resultado da organização coletiva, mais de 300 famílias sonham com a conquista da terra.
Por Pablo Vergara e Camilla Shaw Coletivo de Comunicação MST-RJ
Da Página do MST
Em uma quinta-feira, 24 de junho, centenas de famílias Sem Terras ocuparam a fazenda Cambahyba, formando o Acampamento Cícero Guedes, com um mês de resistência a ocupação já teve sua primeira grande vitória conseguindo efetivar a imissão de posse das terras da antiga Usina de Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, concedida pela Justiça Federal ao INCRA.
O Acampamento Cícero Guedes é resultado da organização coletiva das famílias que se organizam em núcleos de bases e seus setores, com mais de 300 famílias que construíram seus barracos, uma cozinha coletiva que oferece quatro refeições diárias, com café da manhã, almoço, janta e lanches reforçados, uma farmácia coletiva garante proteção e cuidados a todas pessoas e assegura os protocolos necessários para a prevenção da transmissão do coronavírus promovendo o uso de máscaras e álcool em gel, também o setor de produção avança na implementação da horta coletiva com mudas de hortaliças agroecológicas e com um coletivo que trabalha todos os dias na sua manutenção e irrigação. A juventude do acampamento construiu uma quadra de futebol onde já teve o primeiro campeonato de futebol Cícero Guedes onde os jovens levantaram a taça!
Além de muito trabalho, o primeiro mês foi marcado por solidariedade e celebração das conquistas. No passado sábado 10 de julho, foi realizada a primeira atividade cultural do acampamento, iniciando com plantio da horta coletiva e ato político-ecumênico, com a presença de entidades religiosas de diversas religiões da região, atividade contou com uma marcha em fileira até os fornos da usina onde aconteceu o ato ecumênico em homenagem às vítimas de tortura e violência no campo e vítimas da ditadura militar, incinerados nos fornos da usina, relembrando também o assassinato covarde da Liderança Sem Terra Cícero Guedes, assassinado nas aproximações da usina em 2013. Diversas personalidades políticas também visitaram o acampamento como os deputados estaduais Flavio Serafini (PSOL/RJ) e Waldeck Carneiro (PT/RJ) e os vereadores Lindbergh Farias (PT/RJ) e Tarcísio Motta (PSOL/RJ).
O sonho no Acampamento Cícero Guedes é um sonho comum. São 300 famílias oriundas da luta pela terra e tem a convicção pela conquista do sua Terra, com o sonho de uma terra para produzir e plantar, sonho de um lar para ver a família crescer com saúde, segurança, nos 1300 hectares de terra que foram desapropriadas e hoje precisa da efetivação do projeto de assentamento, elaborado pelo Incra. Até aqui, chegaram no acampamento famílias que já passaram por diversos despejos violentos ao longo de 21 anos de luta pela terra na região de Campos dos Goytacazes, famílias de acampamentos que foram criminalizados e inclusive destruídos com retroescavadeira, arrasando com plantações, moradias de alvenaria e sonhos da terra para se viver, famílias que passaram anos embaixo da lona preta em acampamentos como: Mário Lagos, Oziel Alves, Madre Cristina, 17 de Abril e Luíz Maranhão, essa é a história cruel de violência contra o povo Sem Terra, de despejo e de uma ausência de política de reforma agrária. Foram exatamente 21 anos para a justiça decretar a imissão de posse de três fazendas, Saquarema, Flora e Cambahyba. As famílias sabem do seu direito e exigem que sejam assentadas já, pois só a luta popular e organização possibilitam a Reforma Agrária.Conheça mais sobre o Acampamento Cícero Guedes.
Farmácia Popular
Hoje os acampados contam com uma Farmácia Popular, a saúde é uns dos principais eixos na organização do acampamento, desde o dia da ocupação foi designada uma equipe para cuidar dos protocolos de segurança em combate ao Coronavírus e a farmácia além de distribuir máscaras em reuniões e assembleias, dispõe de medicamentos e cuidados para ferimentos e primeiros socorros.
Horta Coletiva e bosque Marielle Franco
O acampamento já conta com uma área preparada e cultivável de 1ha com projeção de expansão, foram 2500 mudas de hortaliças plantadas e 500 mudas de árvores frutíferas distribuídas e plantadas no Bosque Marielle Franco, a produção avança na implementação de um sistema de irrigação automática de “bailarina” e está em estruturação um viveiro para produção de novas mudas. Para Adriano Gomes Alves coordenador da Horta Coletiva e do Núcleo de base 14 “Nós estamos plantando alface, alface roxa, cebolinha, rabanetes, milho, tudo consorciado e de forma orgânica, também melancia, aipim e alguns pés de frutas” relata o agricultor.
Escola do Setor de Educação
Está sendo organizando pelo acampamento a construção de um grande barracão da educação, a estrutura oferecerá espaço para cursos de formação e de educação do campo para as crianças Sem Terras. Estão sendo recebidas doações de materiais de construção para levantar o barracão da escola do acampamento e também depósitos da conta Pix: Sjosecarlos033@gmail.com. Está programado um mutirão coletivo para a marcar o início da construção do barracão para este sábado 1/8 seguido com uma plenária da Juventude.
Confira mais imagens do Acampamento Cícero Guedes:
O processo de luta pela terra na região tem mais de 21 anos e continua sem sua efetivação para fins de reforma agrária
Na última quinta-feira (24), o MST, com cerca de 300 famílias de diversas frentes de trabalho de base, ocuparam a fazenda improdutiva Saquarema, pertencente ao Complexo de fazendas Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, após esta ser decretada oficialmente desapropriada para fins de Reforma Agrária pela justiça da 1ª Vara Federal de Campos, no dia 05 de maio junto com outras fazendas: a Flora, Saquarema e a Cambahyba pertencentes ao Complexo. Leia nota oficial aqui.
Cambahyba, Sangue, Tortura e Violencia
O processo de luta pela terra tem mais de 21 anos e continua sem sua efetivação para fins de reforma agrária. O histórico da Usina é marcado por dívidas, sangue e violência. O parque industrial da usina foi utilizado para a queima de corpos de presos políticos assassinados durante a ditadura militar, testemunhos recolhidos pela comissão da verdade ratificada por um dos mandantes e torturador. A usina também é marcada por exploração de trabalho escravo e dívidas previdenciárias. Esses elementos e uma milionária dívida com a união levaram a justiça, após 21 anos, a declarar a desapropriação das terras.
Cicero Guedes um Lutador do Povo Brasileiro
A ocupação foi nomeada de acampamento Cícero Guedes em homenagem ao dirigente do movimento na ocupação nas terras da Usina em 2012. Um ano apos a ocupação, o dirigente foi covardemente assassinado nas terra da Cambahyba. Cicero costumava agitar em voz alta “Reforma Agrária quando? JÁ!” o grito de ordem que mobilizou milhares de camponeses por seu sonho de ter acesso à terra.
Cícero é daquelas pessoas que deixaram um legado para humanidade, lutador pelos direitos humanos, o Alagoano sem terra ajudou a libertar milhares de camponeses submetidos à trabalhos análogo à escravidão nos canaviais, lutou pela educação do campo e sempre participou de diversas lutas com conjunto das categorias e sindicatos em Campos dos Goytacazes. Assim o Acampamento Cícero Guedes é construído por uma ampla diversidade de Sindicatos, organizações de direitos humanos e forças políticas que dão unidade no apoio e a resistencia do acampamento.
A vida do acampamento começa cedo e as equipes são organizadas diariamente nos setores para a divisão do trabalho a ser realizado. No primeiro dia, esforços foram concentrados para garantir a construção dos espaços coletivos, cozinha, galpão coletivo e segurança para todas as pessoas presentes.
Em seguida, os trabalhadores e as trabalhadoras iniciam as atividades na terra de produção de alimentos em conjunto ao setor de produção onde já estão iniciando o arado das áreas coletivas. As famílias vem de diferentes perfis e frentes de trabalho, processos de acampamentos e despejos forçados, alguns netos e netas de assentados pela reforma agraria e outros que passaram anos na espera da reforma agraria embaixo da “Lona preta”.
Hoje no acampamento tem famílias oriundas da Ocupação Urbana Nova Horizonte, localizada em Guarus; acampados do Madre Cristina e 17 de abril, que ficaram em Floresta, município de São Francisco de Itabapoana; famílias despejadas pelo Porto do Açu em São João da Barra; acampados do acampamento Mario Lagos; e também os acampados do Luiz Maranhão, na fazenda Cambahyba, principalmente dos bairros próximos, Martin Laje, Campo Novo, Nova Jockey e Codim.
Saúde e prevenção ao Coronavírus
No combate a proliferação contra Covid-19, o Coletivo de saúde organizou um ponto central para distribuição de máscaras e álcool. No acesso foi montada uma barreira sanitária que recebe os acampados cumprindo todos os protocolos em combate ao coronavírus, todas as pessoas que acessam acampamento tem que utilizar obrigatoriamente máscara PFF2 e passar álcool 70 nas mãos. Além disso, uma ou mais pessoas da equipe circulava no acampamento com álcool para reposição em cada área de trabalho e máscara em mãos.
Reforma Agrária uma Luta de Todes
Ester, assentada no assentamento popular Irmã Dorothy, em Quatis, deslocou-se do sul fluminense para fortalecer a construção do acampamento Cícero Guedes. A jovem afirma que “só com a reforma agrária a gente vai avançar com agroecologia, com alimentação saudável e com saúde e dignidade para toda nossa população brasileira”.
Segundo Luana Carvalho, da direção nacional do MST no RJ, “a partir da construção desse acampamento inicial a gente quer iniciar já a construção de um assentamento. Pressionar o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] pra implementar as políticas públicas da reforma agrária, regularizar essas famílias que estão ocupando.”
Matheus, militante do MST-RJ, coordenador do Armazém do Campo-RJ e filho do Cicero Guedes, defende a democratização da terra e a importância de sua função social para fins de reforma agraria popular.
De acordo com o Estatuto da Terra, o Estado é responsável em promover a Reforma Agrária se a propriedade privada não cumprir com sua função social. De acordo com o segundo artigo, isso ocorre quando: “a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem”.
A reativação do espaço físico, após a concentração das atividades no serviço de delivery pautado nos pedidos online, foi possível com o avanço da vacinação contra a covid-19 na cidade – que atingiu o percentual de 67% da população adulta imunizada com a primeira dose nesta semana.
“Cada vez mais sentimos a necessidade do retorno da loja em pleno funcionamento e que as pessoas tenham essa referência de alimentação saudável e solidariedade. Por isso também retornamos com o funcionamento da loja com as portas abertas e a possibilidade das pessoas retornarem aos poucos a frequentar o espaço”, conta Ruth Rodrigues, coordenadora política do Armazém do Campo RJ.
Mesmo com o avanço da imunização, a loja está funcionando com base nos protocolos de segurança contra a covid, como a obrigatoriedade do uso da máscara, a higienização das mãos com álcool em gel para manusear os produtos e o distanciamento entre os clientes.
Com a reabertura do espaço físico, as entregas em domicílio continuam a funcionar através de encomendas e abarcam o centro, a zona Zul, alguns bairros da zona Oeste e zona Norte da capital, além de toda a cidade de Niterói, na região metropolitana. Os pedidos podem ser feitos pelo WhatsApp e pelo novo site, inaugurado nesta semana.
O novo horário de funcionamento do Armazém do Campo RJ é de quarta a sábado, sendo que durante a semana, de quarta a sexta, o atendimento se concentra das 10h às 17h30. Já no sábado, o horário é das 10h às 15h30.
Para Ruth Rodrigues, o espaço tem o papel fundamental para criar uma ponte entre o campo e a cidade ao introduzir a discussão sobre a necessidade da reforma agrária no país, além de tornar acessível alimentos agroecológicos, não transgênicos e sem agrotóxicos para a população em geral.
“O Armazém convida todas as pessoas a se alimentarem com comida de verdade, a discutirem as pautas ambientais e também a solidariedade. Com cooperação e organização das famílias assentadas e acampadas do estado e das cooperativas nacionais além do apoio das pessoas tem sido possível estabelecer esse projeto”, conclui.
Há 25 anos o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) marca sua trajetória no Rio de Janeiro com a ocupação de terras das fazendas da falida usina Capelinha, em Conceição de Macabu. A ocupação se deu em resposta ao latifúndio improdutivo e ao massacre do Eldorado dos Carajás, onde 21 Sem Terras foram assassinados pelo governo do estado (PSDB) no Pará em abril de 1996. No ano seguinte o MST-RJ se consolidou com a ocupação da usina São João em Campos dos Goytacazes (RJ) dando origem ao assentamento Zumbi dos Palmares, onde mais de 500 famílias conquistaram sua terra para viver e produzir alimentos.
Hoje, 24 de junho de 2021, 300 famílias ocupam uma das fazendas que pertence ao Complexo de Fazendas Cambahyba, após esta ser decretada oficialmente desapropriada para fins de Reforma Agrária pela Justiça da 1ª Vara Federal de Campos no dia 5 de maio junto com outras fazendas, a Flora, Saquarema e a Cambahyba pertencentes ao Complexo.
Nasce assim o Acampamento Cícero Guedes, construído com o apoio de diversas organizações, sindicatos, entidades de Direitos Humanos, entidades religiosas, partidos políticos, movimento estudantil, movimentos sociais do município de Campos dos Goytacazes e também entidades nacionais.
As famílias que participam da ocupação são oriundas de diversos territórios de resistência da região e processos de lutas atuais e anteriores, como os agricultores de São João da Barra despejados no Porto do Açu, trabalhadores do corte de cana de Floresta, Ocupação Nova Horizonte em Guarus, Trabalhadores do bairro da Codin e do antigo acampamento Luís Maranhão.
A história da Usina Cambahyba é a expressão da formação da grande propriedade e da exploração da força de trabalho e do meio ambiente no Brasil. É uma história de violência marcada pela resistência dos trabalhadores e trabalhadoras.
Há mais de 20 anos, o MST luta pela desapropriação do Complexo Cambahyba, que desde 1998, através de decreto presidencial, foi considerada improdutiva por não cumprir sua função social.
Essas terras pertenceram ao ex-vice-governador do estado, Heli Ribeiro Gomes (1968), e a ausência de função social da terra se fazia diante da manutenção de trabalho análogo à escravidão, degradação do meio ambiente, exploração do trabalho infantil, além de acumular dívidas trabalhistas e previdenciárias milionárias com a União.
Não foram poucas as ocupações e as mobilizações para que o direito à desapropriação das terras da Cambahyba se realizasse. Foram muitos os momentos que nos levaram à praça São Salvador para que o judiciário federal finalmente reconhecesse a improdutividade e garantisse a imissão de posse ao INCRA. Exatos 21 anos de luta, de perdas, mas também de resistência e esperança de que essas terras seriam dos trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra. Por isso, ocupamos a Cambahyba! Ocupamos pela memória daqueles que foram silenciados e desaparecidos pela desumanidade do poder.
Daqueles que foram torturados, assassinados na Ditadura empresarial-militar e tiveram a conivência da Cia Usina Cambahyba permitindo que seus fornos fossem utilizados para incinerar 12 corpos de presos políticos e opositores do regime. Dentre eles, Luís Maranhão, Fernando Santa Cruz e Ana Rosa Kucinski.
Ocupamos as terras da Cambahyba para exigir justiça para Cícero Guedes, grande liderança do MST que lutou ativamente para ver o chão conquistado e as famílias trabalhadoras com melhores condições de vida. Também em homenagem à Dona Neli, Seu Toninho, Edson Nogueira, Renilda e Dona Regina que doaram suas vidas e batalhas pelo tão sonhado direito à terra, efetivação da reforma agrária e pelo fim do trabalho escravo nos latifúndios açucareiros em Campos dos Goytacazes.
Ocupamos as terras da Cambahyba para exigir democracia, terra para produzir comida saudável para todas as trabalhadoras e trabalhadores pobres do campo e da cidade que vem sofrendo as consequências da pandemia de Covid-19 negligenciada pelo governo. Ocupamos a Cambahyba cumprindo todos os protocolos de saúde porque queremos vacinas para todas, todes e todos. Reforçamos as práticas de saúde em relação ao distanciamento social, uso de máscaras e álcool em gel. Nos levantamos para denunciar o governo genocida de Jair Bolsonaro com mais de 500.000 mil mortes de brasileiras e brasileiros.
Ocupamos a Cambahyba porque ela é um patrimônio público da memória, de resistências das famílias de trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra que nada mais querem do que a efetividade da Constituição que impõe a reforma agrária para terras improdutivas.
Em nenhum momento tivemos dúvidas de que se tratava de um latifúndio improdutivo marcado pela exploração do trabalho, impactos ambientais e comprometimento com a ditadura empresarial-militar que manchou nossa história.
Nossa Luta é uma luta de todas e todos, viva o Acampamento Cícero Guedes pela vida digna, vacina no braço, comida no prato! Ditadura Nunca Mais! Fora Bolsonaro! Viva o Acampamento Cícero Guedes! A CAMBAHYBA É NOSSA!
24 de junho de 2021 Direção Estadual do MST-RJ Imprensa: 21-980948624 / 22-988315760
Pública, gratuita, de qualidade e libertadora! O episódio #8 do podcast Terra Crioula debate o projeto de educação que queremos para a classe trabalhadora. Políticas públicas, os desafios que a educação enfrenta na pandemia e a experiência do MST com o método de alfabetização cubano “Sim, eu posso” também são tratados pelas entrevistadas.
Nossas convidadas Luana Carvalho da Direção Nacional do MST e Cida Lobato do Setor de Educação do MST-RJ falam sobre a relação da luta pela terra e o direto à educação. Com participações especiais de dona Delira, assentada do PDS Osvaldo de Oliveira, e interpretação de Márcia Ramos da canção “Construtores do futuro” de Gilvan Santos.
> O podcast Terra Crioula é uma parceria do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e o Setor de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra do Rio de Janeiro (MST-RJ)
Após 15 anos de luta pela terra no Assentamento Irmã Dorothy (em Quatis/Rio de Janeiro), as famílias foram surpreendidas na manhã do dia 25 de maio, com a presença da polícia federal e técnicos do INCRA, dizendo que foram para “regularizar” situação das famílias.
É lastimável que a Superintendência do INCRA do Rio de Janeiro tente intimidar as famílias de trabalhadores rurais com o uso da força policial, que andaram pelo assentamento sem nenhuma máscara de proteção, impondo o risco às famílias, muitas ainda sem terem sido vacinadas.
O INCRA está indo em cada casa entregando uma notificação sobre a ocupação da família na área, a produção, o tempo de moradia e fazendo uma entrevista com perguntas absurdas como “se a pessoa é militante do MST ou não”.
Trata-se de uma tentativa de intimidação que acontece no momento em que as famílias estavam discutindo com o órgão responsável pela implementação da Reforma Agrária o uso do edital para seleção dos futuros beneficiários da área, especialmente porque se o INCRA quisesse poderia ter assentado todas as famílias desde 2015 quando foi emitido na posse por decisão judicial.
Isso não ocorreu até o momento pelo descompromisso do INCRA com a reforma agrária e agora tenta criminalizar essas famílias cuja luta legitima permitiu a conquista dessa terra. Isto porque o INCRA não reconhece as famílias que estão na área há 15 anos e vem produzindo uma série de conflitos e tensões na área, gestando maior vulnerabilidade para as famílias, que há tanto já resistem diante da falta de política pública de desenvolvimento da Reforma Agrária, fato que se agravou diante do ataque imposto pelo atual governo federal.
A Reforma Agrária não pode ser caso de polícia, mais sim de política pública, como manda a Constituição, que seja capaz de trazer desenvolvimento com dignidade e segurança para as famílias que lutam para conquistar seu pedaço de terra, lutam para que a reforma agrária saia do papel, e garanta que “a justiça e a igualdade Sejam mais que palavras de ocasião, É preciso um novo tempo em que não seja só promessa Repartir até o pão”
Assinado Direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio de Janeiro / #AssentamentoIrmãDorothyFica #IrmãDorothyRJ #LutaDorothy #DespejoZero #DespejoNaPandemiaéCrime
Neste mês, o MST completa 25 anos de trajetória no Rio de Janeiro com a chegada do Movimento na articulação da ocupação da Fazenda Capelinha em abril de 1996. No ano seguinte, o MST-RJ se consolida com a ocupação do Assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes.
O episódio #7 do podcast Terra Crioula resgata os processos históricos de luta do Movimento no Rio de Janeiro ao longo de 25 anos! Nossas convidadas são Dona Gininha do Setor de Educação e Marina dos Santos da Direção Nacional do MST.
> O podcast Terra Crioula é uma parceria do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e o Setor de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra do Rio de Janeiro (MST-RJ)
A proposta da Reforma Agrária Popular também envolve a defesa e o cuidado com o meio ambiente, as florestas e as águas, e foi seguindo essa concepção que no dia 26/04 foi organizada uma Caminhada Agroecológica no Assentamento Irmã Dorothy, em Quatis.
A caminhada contou com a participação de membros da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Quatis, a atividade foi motivada pelo III Congresso Eucarístico Diocesano, que se realizará em junho próximo, o Congresso Eucarístico é uma das atividades em comemoração aos 100 anos da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda. Durante o Congresso, haverá diversas atividades nas Paróquias e uma delas é o dia do cuidado com a casa comum, quando será organizada uma atividade maior no assentamento com trilhas agroecológicas e plantio de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica em áreas de proteção permanente do assentamento.
A atividade iniciou com a partilha de um café da manhã, depois famílias do assentamento e membros da Paróquia seguiram para a caminhada na Estrada das Juçaras, fazendo o reconhecimento das árvores, nascentes e do bioma local, em uma troca de conhecimentos entre os presentes. E para finalizar realizaram um delicioso almoço coletivo. Essa atividade também dialoga com o Plano Nacional do MST “Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis”, uma campanha em todos os estados encontra o movimento para o plantio de 100 milhões de mudas em 10 anos.
Somente com a auto-organização dos territórios pelo povo que ali vive, trabalha e produz alimentos que se pode garantir a defesa dos bens naturais e do meio ambiente contra o projeto de morte do capitalismo e do agronegócio. E mais uma vez as famílias do Assentamento Irmã Dorothy seguem na luta pela Reforma Agrária Popular e garantindo a função social das terras que anteriormente estavam ociosas. Lutar, Construir reforma Agrária Popular!
São seis meses de ocupação, mas muitas histórias de resistência que as famílias do Acampamento Cícero Guedes podem contar. A ocupação foi a forma que tivemos para forçar o INCRA a ser imitido na posse e com isso iniciar o processo de regularização fundiária.
Junto com a decisão da imissão ao INCRA, o juízo federal de Campos também decidiu pela permanência das famílias na pequena porção determinando que a autarquia faça mediação e evite o uso da violência criando um assentamento provisório. E esse assentamento é o que criamos no Acampamento Cícero Guedes, com as famílias produzindo, com a criação da escola, um espaço de troca de saberes.
Infelizmente, o INCRA ainda não se predispôs a estabelecer a mesa de negociação com os dois lados de famílias que almejam se tornarem beneficiárias da reforma agrária. Essa omissão por parte do INCRA, que deveria ter o papel de mediação, de impedir conflitos, acaba por gestar acirramentos, especialmente, naqueles que não compreendendo o que é terra para reforma agrária, acredita que podem ter um lote apenas para arrendar e especular.
Nós, famílias do Acampamento Cícero Guedes, sabemos que a terra obtida para reforma agrária é para produzir alimentos, é para garantir o sustento das muitas famílias de trabalhadores rurais que sabem da importância que é ter uma produção diversificada e sem agrotóxicos. Esse era o projeto de vida do companheiro Cícero Guedes.
A omissão do INCRA vem despertando a cobiça dos que acreditam que podem ameaçar,, intimidar e expulsar os trabalhadores sem terra do Acampamento Cícero Guedes, como se a terra lhes pertencessem porque estão “armados” da confiança na iniquidade e na omissão do INCRA.
Mas nossa legitimidade é reconhecida por uma série de parceiros que já passaram pelo Acampamento, desde integrantes do sistema de justiça, passando pelo legislativo, e o próprio Prefeito esteve em nossa área e viu a capacidade de trabalhar a terra que temos!
O reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) esteve no dia 20/12 no acampamento Cícero Guedes para esclarecer os trabalhadores e trabalhadoras de que o acordo de cooperação da instituição de ensino superior pública com o INCRA já foi efetivado e agora estão principiando os estudos para dar prosseguimento ao processo de criação do PA.
Para o Reitor da UENF esse processo vai envolver a participação de todas e todos, colocando a universidade a serviço dos trabalhadores e trabalhadoras, fazendo cumprir a função social de uma Universidade Pública!
Para ele, as famílias Sem Terra devem se manter tranquilas na área ocupada pelo acampamento Cícero Guedes. “O inimigo não é quem está aqui dentro ou lá fora, é quem está tentando criar essa briga”, destacou Raul que chamou a atenção para permanência das famílias na luta
A Deputada estadual Renata Souza, presidente da Comissão Especial de Combate à Miséria e à Pobreza Extrema da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que acompanha a situação das famílias Sem Terra do acampamento Cícero Guedes cobra agilidade do INCRA para resolver a situação dos trabalhadores e trabalhadoras com transparência e responsabilidade no cumprimento de suas atribuições.
“O Incra deveria se preocupar em fazer a Reforma Agrária e não ser um agente causador de conflitos. Presenciei uma entrada autoritária e intimidatória do Incra no acampamento em Campos, na Cambahyba, e sugeri uma mesa de negociações entre o Incra e o MST. Após o fato, ainda realizei uma audiência política na Alerj, mas o superintendente ignorou todas as tentativas de resolução e não foi à audiência. Não é razoável que enquanto o povo passa fome, os trabalhadores rurais sejam impedidos de acessar suas terras e produzir alimentos”. Pontuou a presidente da comissão da Alerj.
No último dia 09/12 as famílias do MST do assentamento Irmã Dorothy realizaram, junto aos demais assentamentos da Regional sul fluminense, o primeiro seminário sobre o sistema produtivo do café, contando com a contribuição da parceira do MST Renata Brito, que é agrônoma, especialista nas áreas de cafeicultura e sementes.
O seminário iniciou abordando um entendimento geral sobre esta cultura e aprofundando em futuras perspectivas de plantios e beneficiamentos individuais e coletivos com manejo agroecológico. Em seu plano de trabalho o Movimento segue na perspectiva de aprofundar também nos conhecimentos técnicos já no campo, e organizando visitas com as famílias interessadas na frente de produção junto a experiências consolidadas no estado e arredores. Assim, conseguindo avançar coletivamente no preparo das áreas de produção, a escolha e compra das variedades de café, manejo e seu beneficiamento.
Busca-se também construir caminhos de uma retomada do café na região do Médio Paraíba do Sul a partir da ótica da produção camponesa agroecológica e não mais guiada pelos barões do café escravagistas ou empresários. Esta ação dialoga também com outras frentes do movimento na região no sentido da territorialização da agroecologia e na auto-organização produtiva de suas famílias acampadas e assentadas.
Nessa perspectiva, também se elaborou um plano de trabalho junto a Secretaria de Agricultura do Estado, onde atua o técnico Leandro Machado, que é parceiro do MST, especialista em bananicultura e que atua com a perspectiva da sanidade vegetal. Inicialmente também foi realizado um seminário sobre a cultura da banana e suas características gerais, envolvendo a preparação da área, escolha das variedades para a região, manejo do solo, tratos culturais, consórcios com outras espécies, arranjos e sistemas mais complexos. Assim como colheita, beneficiamento e comercialização.
A banana foi o primeiro eixo trabalhado por possuir um enorme potencial para se iniciar sistemas agrícolas, favorecendo nas questões de adubação, consórcio com espécies afins e a implementação de agroflorestas na região. Como primeira ação foi feita uma compra coletiva de variedades de mudas resistentes a algumas doenças da banana, principalmente a sigatoka-negra, sigatoka-amarela e o mal-do-panamá. E visando também a comercialização focada no PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e outros mercados institucionais, com a variedade Prata e outras.
Nesse sentido, a Região Sul Fluminense encaminhou alguns eixos de trabalho no último período, no sentido de focar em três sistemas produtivos estratégicos que são a olericultura, a bananicultura e o café.
No momento a região está elaborando um plano de trabalho e organizando grupos de famílias para estruturar jardins clonais, como áreas de reprodução das mudas adquiridas, para em seguida se implementar sistemais maiores e mais complexos nos lotes das famílias. Para isso foram organizados subgrupos das famílias para se fazer um acompanhamento e um diagnóstico participativo do território tendo como base os princípios do método Camponês a Camponês. E em seguida, no próximo período, ser montado um programa de trabalho para a organização regional em 2022.
As ações partiram inicialmente do território do assentamento Irmã Dorothy – contribuindo também para a resistência contra os recentes ataques do INCRA que não reconhece as famílias que legitimamente vivem nesta terra – e têm perspectiva de avançar na região para os assentamentos Terra da Paz, Roseli Nunes e Vida Nova.
Para o ano que vem a perspectiva também é de elaborar um programa de trabalho, com apoio dos técnicos parceiros, organizando as famílias para uma compra coletiva de sementes e a construção de um viveiro. Assim como o acompanhamento mais sistemático nas unidades de produção. Pensando também no avanço do estudo do sistema produtivo e um planejamento de curto, médio e longo prazo com objetivo no beneficiamento, agroindustrialização e comercialização. Garantindo assim qualidade de produção e auto-organização territorial.
É importante dizer que estas ações dialogam também com o plano nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que o MST vem trabalhando em todo o país com o objetivo de plantar 100 milhões de árvores ao longo de 10 anos. No Rio de Janeiro o movimento tem a perspectiva de organizar os sistemas de produção em suas regionais, acumulando para estruturar os assentamentos da Reforma Agrária Popular.
Defendemos estas ações como o fortalecimento do cuidado da natureza e da luta pela conservação dos bens naturais e pela vida. Em oposição às políticas de morte do agronegócio e do governo Bolsonaro, que promove a devastação ambiental, a exploração e expulsão dos povos e comunidades que vivem no campo e florestas. Diante da guerra que o capitalismo impõe contra os e as trabalhadoras, é necessário avançar na auto-organizalção dos territórios, garantindo água, sementes crioulas, agroflorestas, produção de alimentos saudáveis, geração de energia. Com auto-sustentação econômica e organizativa das mulheres, jovens e comunidades para resistir e avançar rumo a uma sociedade mais justa e igual.
Terra para quem nela vive e trabalha! Lutar, construir reforma agrária popular!