, deve-se fazer de maneira urgente reformas agrárias integrais e de grande amplitude, que acabem com a concentração extrema e crescente da terra que hoje afeta a humanidade.

3. Incentivo à agricultura camponesa: a agricultura camponesa, a caça, a pesca e o pastoreio rotativo devem ser apoiados adequadamente com fundos e meios públicos, não condicionados a medidas que comprometem sua viabilidade. Os mecanismos de mercado – como venda de carbono e serviços ambientais – devem ser desmontados imediatamente e substituídos por medidas reais, como as que mencionamos acima. Deter a contaminação é um dever que ninguém pode evitar comprando direitos para seguir destruindo.

4. Outro modelo energético: o discurso de que é preciso aumentar a geração de energia esconde a forma que ela é produzida e o verdadeiro motivo: ampliar ainda mais a concentração do capital que gera a destruição do planeta. Precisamos de fontes de
energia renováveis descentralizadas e com baixo impacto ambiental ao alcance dos povos.

VIA CAMPESINA NA CÚPULA DOS POVOS

2012-06-14  »  alantygel

Talkback

  1. Boletim38 | Boletim do MST Rio
    11 julho 2012 @ 15:58

    […] Via Campesina divulga sua plataforma para na Cúpula dos Povos […]

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Re: Via Campesina divulga sua plataforma para na Cúpula dos Povos







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