terça-feira 28 dezembro 2010 - Filed under Boletins
Boletim do MST RIO — Nº 10 — De 28/12/2010 a 11/01/2011
Editorial
Companheiras e companheiros,
Ao final de mais um ano de lutas, o Boletim do MST Rio traz nesta edição um breve balanço de 2010 e as perspectivas para reforma agrária e movimentos sociais em 2011.
Gostaríamos de agradecer a tod@s @s leitor@s do nosso Boletim, que chega ao fim do seu primeiro ano na décima edição. Nosso objetivo é lançar sempre uma edição a cada 15 dias, e nos esforçaremos para tal. Para isso, contamos com a participação d@s leitor@s, militantes e amig@s do MST Rio. Seja repassando o boletim, fazendo sugestões pelo e-mail boletimmstrj@gmail.com, ou comentários, sua ajuda é essencial.
Noticiamos ao longo dos últimos 8 meses o trabalho escravo, os despejos, a violência policial, o avanço dos agro- tóxicos e negócios, os crimes ambientais e os efeitos das mudanças climáticas.
No entanto, um olhar mais otimista revela que o ano de 2010 trouxe também boas notícias: Feiras de Reforma Agrária (Campos e Rio), Campanha pelo Limite de Propriedade da Terra, parceria com universidades em cursos de graduação e projetos de extensão, a cooperação internacional com Haiti e Palestina, novas ocupações, a cultura nos assentamentos, intercâmbios e o Estágio Interdisciplinar de Vivência.
Portanto, mais do que um feliz natal e próspero ano novo, desejamos um ano de 2011 de avanços na organização e na unidade da classe trabalhadora.
14 ª Encontro Estadual de Militantes do MST/RJ
Nos dias 17, 18 e 19 de dezembro estiveram reunidos no Assentamento Vida Nova, em Barra do Piraí, a militância do MST do estado do Rio de Janeiro, realizando seu 14ª Encontro Estadual, para avaliar o ano de 2010 e debater perspectivas para o ano de 2011.
As regiões Norte, Lagos, Baixada e sul Fluminense se fizeram presentes com suas místicas, animação, e muitas avaliações sobre este período.
O Encontro trouxe a reflexão sobre a organização no campo no Brasil e no estado do Rio de janeiro, o agronegócio e o balanço da Reforma Agrária. Trouxe debate sobre a organização doa assentamentos nos aspectos produtivos, econômicos, sociais e políticos e o planejamento das lutas para próximo período.
NEARA realiza Seminário de Questão Agrária na UFRRJ
Nos dias 17, 18 e 19 de Dezembro, aconteceu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro um Seminário organizado pelo NEARA (Núcleo Estudantil de Apoio à Reforma Agrária), que contou com a participação de mais de 80 estudantes de universidades públicas e privadas do Rio de Janeiro.
Esta atividade faz parte do processo de formação política que culmina no Estágio Interdisciplinar de Vivência em áreas de Reforma Agrária (EIV-RJ), onde a proposta é debater o modelo de sociedade em que estamos inseridos a partir do foco na Questão Agrária, no papel da Universidade e do Estado, e vivenciar a realidade dos assentamentos e acampamentos do MST no estado do Rio de Janeiro. A perspectiva é entender e sentir como a estrutura do capitalismo estabelece uma sociedade injusta e desumana, quais os pilares que a sustentam, o papel dos Movimentos Sociais Populares e onde nós, estudantes, nos inserimos, partindo do principio que queremos transformá-la.
Natal Com Teto reúne militantes em protesto pela moradia no Rio
Na luta pela moradia no Rio de Janeiro, o Natal deste ano foi celebrado mais cedo. No dia 21 de dezembro, o ato Natal Com Teto lembrou que, numa época em que todos estão em suas casas trocando presentes com a família, milhares de pessoas na cidade maravilhosa não têm uma moradia digna para fazer o mesmo. Abandonados nas ruas, estes cidadãos sofrem ainda com maus tratos e truculência dos governos que deveriam protegê-los e oferecer uma moradia, respeitando o artigo 6o da Constituição Federal.
A concentração para o ato começou às 16h, em frente ao número 234 da Av. Mem de Sá, no centro do Rio. O local havia sido palco de um violento despejo uma semana antes, no dia 13 de dezembro, quando 7 militantes foram presos, muitos levaram tiros de bala borracha e a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo dentro do prédio, onde se encontravam famílias com crianças e mulheres grávidas. O ato, portanto, era também um protesto contra todas as arbitrariedades e irregularidades cometidas pelos policiais nesse dia.
Sem-tetos são despejados violentamente do prédio do INSS
Cerca de 50 famílias foram brutalmente despejadas na segunda-feira (dia 13) depois de tentarem ocupar um prédio do INSS vazio há 20 anos. A ocupação que seria denominada Guerreiro Urbano não teve muito tempo para se estabelecer dentro do prédio. O Batalhão de Choque da Polícia Militar e a Polícia Federal chegaram ao prédio localizado na Av. Mem de Sá (n° 234), no centro do Rio de Janeiro, e efetuaram conjuntamente uma operação extremamente violenta de despejo sem ao menos ter a reintegração de posse.
Essas mesmas famílias já haviam sofrido um desalojo violento, há um mês, em outro prédio do INSS, vazio há mais de dez anos, no bairro do Santo Cristo.
Sprays de pimentas foram utilizados sem limite algum, atingindo uma mulher grávida que se encontrava dentro do prédio, crianças, militantes que prestavam apoio aos sem-tetos, uma defensora pública que se encontrava no local, um vereador e quem mais tentasse impedir que os policiais agissem de forma excessivamente truculenta. Alguns sem-tetos relatam que os policiais chegaram a jogar sprays de pimenta dentro da comida que estava sendo preparada para o almoço.
Álvaro Garcia Linera, vice-presidente boliviano, é homenageado no Rio de Janeiro com a Ordem Latinoamericana
O vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera, esteve na cidade do Rio de Janeiro no dia 13 dezembro para ser homenageado com a Ordem Latinoamericana, concedida pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO), e para lançar seu novo livro A Potência Plebéia, publicado pela editora Boitempo.
Quem pode ir ao evento realizado no auditório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) presenciou não só o sociólogo Emir Sader e o diretor da FLACSO Pablo Gentilli entregando o prêmio à Linera, como também teve a oportunidade de assisti-lo proferindo durante duas horas uma conferência maravilhosamente empolgante, onde foram abordadas diversas questões relacionadas ao seu livro.
Manifestação Pública de Organizações de Direitos Humanos sobre os acontecimentos no Alemão e na Vila Cruzeiro
Há três semanas, as favelas do Alemão e da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, se tornaram o palco de uma suposta “guerra” entre as forças do “bem” e do “mal”. A “vitória” propagada de forma irresponsável pelas autoridades – e amplificada por quase todos os grandes meios de imprensa – ignora um cenário complexo e esconde esquemas de corrupção e graves violações de direitos que estão acontecendo nas comunidades ocupadas pelas forças policiais e militares. Mais que isso, esta perspectiva rasa – que vende falsas “soluções” para os problemas de segurança pública no país – exclui do debate pontos centrais que inevitavelmente apontam para a necessidade de profundas reformas institucionais.
Desde o dia 28 de novembro, organizações da sociedade civil realizaram visitas às comunidades do Alemão e da Vila Cruzeiro, onde se depararam com uma realidade bastante diferente daquela retratada nas manchetes de jornal. Foram ouvidos relatos que denunciam crimes e abusos cometidos por equipes policiais. São casos concretos de tortura, ameaça de morte, invasão de domicílio, injúria, corrupção, roubo, extorsão e humilhação. As organizações ouviram também relatos que apontam para casos de execução não registrados, ocultação de cadáveres e desaparecimento.
Campanha da Via Campesina Contra os Agrotóxicos
Os prejuízos causados à saúde com a utilização exagerada de agrotóxicos ainda são desconhecidos pela maioria da população e pouco discutidos pela sociedade. Por isso, mais de 20 entidades lançaram a Campanha Nacional contra o uso dos agrotóxicos.
A iniciativa teve como início o seminário contra o uso dos agrotóxicos, organizado pela Via Campesina, em parceria com a Fiocruz e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, realizado em setembro, na ENFF. Na atividade os participantes fizeram um estudo sobre os impactos dos agrotóxicos na economia agrícola nacional, na saúde pública e no ambiente.
A partir dessas discussões, a campanha tirou como eixos de atuação informar a sociedade sobre os efeitos da utilização desse “agroveneno” e apresentar uma nova proposta para a agricultura.
Roseli de Sousa, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina, afirma que a meta da campanha é “denunciar esse modelo de produção agrícola, as causas desse veneno e alertar sobre quantas pessoas hoje estão doentes, sobretudo, com câncer, em função do uso desses venenos”.
Dicas
Agenda do MST 2011
A Agenda do MST 2011 busca resgatar e valorizar as experiências e práticas de solidariedade que nos permitiram sobreviver à ofensiva das forças imperialistas, nos fortaleceram nas lutas, evidenciaram a multiplicidade de nossas capacidades e nos proporcionaram conquistas e vitórias que resultaram em condições mais dignas de vida, nos tornaram mais humanos e solidários.
O tema da agenda é a Solidariedade dos Povos, que aparece nas áreas da educação, saúde, cultura, nas lutas populares, na aliança campo e cidade, enfim, em todas as frentes de luta contra opressão capitalista.
A agenda custa R$15 e pode ser obtida no escritório do MST: R. Pedro I, 7/803 – Tel.: 2240 8496, ou pelo site: http://www.mst.org.br/loja/agenda-do-mst-2011.
Auto de Natal
de Miguel Lanzellotti Baldez
Natal e Direitos Humanos, universalmente celebrados, não tem qualquer significação para os governos do Estado e do Município do Rio de Janeiro. Inclua-se a União Federal, aqui representada por importantes figuras do partido dos trabalhadores, ora servindo com afinco e gosto às administrações de Sergio Cabral e Eduardo Paes. É dezembro, senhores, mês em que, tradicionalmente, se festeja, ano a ano, o natal, tanto os de fé religiosa, como estes que, não sendo religiosos veem em Deus a grande utopia do homem comprometido com a vida. Mas, ao falar de utopia, a mim me lembra o grande José Saramago, quando, no Foro Social Mundial de Porto Alegre, disse que a utopia começa hoje com práticas transformadoras desta sociedade injusta. Mas não é só o nascimento de Jesus o que se guarda e comemora em dezembro. Entre sinos e papais noeis de aluguel, um consumismo de espetáculo apaga da lembrança do povo trabalhador a data também universal consagrada à Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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2010-12-28 » alantygel