Agricoltura Capodarco produz morango, abobrinha, manjericão, aspargo, beterraba, além de vinhos e azeites na periferia da histórica cidade de Roma. Objetivo também é resgatar laços sociais e inlcuir socialmente imigrantes e outros grupos frágeis.
por Alan Tygel e Mônica Mourão
A Via Tenuta della Mistica fica a 30 minutos do centro de Roma. Da janela do ônibus, a paisagem se modifica rapidamente ao longo da Via Prenestina. O concreto denso e a falta de árvores pouco a pouco dão lugar a parques, áreas livres e uma zona industrial decadente.
Há alguns anos, a prefeitura da cidade reservou uma grande área, antes abandonada, para usos de interesse social. Além de algumas associações beneficentes, foi lá que a Cooperativa Agricoltura Capodarco instalou sua segunda sede, onde desenvolve a chamada “agricultura social”. Os 15 hectares de terra são cultivados por cerca de 50 pessoas, entre cooperados, voluntários e trabalhadores em situação socialmente frágil – imigrantes, pessoas com deficiência e ex-detentos.
A produção mensal pode chegar a 30 toneladas, que são escoadas na própria loja que fica no local, e através de redes de consumo solidário. Uma das principais culturas é a do morango, mas a produção, toda orgânica, é bastante diversificada. Hortaliças como rúcula e alface, ou legumes como abobrinha, beterraba, feijão e aspargos são cultivados em diferentes épocas do ano, e mesmo no inverno é possível trabalhar a terra dentro de estufas.
Marco Gulisano é um dos trabalhadores da cooperativa. Ele conta que, além da produção de alimentos, a parte social da cooperativa inclui ajuda a imigrantes sem documentação: “Esta parte social, é nova para Itália, porque as sociedades com um tipo de desenvolvimento voltado mais para a urbanização, perderam muito os laços sociais, e uma coesão social da qual a agricultura era uma grande incentivadora. A agricultura é social por natureza. Ela inclui, envolve, cria coesão, solidariedade, e isso se perdeu. Mas aqui na Itália muitas pessoas sentiram a necessidade de recuperar esse aspecto.”
Junto ao trabalho na Cooperativa, Marco integra o Comitê de Amigos do MST na Itália: “O comitê nasceu em 1996, após o massacre de Eldorado dos Carajás, que sensibilizou muito a solidariedade internacional. O comitê atua em solidariedade ao Movimento na Itália de diversas formas: a principal é divulgar na Itália as grandes lutas do MST. Também acolhemos militantes do Movimento que vêm à Europa. Além disso, organizamos seminários, boletins informativos e tudo que podemos fazer para apoiar e ajudar o movimento”, explica.
Entretanto, Marco ressalta que o comitê não serve apenas como mão única da Itália para o Brasil: “Também achamos que apoiar e divulgar o MST na Itália é importante para o desenvolvimento social e político da militância e dos movimentos sociais italianos. Vemos a organização do Movimento, a estrutura, as batalhas, as propostas e a mística como um estímulo muito importante para os movimentos italianos também. É fundamental trocar experiências, ideias, metodologias de luta e trabalho, e produção. Essa é a estrada para construir na prática um modelo de desenvolvimento mais justo e cuidadoso do meio ambiente e da classe trabalhadora também”, conta Marco.
Num momento em que a Europa se afunda cada vez mais na crise, e a juventude vaga sem perspectivas de futuro, o retorno à agricultura tem sido cada mais uma opção de vida. E na Via Tenuta della Mistica, na periferia da cidade de Roma, onde o passado está presente em cada esquina, a história segue dando suas voltas, e buscando reconstruir o futuro. Desta vez, é através da velha agricultura que se trilham os caminhos para uma cidade mais saudável, justa e solidária.
“Houve omissão do Estado. Muitos camponeses foram expulsos de suas terras e perseguidos”, apontou a professora Leonilde Medeiros, uma das colaboradoras da Comissão Camponesa da Verdade.
19/05/2015
Por Fania Rodrigues
Do Rio de Janeiro (RJ)
Durante a ditadura militar, muitos camponeses foram expulsos de suas terras, perseguidos e duramente reprimidos. Para revelar fatos marcantes dessa época, a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro e o Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ) realizou, nesta terça-feira (19), na OAB/RJ, o evento Testemunho da Verdade – Conflitos no campo no Rio de Janeiro.
O objetivo foi traçar um panorama da repressão e da luta por direitos dos trabalhadores do campo durante a ditadura militar no Estado do Rio de Janeiro. Para falar sobre esse tema o Brasil de Fato entrevistou a professora e pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Leonilde Medeiros, uma das colaboradoras da Comissão Camponesa da Verdade.
Brasil de Fato – Como foi esse processo de investigação dos crimes contra camponeses? De que forma ele foi inserido na Comissão Nacional da Verdade?
Leonilde Medeiros – Foi criado um grupo de trabalho responsável por relatar os crimes e violações contra os camponeses e indígenas. A ideia surgiu no Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, em agosto 2012. Esse grupo de trabalho recebeu o nome de Comissão Camponesa da Verdade, que aconteceu em conjunto e paralelo a Comissão Nacional da Verdade (CNV). A gente tinha um mapa muito amplo de onde buscar essas violações e o objetivo era investigar e fornecer subsídio para a CNV. E esse trabalho resultou em um relatório, protocolado na CNV, e que deve ser publicado em breve.
Qual é a dimensão dessas violações, há uma estimativa de quantos camponeses foram mortos, desaparecido, presos ou torturados?
Tem um número sim, mas nossa preocupação maior não era com a quantidade, mas em demonstrar que houve omissão do Estado e que isso é uma forma de violação de direitos humanos. Muitos camponeses foram expulsos de suas terras e perseguidos.
Quais as regiões onde houve mais violência contra a população rural?
No Rio de Janeiro, foi no literal sul Angra e Paraty. A gente identificou mais de 130 conflitos no estado, desse total mais de 40 % foram no litoral sul. Observamos que durante e depois da construção da rodovia federal Rio-Santos foram desalojados centenas de camponês nessa região. Os caiçaras, por exemplo, foram muito prejudicados. Isso tem muito a ver com os grandes investimentos turísticos e as grandes empresas que se instalaram nessa região. Queremos mostrar que durante a ditadura os camponeses foram expulsos de suas terras e que nada foi feito, esses casos não foram investigados, o governo não tomou nenhuma providência.
Esses camponeses faziam parte de alguma organização?
A maioria não, mas mesmo não existindo nenhuma organização política de esquerda, não deixou de existir violações. Queremos mostrar como a ditadura afetou o mundo do trabalho. Os camponeses perderam suas terras e seu modo de vida. Isso, sem falar das inúmeras prisões e perseguições.
As populações rurais, os camponeses organizados, foram os primeiros as serem vitimas da ditadura. Porque eles foram tão perseguidos?
Eles foram tão perseguidos quanto os sindicatos urbanos. Alguns sindicatos foram fechados, as lideranças presas. Nos lugares onde haviam pessoas da Ligas Camponesas foi onde houve mais violência contra as populações rurais. Teve muita repressão sobre as áreas mais organizadas, onde havia uma resistência. No Rio de Janeiro, os lugares que sofreram maior repressão foram a Baixada Fluminense e os municípios de Cachoeira de Macacu, Magé e Campos.
Por Akemi Nitahara; Edição:Aécio Amado; Fonte:Agência Brasil
As violações de direitos humanos cometidos pela ditadura militar deixaram pelo menos 200 camponeses mortos ou desaparecidos no estado do Rio de Janeiro. A estimativa é da Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio), que ouviu hoje (19) o depoimento de pessoas que sofreram perseguição e repressão no campo. Nadine Borges, que faz parte da CEV-Rio, criticou o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), finalizado em dezembro. Segundo ela, o documento não foi profundo na abordagem das violações na área rural.
“No Rio de Janeiro, que não é um estado reconhecido por violações na área agrária, a CNV avaliou algumas situações em Cachoeiras de Macacu. Mas, com essa pesquisa, a gente já identificou várias outras cidades, na região do sul fluminense, Angra dos Reis, Paraty, Magé e Baixada Fluminense. A repressão no campo, principalmente em 1964, no início da ditadura, foi muito forte. Centenas de famílias foram despejadas, removidas das suas terras”.
O levantamento dos 200 nomes foi feito por uma pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que venceu edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para subsidiar os trabalhos da CEV-Rio. De acordo com Nadine, estão sendo desenvolvidas sete pesquisas, por seis universidades, que integrarão o relatório final da comissão, a ser apresentado em outubro.
Nadine Borges disse ainda que a comissão está iniciando a redação do relatório final e que as pesquisas relacionadas ao trabalho devem continuar após a entrega do documento. Ela informou que, com a saída de Wadih Damous da CEV-Rio, para assumir o mandato de deputado federal, a advogada Rosa Cardoso, que foi participou da CNV, aceitou o convite para integrar a equipe do Rio e vai assumir a presidência da comissão até o fim dos trabalhos.
A coordenadora do projeto da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Leonildes Medeiros, ao falar sobre o tema, destacou que os camponeses sofreram a repressão tanto do Estado quanto do setor privado. “A repressão no campo assume duas faces. Primeiro é a violência da ditadura militar: as casas invadidas, pessoas retiradas de suas casas, lideranças presas e torturadas. Mas, também, uma repressão que normalmente não é contabilizada, que se dá pelo poder privado: as grandes empresas que chegam com os tais grandes projetos de desenvolvimento, que removem as pessoas, que queimam casas, que jogam gado nas lavouras”.
Para o membro da Comissão Camponesa da Verdade, Gilney Viana, o campo pode ter sido o setor que mais sofreu repressão e perseguição durante a ditadura militar. “Quando se deu o golpe, a maioria da classe trabalhadora era camponesa, a maioria da população brasileira estava no campo. Isso só é revertido com o processo de urbanização que é acelerado também pela ditadura. Não se sabe até hoje a proporção, mas é possível que a maioria dos atingidos tenham sido os camponeses e os povos indígenas, que foram igualmente sacrificados”.
De acordo com ele, a estimativa é que 8.500 indígenas tenham sido assassinados no período.
Nos depoimentos de hoje, Jair da Anunciação relatou sua luta contra grandes empreendimentos imobiliários em Trindade, vila de pescadores perto de Paraty. “Na década de 1970 chegou em Paraty uma companhia multinacional para fazer um condomínio grande de luxo. Começaram a executar a obra na Praia de Laranjeira e falavam que Trindade fazia parte. Começaram a queimar as casas, trouxeram 70 jagunços. Foram anos de horror. Quem tinha lavoura abandonou a lavoura, a pesca ficou difícil. A gente não tinha como trabalhar, precisava de doação para sobreviver. A comunidade estava vivendo em cavernas, montamos barracas no meio do mato”, disse.
A lavradora Roseli Borges relatou que a família foi expulsa da fazenda na região de Campos dos Goytacazes. “Vivíamos num paraíso. Minha mãe, meu avó, minha avô, todo mundo trabalhava na fazenda. Até que um dia apareceu um grileiro dizendo que aquilo era dele. Meu avô tinha a escritura de usucapião, mas pegaram o documento dele, prenderam ele, torturaram. Chegavam de cavalo e davam chicotada nas costas dele. Os outros moradores da região não aguentaram e foram saindo, mas meu avô ficou. Eles colocaram gado para comer a nossa roça, cortaram as fruteiras, colocaram fogo na casa, então ficamos morando no mato”.
Também prestaram depoimento hoje Ney Fernandes, que integrava a União Operária da cidade de Valença; Laerte Bastos, liderança nos anos 1950 e 1960 em conflitos de terra em Duque de Caxias; e Jorge Francisco de Brito, morador de Lagoinhas, Cachoeira de Macacu, preso pela ditadura, acusado de participar de uma emboscada que matou um militar que grilava terras na região.
A Comissão Estadual da Verdade – RJ e o CPDA/UFRRJ convidam para o testemunho da verdade – Conflitos no Campo no Rio de Janeiro. O evento contará com o depoimento de Jair da Anunciação, Laerte Bastos, Roseli Borges, Jorge Francisco de Brito e Ney Fernandes que lutaram pela terra e pelo direito dos camponeses durante a ditadura militar.
Data: 19/05/2015
Hora: 14h
Local: Plenário da OAB, Av. Marechal Câmara, 150, 9o andar.
Hay conquistas en la lucha campesina latinoamericana; diálogo con Marina Dos Santos del MST de Brasil
El VI Congreso de la Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC-Vía Campesina) ratificó la reivindicación del socialismo como inspiración y modelo alternativo al “impuesto por el capital”.
Así lo reflexionó la dirigente del Movimiento Sin Tierra de Brasil, Marina Dos Santos, en la marcha realizada el 17 de abril, Día Internacional de la Luchas Campesinas.
La referente rescató los avances “en la práctica” del movimiento campesino en la construcción de soberanía alimentaria en los territorios y como complemento, destacó la necesidad de estudiar, debatir y profundizar sobre un cambio de modelo productivo y social como es el socialismo.
“Continuamos resistiendo, haciendo la lucha y enfrentando este modelo impuesto”, dijo Marina en momentos de resumen del cónclave continental con más de un millar de delegadas y delegados, reunidos en Buenos Aires.
“Se dice por ahí que el socialismo está muerto… para nosotros no es así” y se demuestra “en nuestra práctica, en la conquista de la tierra, en nuestros sistemas colectivos, de cooperativas, en el desarrollo de la agroecología”. A partir de estos elementos del movimiento campesino, es que se plantea la necesidad “de retomar el debate sobre el socialismo”.
Escucha la entrevista con la dirigente del MST y de la CLOC-VC en audio adjunto.
Um grito de alerta para a sociedade e a defesa da Reforma Agrária. Esse foi o tom do lançamento do Dossiê Abrasco – Um Alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde realizado no dia 28 de abril, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Com a participação de pesquisadores, representantes de movimentos sociais e agricultores, dentre outros setores, cerca de 200 pessoas acompanharam relatos sobre o atual cenário nacional. O livro com mais de 600 páginas traz uma revisão das três partes desenvolvidas em 2012 e um quarto eixo inédito com dados atualizados do agronegócio e as lutas de resistência da agroecologia como um novo modelo de desenvolvimento para o país. É uma co-edição da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz e da editora Expressão Popular.
O setor agrícola brasileiro comprou, no ano de 2012, mais de 800 mil toneladas de agrotóxicos, sendo que muitos deles são proibidos em outros países. O lucro com o uso dessa substância aumentou em 288%, entre os anos 2000 e 2012, atesta o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). Segundo a Anvisa, 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos. O faturamento dessa indústria no Brasil em 2014, de acordo com a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), foi de mais de U$ 12 bilhões. Esses são alguns dos dados levantados pela publicação, que já pode ser acessada na internet.
De acordo com Karen Friedrich, uma das organizadoras do livro, são 44 autores apontando os malefícios dos agrotóxicos no meio ambiente e na saúde dos brasileiros. O objetivo é tirar o silêncio sobre o tema inspirado na escritora norte americana, que há 50 anos lançou a consciência ambiental moderna. Envolvendo pesquisadores de várias universidades do país, da Fiocruz, Inca e Embrapa, dentre outras instituições, e intelectuais, como Boaventura de Sousa Santos, além de movimentos sociais, o livro é um grito de alerta para o que acontece nas florestas e águas no Brasil, disse a pesquisadora da Fiocruz.
“São mostradas 10 ações urgentes que podem ser implementadas para vencer os impactos do agrotóxico. O agronegócio não alimenta o mundo, mostramos num gráfico o aumento da produção da cana, milho e soja, representando quase 70% da produção do país, com redução do feijão, mandioca e arroz. E essas commodities, que correspondem a 80% de agrotóxicos, vão aumentar muito nos próximos 3 anos com mais consumo e impactos. Mas temos propostas de resistências, como a Campanha Contra os Agrotóxicos que completou 4 anos, e iniciativas de agroecologia em todo Brasil. Defendemos a agroecologia e a Reforma Agrária para por fim ao consumo de agrotóxicos e construir um país mais saudável e justo”, afirmou.
“É uma satisfação grande a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) abrigar um conjunto de pesquisadores e militantes não só da reforma sanitária, mas também da Reforma Agrária e outros setores”, afirmou Luis Eugenio Souza, presidente da organização. Segundo ele, está provado cientificamente que o agrotóxico faz mal à saúde. “É um instrumento poderoso de pressão sobre os tomadores de decisões políticas, pois esse modelo de desenvolvimento já se mostrou insustentável. Este livro mostra que estamos conseguindo construir um arco de alianças que vai conseguir inverter esse lobby dos poderosos e políticas públicas que ainda insistem em um modelo que é prejudicial à saúde e ao ambiente”, disse.
“Essa publicação pode ser usada com uma peça jurídica de ação política e a Fiocruz tem se dedicado muito em tirar esse tema da invisibilidade”, afirmou Valcler Rangel, representante do presidente da instituição. “São vitórias parciais e às vezes alguns recuos, estamos num momento difícil. O assunto merece novas narrativas para termos uma compreensão diferenciada desses problemas, e esse dossiê cumpre esse papel. Sua natureza e modo como foi construído traz um aprendizado. É um instrumento de luta política para que conquistemos mais qualidade de vida aos brasileiros”, concluiu.
Esse material complementa os dois filmes Veneno Está na Mesa, produzidos pelo cineasta Silvio Tendler, que estava presente no lançamento, como instrumentos para massificar o debate da problemática dos agrotóxicos, avalia Nívia Silva, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. “Colocar a agroecologia e a Reforma Agrária para por fim ao agrotóxico e um Brasil mais saudável é questionar a ciência. A construção do conhecimento a partir de outras práticas nos trouxe um grande aprendizado, e permitiu a uma ampla rede de pesquisadores mostrar como a questão dos agrotóxicos é estrutural na forma como o capital se coloca no prato dos brasileiros. Esse modelo é incompatível com a produção de alimentos saudáveis, é impossível outra perspectiva com o agronegócio. Daí a necessidade da agroecologia”, observou a militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Os organizadores do lançamento do livro tentaram realizar a atividade na Academia Brasileira de Ciências, mas não foram acolhidos, relatou Paulo Petersen, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Daí a necessidade de questionar as instituições científicas e seus métodos, pois ao não receber um estudo com outras formas de construção do conhecimento mostra de qual lado elas estão, complementou o autor do prefácio da obra. “Nossas ciências agronômicas sempre procuram problemas e tecnologias para solucioná-los, por isso é preciso reorientar o foco, sobretudo se procuramos uma nova relação com a natureza e distribuição de riquezas. Entender o não uso da monocultura, a diversidade de produção, não ver a terra como um meio físico de extração de riqueza no curto prato. O combate ao agrotóxico só se faz com a Reforma Agrária. É preciso reformar os sistemas agroalimentares, rever desde a produção ao consumo. E precisamos lutar pela execução do PRONARA (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos), aprová-lo por uma razão de saúde coletiva”, sugeriu.
Recentemente o INCA (Instituto Nacional do Câncer) lançou um documento expondo os malefícios dos agrotóxicos. Para resgatar a participação desse órgão na luta pela reforma sanitária, Luis Antonio Santini, diretor-geral, lembrou os princípios que norteiam as mudanças necessárias: a saúde do trabalhador, a política de saúde e a questão ambiental. Ele deu como exemplo bem sucedido a campanha contra o tabaco, que conseguiu reduzir o consumo na população e abaixou a mortalidade de câncer de pulmão na sociedade. “Muitas vezes não há essa percepção clara pela sociedade dos fatores de risco ambiental e da alimentação, aspectos do cotidiano, que têm importância na gênese e possibilidade de evitar o câncer. Por isso o Inca tem interesse e compromisso de participar, buscando bases técnicas e científicas para sustentar essa discussão. Esse exemplo do tabaco é muito importante de articulação da sociedade e serve como experiência exitosa que pode ser usada nessa luta”, destacou.
Apoio jurídico
O Ministério Público do Trabalho tem sido um grande aliado nesse processo. Graças à sua ação trabalhista a multinacional Delmonte Fresh Produc foi condenada pela morte do agricultor Vanderlei Matos, na Chapada do Apodi, no Ceará, por intoxicação com agrotóxicos. Esse é um dos casos raros no Brasil que, com o apoio da universidade federal, conseguiu provar o nexo causal da morte com os venenos. Daí a necessidade do direito de informação conforme prevê a nossa constituição, explicou Pedro Serafim, Procurador Regional do Trabalho (MPT-PE) e Coordenador do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
“O dossiê alcança isso ao abrir a situação caótica na problemática dos agrotóxicos. Seu conteúdo e forma como é articulado favorece mais uma vez o direito à proteção da saúde, do trabalhador, do consumidor e meio ambiente. O desconhecimento do judiciário e do MP é imenso sobre o tema, tanto que a legislação trabalhista além de ser muito cartesiana continua não admitindo a responsabilidade objetiva: o uso do agrotóxico não é seguro. Não precisa provar a culpa do empregador, só o risco ao utilizar já é crime”, defende Serafim.
Alimentação Saudável
O conceito de alimentação adequada deve ser massificado, defendeu Maria Emília Pacheco, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Pois chama atenção para garantia do acesso permanente ao alimento, respeito às diferenças culturais, os saberes e sabores dos alimentos, que devem ser livres de contaminantes e transgênicos. “Uma definição fundamental, fruto de uma mobilização social cunhada numa conferência com mais de mil pessoas. Está em disputa na sociedade qual alimento comemos. Esse dossiê é também precioso porque deve dialogar com o Novo Guia da Alimentação Brasileira. Deve dialogar ainda com outra publicação do Ministério da Saúde, a de alimentos regionais, que não teremos mais sem lutarmos por uma mudança no sistema agroalimentar. Precisamos nos mobilizar em defesa do PRONARA, e que o ministro dê um basta às decisões da CTNBio”, reivindicou.
Essa coalização construída foi elogiada por Teresa Liporace, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). Sua organização desenvolve um mapa das feiras orgânicas onde qualquer pessoa pode localizar grupos de agroecologia, feiras de alimentos orgânicos e informar onde estão surgindo novas iniciativas nesse sentido. “É importante reforçar e fortalecer essa gama de associações e pesquisadores que estão defendendo seus interesses frente a empresas tão poderosas. Uma das nossas bandeiras é a questão da necessidade de transparência nos processos decisórios para um consumo ético. Existe uma grande assimetria de informação, temos que dar uma alternativa ao consumidor, que muitas vezes não sabe aonde consegue o alimento não contaminado”, afirmou.
A escola contaminada
No dia 03 de maio de 2012 a Escola Municipal São José do Pontal, próxima a Rio Verde, em Goiás, viveu momentos de terror. Um avião fazendo a pulverização aérea da região despejou agrotóxicos em cima dos alunos e trabalhadores do colégio. O atentado, segundo o diretor Hugo Alves dos Santos, atingiu 29 crianças e 8 funcionários. As crianças ainda apresentam sintomas embora não recebam mais remédios e dois funcionários morreram, além de quatro professores que já passaram por cirurgia. Ele relata que já perdeu cerca de 8 companheiros na escola por conta do câncer, e que em sua região tem mais de 300 casos da doença sem contar os registros do hospital de Goiânia. Esse é um dos casos apontados no novo dossiê da Abrasco.
O diretor passou a receber ameaças do filho do dono da empresa e de produtores da região. Mudou 8 vezes de residência em um ano, hoje mora num condomínio e andou escoltado por 3 meses. “As crianças começaram a ficar internadas, mães ligando dizendo que seus filhos iam morrer. Me ligaram dizendo para eu calar a boca, e o secretário de educação me proibiu de falar com a imprensa. Esse pessoal do agronegócio tem muito dinheiro e poder, mandam matar. Depois que tudo passou é o esquecimento. Hoje as crianças não têm direito nem ao dipirona que tomavam antes, e o secretário não me atende há 8 meses. As vejo todo dia passando mal, reclamando de dor na barriga e cabeça. Mas valorizo muito o trabalho dos pesquisadores, porque todo dia e hora alguém é envenenado no Brasil”, desabafou.
Ao final do evento foram apresentados três depoimentos em vídeo, dentre eles um do João Pedro Stédile, da direção do MST, que criticou o domínio do monopólio da mídia. “Os meios de comunicação escondem da população os verdadeiros problemas e suas causas que a sociedade enfrenta no dia a dia, seja nas periferias ou nos programas de saúde pública em relação aos alimentos que vão à mesa dos brasileiros todos os dias. O agronegócio que só pensa no lucro para meia dúzia de fazendeiros e empresas não tem limites, e está usando todos os tipos de venenos, inclusive proibidos em outros países”, criticou.
Matéria originalmente publicada em http://www.agroecologia.org.br/
As fotografias de Sebastião Salgado representam uma das simbologias mais fortes do MST. Como não se arrepiar com os camponeses rompendo cercas e erguendo suas ferramentas de trabalho? Como não sorrir diante dos Sem Terrinha estudando, como não chorar diante dos mártires caídos? O livro Terra, cujas imagens rodaram o mundo divulgando a realidade do campo brasileiro, conta ainda com o prefácio de José Saramago, e com um CD de Chico Buarque. O livro foi lançado em 1997, e financiou a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes, principal centro de formação do MST.
Nesta sexta-feira, as imagens foram mais uma vez reunidas para uma exposição. Moradores da cidade de Colônia, na Alemanha, terão a oportunidade de vivenciar a realidade Sem Terra pela fotos de Sebastião Salgado até o dia 15 de junho, na galeria Labor. Constanze Lemmerich, coordenadora do projeto Direitos Humanos no Brasil, explica que desde outubro de 2014, o enfoque temático da organização é o direito à terra, no marco dos 30 anos do MST.
“Primeiro organizamos o evento “Ditadura Nunca Mais”, com filmes e debates sobre a ditadura militar no Brasil. Agora, durante a exposição Terra, teremos workshops, filmes, debates e programas de rádio sobre o tema. Vamos publicar um dossiê sobre o assunto em colobaracão com a revista ILA para informar também por aqui sobre o tema”, disse Constanze.
A abertura contou com a presença do militante do MST Alan Tygel, que falou sobre o significado das fotos para o movimento e para a luta pela terra no Brasil:
“Mais do que o registro de um momento, de um local, estas fotos representam a realidade da questão agrária em todo o país. A realizaçao desta exposição é muito importante, pois sabemos a Reforma de Agrária Popular não será feita somente pelos camponeses. O internacionalismo é fundamental para alcançarmos a justiça social”, disse o militante.
O projeto Direitos Humanos no Brasil se localiza na Allerwelthaus Köln – Casa de Todo o Mundo – fundada nos
anos 1980 por representantes de movimentos ambientalistas, pacifistas, anti-racistas, e por grupos de solidariedade à América Latina. A casa também é um lugar de encontro para grupos e iniciativas culturais e políticas de imigrantes de países da África, Ásia, América Latina, e também da Palestina. A casa tem ainda como parceiros a KoBra – Kooperation Brasilien, FIAN, Anistia Internacional e os Amigos do MST na Alemanha.
Até o final da exposição serão exibidos filmes como O Veneno Está na Mesa 2, Terra para Rose e o Sonho de Rose, além do documentário sobre Sebastião Salgado, O Sal da Terra. Mais informações aqui.
Devido à gravidade que afeta o país e a classe trabalhadora, desde que a Petrobrás passou a ser atacada por setores da sociedade que se opõe ao governo e, que apoiados pela mídia golpista, ameaçam o Brasil com a desestabilização da ordem democrática, a FUP junto a CUT, realizará um grande ato que dará inicio à campanha em defesa da Petrobrás e do Brasil.
O ato será no dia 24 de fevereiro, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde será lançado o manifesto em Defesa da Petrobrás e do Brasil, com a presença de movimentos sociais, sindicais, artistas e intelectuais que, na atual conjuntura, mais uma vez vão se unir para defender o interesse de milhões de trabalhadores brasileiros.
A Petrobrás é nossa, pertence ao povo brasileiro. Foi conquistada na luta e será defendida na luta. Jamais aceitaremos sua privatização. Seus recursos devem ser aplicados no desenvolvimento do país, em especial na educação. Corrupção se combate com Reforma Política e esta se faz através de uma Constituinte Exclusiva e Soberana em relação ao poder econômico, aos partidos e ao governo. Todos à luta!
A categoria petroleira de todo país está de luto e em luta pela vida. Durante 24 horas vão se mobilizar para mostrar sua insatisfação com as mortes que estão acontecendo no sistema Petrobrás, em especial a que vitimou cinco trabalhadores que estavam a bordo do FPSP São Matheus, no Espírito Santo.
Na Bacia de Campos, acontece uma paralisação de PT por 24 horas. A zero hora de hoje, 13, algumas plataformas deflagraram o movimento e outras estão realizando assembleias de adesão agora pela manhã.
Mais uma vez o setor petróleo expõe de modo trágico as consequencias de opções gerenciais equivocadas. A explosão do FPSO Cidade de São Mateus, na costa do Espírito Santo, no último dia 11, que deixou mortos, feridos e desaparecidos, é a evidência dos riscos da acentuação de uma política de terceirização e de descaso com a vida dos trabalhadores.
O Sindipetro-NF tem denunciado recorrentemente o crescimento da terceirização na Petrobrás. Mesmo com o crescimento da contratação direta da mão de obra, com a retomada recente dos concursos públicos para a empresa, a relação entre próprios e terceirizados ainda é alarmante: são cerca de 86 mil empregados diretos da Petrobrás, para aproximadamente 300 mil indiretos.
Somado a isso, a política de afretamento, quando a Petrobrás contrata um navio e toda uma tripulação para operar em seu lugar na atividade fim (produção de óleo e gás), e mantém, quando muito, um empregado próprio na fiscalização, foi crescente nos últimos anos e o Sindipetro-NF tem informações de que a empresa tem planos de ampliá-la também na Bacia de Campos — substituindo plataformas próprias por navios afretados.
O Sindipetro-NF vai programar a partir de amanhã nos jornais da região a publicação de manifesto com o posicionamento da entidade em relação a mais esta tragédia no setor petróleo. Confira abaixo a íntegra do documento:
MANIFESTO DO SINDIPETRO-NF
Tragédia no ES expõe terceirização assassina
Mais uma vez o setor petróleo expõe de modo trágico as consequencias de opções gerenciais equivocadas. A explosão do FPSO Cidade de São Mateus, na costa do Espírito Santo, no último dia 11, que deixou mortos, feridos e desaparecidos, é a evidência dos riscos da acentuação de uma política de terceirização e de descaso com a vida dos trabalhadores.
O Sindipetro-NF tem denunciado recorrentemente o crescimento da terceirização na Petrobrás. Mesmo com o crescimento da contratação direta da mão de obra, com a retomada recente dos concursos públicos para a empresa, a relação entre próprios e terceirizados ainda é alarmante: são cerca de 86 mil empregados diretos da Petrobrás, para aproximadamente 300 mil indiretos.
Somado a isso, a política de afretamento, quando a Petrobrás contrata um navio e toda uma tripulação para operar em seu lugar na atividade fim (produção de óleo e gás), e mantém, quando muito, um empregado próprio na fiscalização, foi crescente nos últimos anos e o Sindipetro-NF tem informações de que a empresa tem planos de ampliá-la também na Bacia de Campos — substituindo plataformas próprias por navios afretados.
Evidente que acidentes também ocorrem em unidades próprias e atingem empregados diretos da Petrobrás, como ocorreu em 2001 com os 11 mortos da plataforma P-36, mas a vulnerabilidade que envolve a terceirização eleva em muito o risco e os dados assim o demonstram. Desde 1995, ainda não contabilizados os mortos da atual tragédia do Espírito Santo, 344 petroleiros morreram em razão de acidentes nas instalações da Petrobrás, destes, 64 eram próprios e 280 terceirizados.
Neste sentido, o Sindipetro-NF alerta que está em curso a retomada de uma investida política do patronato, no Congresso Nacional, pela flexibilização ainda mais acentuada das regras para a terceirização. É o que prevê o Projeto de Lei 4330, que acaba de ser desarquivado pela nova mesa diretora da Câmara Federal, e poderá ir a plenário a qualquer momento.
Caso aprovado, este projeto amplia quase ao nível do desregramento a possibilidade de terceirizar qualquer atividade, inclusive no setor petróleo.
Os sindicatos e os movimentos sociais não vão admitir que as vidas dos trabalhadores continuem a ser tratadas como detalhes diante da exploração voraz e do lucro fácil.
Em nome dos mortos no Espírito Santo. Em nome dos mortos na Bacia de Campos. E para que novas vidas não sejam perdidas em decorrência da estupidez e da ganância, o Sindipetro-NF chama a todos a se manterem em alerta e a exercerem pressão sobre o Congresso Nacional.
No dia 24 de fevereiro, às 18h, a Federação Única dos Petroleiros e sindicatos filiados vão promover ato nacional em defesa da Petrobrás e do Brasil, na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro.
Petroleiros em Luto, mas sempre na luta. Basta de mortes na indústria do petróleo.